O relatório global do Worlds of Journalism Study 3 (WJS3), considerado o maior e mais abrangente estudo internacional sobre práticas, valores e condições de trabalho no jornalismo, foi lançado no mês passado. A pesquisa, conduzida entre 2021 e 2025, envolveu mais de 32 mil jornalistas em 75 países e reuniu mais de 300 pesquisadores.
O Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFSM (POSCOM) está diretamente representado na investigação por meio da professora Laura Storch, docente do programa e coordenadora do EJOR – Grupo de Estudos sobre Jornalismo. Ela é coordenadora nacional do WJS3, ao lado do professor Marcos Paulo da Silva (UFMS), e integra o grupo internacional de autores do capítulo dedicado aos papéis profissionais no jornalismo.
Pressões globais e riscos crescentes à profissão
O novo relatório aponta que jornalistas em todo o mundo enfrentam um cenário marcado por intensificação de riscos (físicos, psicológicos e digitais). A violência, a vigilância online, o assédio e a precarização das condições de trabalho se tornaram elementos estruturantes de muitas rotinas profissionais, especialmente no Sul Global.
A pesquisa evidencia ainda o avanço da autocensura: mais da metade dos jornalistas entrevistados admite evitar temas ou fontes por medo de retaliações. Esse comportamento está presente tanto em contextos autoritários quanto em democracias submetidas à polarização e campanhas de desinformação.
Como jornalistas definem seu papel social
O relatório global analisa também como os profissionais percebem sua função na sociedade. As concepções são agrupadas em quatro perfis: fiscalizador, colaborativo, intervencionista e adaptativo, que se distribuem de forma distinta conforme o contexto político.
No Brasil, os dados revelam forte compromisso com funções de interesse público, como combater a desinformação, revelar problemas sociais, fornecer informações políticas, vigiar o poder e contribuir para a paz social. Em contraste, papéis voltados ao entretenimento ou alinhamento com elites políticas têm menor relevância.
A professora Laura Storch, uma das autoras do capítulo global sobre papéis profissionais, destaca a importância de compreender essas percepções:
“Entender como os jornalistas se veem é entender como justificam suas escolhas diante do público. No Brasil, isso é ainda mais importante por estarmos em um ambiente marcado por desigualdades estruturais, polarização e expectativas sociais contraditórias.”
Inserção internacional da pesquisa em jornalismo na UFSM
A participação da docente do POSCOM reforça a presença da UFSM em redes internacionais que investigam as transformações contemporâneas do jornalismo. A atuação da professora Laura na coordenação do WJS3 e na redação do relatório contribui para ampliar o diálogo entre a produção científica brasileira e o campo global da pesquisa em jornalismo.
Segundo a professora:
“Observar o jornalismo globalmente permite enxergar tanto vulnerabilidades quanto resistências. O Brasil tem um papel central nesse panorama: sendo o maior país da América Latina, nossas experiências revelam como os jornalistas atuam em contextos de tensão democrática, desigualdade e transformação tecnológica.”
O relatório global e os resultados brasileiros podem ser consultados no site do Worlds of Journalism Study.