Ir para o conteúdo Revista Arco Ir para o menu Revista Arco Ir para a busca no site Revista Arco Ir para o rodapé Revista Arco
  • International
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

5 ações que podem ser ineficazes contra a Covid-19

Protocolos contra o vírus transmitem falsa segurança para público por algumas práticas não serem totalmente efetivas



Em meio aos avanços das pesquisas da comunidade científica internacional, surgem novas confirmações do que é – ou não – eficaz no que se refere a medidas de segurança contra a  Covid-19. Porém, ao contrário do que indicavam os órgãos especializados em saúde e ciência, entidades públicas e parte da população sugeriram uma antecipação de retorno à normalidade, como a flexibilização do comércio nos momentos em que a pandemia atingia altos índices de internados, ou a volta das aulas presenciais nas escolas. Em forma de convencimento da volta “segura” da população aos afazeres de antes da pandemia, protocolos de enfrentamento à Covid-19 foram apresentados como soluções para o período de flexibilização, mas estes nem sempre são eficazes.

Para a docente do Departamento de Saúde Coletiva da UFSM, Liane Beatriz Righi, a falta de coordenação nacional e a priorização da economia em detrimento da crise sanitária por parte do poder público impactou na qualidade do enfrentamento da pandemia: “Grande parcela dos governantes atua com a falsa segurança das extensas listas de condutas, das cores dos mapas, de normas de flexibilização sustentadas em cruzamento de algumas informações. Perdemos a possibilidade de enfrentar a crise sanitária ampliando a autonomia das pessoas”.

Iniciou-se, então, o “teatro da pandemia”, expressão utilizada pela socióloga turca Zeynep Tufekci como crítica às ações inúteis da pandemia, segundo o site El País. Nesse contexto, há uma maior preocupação em demonstrar as medidas de proteção que estão sendo tomadas do que, de fato, explicar como elas são eficazes contra o vírus – porque, justamente, algumas delas não são. 

A problemática que envolve esse tipo de protocolo é o fato de gerar uma falsa sensação de segurança. Eles transmitem a ideia de proteção para o público, ou seja, que naquele local visitado há um controle para a não entrada e disseminação do vírus, mesmo que, na realidade, as chances de contágio em decorrência dos protocolos não diminuam.

Abaixo, algumas condutas que geram essa falsa sensação de segurança, mas que são – ou podem ser – ineficazes para o controle do coronavírus:

1. Medição de termômetros infravermelhos (e suas práticas no pulso)

A prática de medir a temperatura com termômetros infravermelhos dos visitantes se tornou obrigatória em estabelecimentos com grande fluxo de pessoas, como shoppings, mercados e lojas. As verificações ocorrem na entrada dos espaços e, teoricamente, apenas poderiam entrar aqueles sem indícios de temperatura corporal acima de 37,8° C. Isso se justifica porque um dos sintomas do novo coronavírus é a febre. Então, se uma pessoa está com a temperatura mais elevada, apresentaria riscos de estar contaminada e disseminar o vírus aos que estão no local. Ou seja, a medida é tomada em prol da segurança dos presentes no estabelecimento. Mas será que ela é efetiva?

O médico epidemiologista da Vigilância em Saúde de Santa Maria e professor do Departamento de Saúde Coletiva da UFSM, Marcos Antônio de Oliveira Lobato, relata que uma série de motivos comprovam a ineficácia da prática. O primeiro é que, quando contaminadas, algumas pessoas transmitem o vírus antes dos sintomas da doença – chamadas pré-sintomáticas, que são responsáveis por 45% das transmissões da infecção do coronavírus segundo relato da médica Ana Maria Castro, exposto no site Senado Notícia. Além disso, há também os pacientes assintomáticos, que contagiam mesmo que não possuam reações ao vírus, como confirmado pela Organização Mundial da Saúde desde 2020. Ainda, pessoas com sintomas febris poderiam passar despercebidas pelos aparelhos ao utilizarem medicamentos que regulam a temperatura corporal, o que geralmente ocorre quando se busca amenizar o mal-estar provocado pela reação atípica.

Então, mesmo com essas exceções, alguém que esteja com febre em decorrência da Covid-19 e não tenha tomado medicamentos para normalizar a temperatura vai ser notificado pelo aparelho, certo? Errado! Há outra questão: o manuseio errado do termômetro infravermelho. Segundo o professor Lobato, embora haja exceções, esses aparelhos são preparados para realizar a medição na testa das pessoas e, atualmente, na maioria dos locais a ação é efetuada pelo pulso – processo muito intensificado após a disseminação de notícias falsas sobre o aparelho causar danos ao cérebro: “Se um aparelho foi projetado para medir na testa, ele não vai captar a temperatura adequada no pulso. Estudos mostram que a variação pode aumentar em um grau conforme o local que for aferido. É a diferença de 36° C para 37° C, ou 37° C para 38° C. É exatamente entre dizer se está ou não está com febre”.

Ou seja, essa utilização não agrega no controle da pandemia, já que a maioria dos casos de pessoas com Covid-19 não serão notificadas pelo aparelho e, portanto, poderão circular normalmente pelos locais, transmitindo o vírus.

2. Higiene excessiva e fumigação de espaços públicos

Outra prática que não garante eficácia contra a Covid-19 é a higiene excessiva de superfícies, bem como a fumigação de espaços. O professor Lobato explica que essas ações só fazem diferença se realizadas em locais onde haja grande circulação de coronavírus, como em alas de Covid-19 nos serviços de saúde: “As chances de o vírus estar em uma superfície e ser transmitida é muito baixa. Dependendo do local, ele perde sua capacidade de infecção em poucas horas”. No mesmo sentido, uma pesquisa europeia da cientista Teresa Moreno, do Instituto de Avaliação Ambiental e Pesquisa Hídrica, referenciada em matéria já mencionada do El País, encontrou fragmentos do vírus em superfícies do metrô e dos ônibus de Barcelona, mas estes não tinham capacidade de contágio.

Outra prática não mais entendida como eficaz é a higiene excessiva de objetos, como compras, embalagens, etc. Segundo o site GZH, um comunicado feito pela instituição americana Administração de Alimentos e Medicamentos e pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos ressaltou que as chances de contágio por Covid-19 em alimentos e suas embalagens também são mínimas. O professor Lobato ressalta que a prática não necessita mais de tamanha atenção no que tange a Covid-19, mas que a limpeza de frutas, verduras e embalagens sempre foi recomendada para evitar doenças causadas por bactérias e protozoários, por exemplo.

Entretanto, para os que preferem dar continuidade com a prática em decorrência da Covid-19, é preferível que uma atenção maior seja dada apenas a partes manuseadas dos objetos, como a alça das sacolas de compras, por exemplo. É importante também que, ao praticar essas ações, esteja-se atento ao principal problema que elas acarretam: em meio a tantas informações sobre a doença, outras condutas já comprovadas mais eficazes podem perder o destaque que deveriam ter – como uso de máscaras e de álcool em gel. Se essas ações não forem priorizadas, novamente, pode-se gerar uma falsa sensação de segurança e aumento da circulação do vírus.

3. Utilizar a máscara apenas em locais movimentados

Uma situação bem comum praticada pelas pessoas é a retirada da máscara do rosto quando estão sozinhas em locais públicos, como banheiros, elevadores, provadores. Isso acontece pela falsa ideia de que o vírus é um risco apenas através do contato com pessoas contaminadas. Na realidade, ele também circula pelo ar e pode contaminar mesmo quem está sozinho em locais fechados. O professor Lobato explica que, quando o lugar é pequeno e tem pouca circulação de ar, basta que uma pessoa infectada entre e deixe partículas do vírus no local para que a outra, assim que adentrar e retirar a máscara, contamine-se por aquele mesmo ar com gotículas expirado pela pessoa contaminada. É diferente, entretanto, de se estar em locais abertos, em que o ar circula intensamente, onde as chances de contágio ao tirar a máscara são menores. 

Deve-se atentar ao cenário em que se está: se o local é fechado, com baixa circulação de ar e baixa ventilação – mesmo que em um estabelecimento grande – ao tirar a máscara, as chances de contaminação não diminuem por não haver ninguém por perto, justamente porque o vírus já pode estar no ar:  “O vírus é carregado pelo ar e ele permanece nos ambientes no ar. É assim que a gente se contamina”, ressalta o pesquisador. Então, o recomendável é que não se tire a máscara quando sair de casa, mesmo que se esteja isolado.

4. Fazer o uso da máscara sem uma higienização correta

Pode-se pensar, então, que ao utilizar a máscara se está necessariamente protegido de contrair o vírus. Porém, mesmo que as máscaras sejam usadas para uma saída rápida, se não forem cuidadas de maneira correta, elas se tornam ineficazes para a proteção. Ainda de acordo com o professor Lobato, a utilização de uma mesma máscara diariamente e mal cuidada resulta em uma falsa sensação de segurança contra o vírus, porque estas precisam de medidas específicas de higienização para estarem ativas na proteção. O recomendado é ter várias máscaras, e as intercalar conforme ficam higienizadas.

Cada tipo de máscara possui cuidados específicos, mas, no geral, máscaras de tecido não podem estar úmidas ou sujas, nem serem guardadas para reuso sem a higienização com água e sabão, porque elas perdem a eficácia de filtragem das gotículas. Da mesma forma, máscaras como a PFF2 e KN95/N95, que possuem um tipo diferente de filtragem, não podem ser utilizadas e guardadas em ambientes fechados – elas precisam de circulação de ar e seguimento das instruções do fabricante. Ainda, máscaras descartáveis não podem em nenhuma hipótese serem utilizadas mais de uma vez. Além da ineficácia, o site Estado de Minas alerta que o mal uso pode causar outros problemas de saúde, como infecções respiratórias, dermatites e halitose.

Essas ações mal executadas levam a outro cenário, explicado pela professora Liane Righi: o uso de máscaras, embora necessário e eficaz, não garante total segurança à população, porque as pessoas se prendem na obrigatoriedade do uso e não entendem por que é necessário o uso e a higienização adequados. Logo, não os fazem. Além disso, há pouco esforço por entes governamentais em explicar tais questões à sociedade. “A vendedora da loja sem ventilação que retira a máscara para falar alto e ser ouvida pelo colega não conseguiu entender o mecanismo da transmissão. Neste contexto, o uso da máscara é mais uma encenação, um cumprimento de regras para os outros”, exemplifica. Assim, estar em um estabelecimento onde a entrada cobra o uso obrigatório de máscaras não garante seguridade contra o vírus, já que a má utilização representa mais um item do teatro da pandemia. 

5. Acreditar que o que os outros fazem não te afeta

A última questão é em relação ao enfrentamento social diante da pandemia. Infelizmente, as ações não são totalmente eficazes se cumpridas por apenas parte da população. Aqueles que seguem os protocolos garantidos pelas organizações de saúde e especialistas, se informam e contribuem em prol do fim da pandemia, não estarão seguros enquanto a outra parte da sociedade optar por ignorar as recomendações do momento atual. Máscaras, isolamento social e álcool em gel são medidas eficazes apenas se aplicadas corretamente, e atos irresponsáveis de outras pessoas (talvez contaminadas) colaboram para a diminuição da proteção. 

A professora Righi explica os motivos pelos quais as ações dos outros em uma pandemia também prejudica a saúde coletiva: “Precisamos pensar em redes, itinerários, desenhar trajetos. A pessoa que está na sala de aula usa o transporte e/ou está em contato com quem usa o transporte e que está em outra sala ou escola. Alguém da família trabalha em uma loja, entra em contato com muitas pessoas em ambiente sem ventilação”. 

Quando se trata da responsabilidade social no enfrentamento do vírus, todo cuidado é pouco. Porém, algumas ações podem gerar uma falsa sensação de segurança perigosa visto que ainda estamos em um contexto pandêmico.  Os protocolos precisam ser seguidos e as informações comprovadas por especialistas precisam seguir sendo disseminadas por entes públicos e pela mídia. 

Expediente

Repórter: Paula Appolinario, acadêmica de Jornalismo e voluntária

Ilustrador: Luiz Figueiró, acadêmico de Desenho Industrial e voluntário

Mídia Social: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Caroline de Souza, acadêmica de Jornalismo e voluntária; e Martina Pozzebon, acadêmica de Jornalismo e estagiária

Edição de Produção: Esther Klein, acadêmica de Jornalismo e bolsista

Edição Geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas

Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-601-8728

Publicações Relacionadas

Publicações Recentes