Aline Roes Dalmolin – Moralidades contemporâneas, fundamentalismos pós-modernos: a circulação dos discursos de ódio na mídia (em andamento desde 2015)
Descrição: A presente proposta consiste em um projeto de pesquisa científica, cujo objetivo geral envolve analisar a circulação dos discursos de ódio (hate speech) no contexto midiático, circundando os significados e sentidos em torno da moralidade (FASSIN, 2012, 2013) e dos valores contemporâneos (DUARTE, 2013). Trata-se de um estudo que busca abarcar a emergência de uma gama de fenômenos que envolvem a problemática da alteridade no contexto da midiatização (BUTLER, 2006), especialmente no que tange ao entrecruzamento entre política e religião, discurso, mídia, jornalismo e produção de subjetividade. Propõe-se a visualizar esses entrecruzamentos através da leitura de acontecimentos midiáticos (CHARAUDEAU, 2006), ocorridos nos últimos dez anos, sobretudo aqueles que atrelam os fundamentalismos religiosos a posições políticas de direita e reivindicam o “direito ao ódio” no contexto contemporâneo, ao passo que encobrem-se por princípios de “direitos”. Esses vêm a reclamar sua legitimação tanto na esfera laica quanto na religiosa, expressas através dos conceitos de liberdade de expressão e liberdade de crença. O recorte na interseção entre mídia, política e religião se dá devido ao fato de que a ideia de “self-righteousness” (HAIDT, 2012), que se dá na esfera da justificação da tomada dos discursos de ódio, conforme explicaremos adiante, pode ser melhor circundada em torno desses campos em função da contraposição entre o direito à liberdade de expressão, garantia de um Estado laico em sociedades democráticas, com a liberdade de crença e culto, objetivados pelas instituições religiosas. O corpus a ser construído engloba como a mídia estruturando suas narrativas a respeito de acontecimentos pontuais, circundantes dessa problemática, na religião e na política contemporâneas brasileiras. No âmbito da política eleitoral, emergem casos como a polêmica em torno da questão do aborto, nas eleições de 2010 e a aparição de Levy Fidelix incitando o ódio à homossexualidade na defesa de um modelo de família heteronormativo nas eleições de 2014. Na esfera jurídica e legislativa, visualizamos questões mais amplas como o debate pela união civil de homossexuais, a criminalização da homofobia e a disputa pela aprovação do estatuto do nascituro; bem como casos mais pontuais como os de Marisa Lobo, a psicóloga que luta pelo “direito” de trabalhar pela chamada “cura gay” , as polêmicas declarações homofóbicas de deputados da chamada “bancada evangélica” e a repercussão de uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em 2014, que desconsiderava a umbanda e o candomblé como religiões (MARTINO, 2014). Outro exemplo similar é o do chamado “caso Mackenzie”, como passou a ser conhecido pela mídia, no qual um chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie criticou, em 2010, o projeto de lei federal 122/2006, que trata da criminalização da homofobia alegando que este interferia na liberdade de orientação religiosa.