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Experiência e currículo resiliente

Projeto de extensão oferece cursos profissionalizantes a jovens carentes ou em situações de acolhimento institucional



Abandono, maus tratos e violência doméstica. Esses são alguns dos motivos pelos quais muitas crianças e adolescentes são retirados da guarda familiar e permanecem em situação de acolhimento institucional até completarem 18 anos. De acordo com dados de 2014 do Conselho Nacional de Justiça, no país 6.797 crianças e adolescentes estavam registradas no Cadastro Nacional de Adoção. Destes, 2.039 jovens eram da região Sul e 997 do Rio Grande do Sul. Frente a isso, em 2016, surge na UFSM o projeto de extensão Adote Ação Politécnico, com o objetivo de proporcionar novas oportunidades de aprendizagem para os jovens que se encontram nesta situação em Santa Maria.

Desde então, a iniciativa – que conta com o apoio do Ministério Público, do Grupo de Apoio e Incentivo à Adoção (Gaia) e do Juizado da Infância e do Adolescente – busca desenvolver a autonomia e incluir esses adolescentes em programas de qualificação profissional, bem como inserí-los no mercado de trabalho. Além disso, possibilita aos jovens o acompanhamento gratuito psicológico e odontológico.

Os jovens que fazem parte do projeto têm entre 14 a 18 anos, integram famílias com condições financeiras limitadas ou encontram-se em situação de acolhimento nas instituições parceiras, a Aldeias SOS, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Celina Moraes e a Sociedade Beneficente Lar de Mirian. Uma vez por semana, os jovens se deslocam até a UFSM para as aulas e cursos profissionalizantes. O transporte  é realizado e custeado pelo Colégio Politécnico.

Aprendizado amplo e o futuro profissional

As aulas e oficinas possuem um teor bem prático e vão desde conhecimentos de informática e topografia até o ramo da culinária. Ao final de cada curso, os alunos recebem um certificado que lhes permite criar um currículo mais denso e preparado para a entrada no mercado de trabalho.

Na adolescência, Alice* – que tem 18 anos – morava no Lar de Mirian porque tinha problemas de relacionamento com a mãe. Naquela época, ficou sabendo do Adote Ação Politécnico e resolveu participar para se distrair. Mais tarde, foi adotada por uma família e continuou frequentando semanalmente as aulas no Colégio Politécnico. Em dois anos de estudo, Alice já colecionou muitos certificados e, para ela, a variedade de assuntos possibilita que conheça melhor o ambiente universitário e possa experimentar conhecimentos de outras áreas. Ela revela o interesse despertado para a área de ciências  sociais e humanas: “Fiz a prova do Enem e estou esperando o resultado. Quero ingressar no curso de Direito ou Ciências Sociais.”

Já Lucas* tem 16 anos e mora com a família no bairro Tancredo Neves. Devido à situação financeira limitada na qual se encontram, para ele o projeto significa uma chance de conseguir condições melhores de vida: “Não é todo mundo que tem essa oportunidade na vida… Entrar no mercado de trabalho é ainda mais difícil quando se é negro.” Um dos momentos que mais lhe marcou foi uma palestra na qual aprendeu algumas técnicas de primeiros socorros, como a massagem cardíaca. Depois disso, o interesse pela área da Enfermagem foi despertado: “Quero ser um técnico em Enfermagem aqui na UFSM. Não saio daqui tão cedo”, planeja.

Direitos da Criança e do Adolescente

De acordo com a professora Denise Castiel, secretária executiva do Colégio Politécnico e coordenadora do Adote Ação Politécnico, esses jovens se encontram, até atingirem a maioridade, em situações de fragilidade social e econômica. Dessa forma, o projeto possui um caráter motivacional, uma vez que busca dar continuidade aos estudos regulares ou programas de educação de Jovens e Adultos (EJA).

A profissionalização e a proteção no trabalho são consideradas direitos do adolescente e uma fase fundamental do seu processo educativo, de acordo com o  art. 62 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Assim, o Adote Ação Politécnico se configura como uma etapa de formação de aprendizagem e profissionalização, dando a oportunidade a esses jovens para uma formação mais empreendedora e ingresso em cursos técnicos e de graduação.

Denise acredita que houve uma evolução significativa do Adote Ação nestes dois anos de existência, na parte de estruturação do currículo oferecido e, principalmente, da participação dos jovens no projeto. “Estamos lidando aqui com jovens que vêm de famílias que passam por dificuldades financeiras, moram na rua, são órfãos ou têm os pais presos. É necessário que as pessoas reconheçam a necessidade desse trabalho… Eles querem crescer, querem criar um currículo e sonhar com um futuro melhor, como qualquer outro jovem”, relata a coordenadora.

Findado o ano letivo, a coordenação se prepara para o planejamento do ano de 2019, com a entrada de novos alunos. A ideia é que, com o passar do tempo, a iniciativa seja expandida, para que jovens de outros municípios da região central do Rio Grande do Sul possam usufruir das ações do projeto.

* Nomes fictícios para preservar a identidade dos entrevistados

Reportagem: Tainara Liesenfeld, acadêmica de Jornalismo

Edição: Andressa Motter, acadêmica de Jornalismo

Fotografia: Tainara Liesenfeld, acadêmica de Jornalismo

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