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A perda dos mesopredadores afetará (ainda mais) o funcionamento dos recifes do Oceano Atlântico

Espécies marinhas têm papel fundamental no funcionamento dos recifes



Espécies marinhas são responsáveis pelo desempenho de funções ecossistêmicas, as quais são provenientes das interações entre os elementos do ecossistema que promovem a vida nos mares e oceanos. Elas também atuam no bem-estar dos seres humanos através dos serviços ecossistêmicos, principalmente quando nos alimentamos de frutos do mar e/ou praticamos uma atividade turística como uma viagem ao litoral.

Descrição da imagem: Ilustração horizontal e colorida do oceano e animais marinhos. No centro da imagem, há uma âncora cinza pendurada por uma corda preta. Na parte esquerda da imagem, um tubarão cinza azulado, uma arraia preta, uma tartaruga em tons de verde, dois peixes pequenos em tons de rosa e um tubarão menor em tom de lilás. No lado direito, quatro peixes pequenos em tons de roxo, rosa e azul. Na parte inferior, algas e recifes em tons de verde, laranja e rosa, além de uma rocha preta e garrafa de plástico rosa malva. O fundo é azul com textura de água.

Especialmente nos recifes de corais – que são sistemas biologicamente complexos com diversos organismos e suas interações –, as espécies desempenham funções desde o controle do crescimento das populações de algas, ciclo de nutrientes, produtividade, o controle da cadeia trófica (sequência de alimentação entre os seres vivos na cadeia alimentar), entre outros exemplos. Ou seja, incluem espécies que vão desde pequenos peixes herbívoros até predadores de topo da cadeia alimentar. 

 

Você sabe quais espécies apresentam um papel funcional importante para os recifes do Oceano Atlântico a ponto de causarem danos grandes para a estrutura funcional, ou seja, para o funcionamento desses recifes se forem extintas? Calma que eu já te conto!

Descrição da imagem: leão marinho no centro da imagem. Tem tons de cinza e verde marinho nas costas. Abaixo dele, inúmeros peixes pequenos em tom de cinza. Ele está no fundo do mar. A água é azul clara.
Descrição da imagem: peixe azul alongado e com corpo fino. Ele tem detalhes em tons de laranja, amarelo e verde. Ele está com a boca aberta em cima de uma rocha com musgos. As rochas ao redor do peixe são verde acinzentadas.

Apesar da necessidade de estudos sobre o funcionamento desse ecossistema que está cada vez mais ameaçado pela ação dos seres humanos, ainda existe uma lacuna científica que precisava ser preenchida: qual a importância desses organismos marinhos se considerarmos espécies de diferentes grupos taxonômicos – classificação de seres vivos com distintas formas e tamanhos – como os peixes ósseos, tubarões, raias, tartarugas e mamíferos marinhos ao mesmo tempo? O que eles fazem para promover e garantir a vida nesses ecossistemas, uma vez que os recifes abrigam a maior riqueza de espécies marinhas?

 

Meu trabalho de mestrado teve como objetivo avaliar se diferentes grupos taxonômicos de vertebrados marinhos recifais do Atlântico apresentam funções ecossistêmicas iguais como o controle trófico, ou seja, se são redundantes ou não. Da mesma forma, analisei como a diversidade funcional está distribuída nesses recifes, identificando locais com menor riqueza de espécies (e menor número de funções, é claro), e como consequência, quais são mais ameaçados. Ainda, simulei cenários futuros de extinção desses vertebrados, com base nas classificações de ameaça (Vulnerável, Em Perigo, Criticamente em Perigo) da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e assim quantifiquei o impacto de potenciais perdas de espécies na diversidade funcional.

Descrição da imagem: box horizontal e colorido. Na parte superior, sobre fundo branco e em letras pretas, o título "Diversidade funcional". Abaixo, em bloco amarelo limão, texto na cor preta, em sete linhas, o texto: "Este termo leva em consideração as diferenças morfológicas entre as espécies, ou seja, suas próprias características que determinam sua influência no ecossistema. E essas características são chamadas de atributos funcionais". O fundo é roxo.

Para isso, compilei uma lista de 224 (lindas, diferentes e muitas vezes coloridas) espécies de vertebrados recifais, sendo quatro mamíferos, cinco tartarugas, 89 tubarões e raias e 126 peixes ósseos. Nós (eu, minha orientadora Mariana Bender e os coautores) compilamos pela primeira vez seis atributos funcionais comparáveis entre os quatro distintos grupos taxonômicos: tamanho corporal máximo, profundidade máxima, grupo trófico (dieta), biomassa, formato do corpo e das nadadeiras caudais. Tais características estão relacionadas com as funções que essas espécies desempenham no ambiente recifal.

Descrição da imagem: Fotografia horizontal e colorida de uma tartaruga. Ela tem casco marrom com detalhes em verde claro. O corpo é marrom esverdeado com detalhes em preto. Os olhos são pretos e redondos. A tartaruga está de perfil sobre um chão arenoso com grama verde. O fundo é o oceano azul.
Descrição da imagem: fotografia horizontal e em tons de azul e cinza de dois tubarões grandes no fundo do mar. Em primeiro plano, um tubarão cinza escuro grande, tem olhos escuros, boca grande. Ao lado, dois peixes pequenos em cinza claro. Ao fundo, em segundo plano, outro tubarão grande em cinza escuro. Na parte inferior, recifes em verde escuro. Na parte superior, o mar, em azul escuro.
Descrição da imagem: fotografia horizontal e em tom de azul escuro, de uma arraia preta. Ela está de costas, na horizontal. Ao redor, peixes pequenos em tons de cinza. O fundo é azul escuro.

Para compreender quais são as funções dessas espécies no Atlântico, em que o Brasil está localizado, eu realizei uma busca online através do Google Acadêmico com o uso de palavras-chave como “nome da espécie + ecosystem function” e “nome da espécie + ecosystem functioning” para compilar artigos científicos com essas informações. Nessa busca eu encontrei sete funções: pressão de herbivoria, bioturbação/bioerosão, armazenamento e transporte de nutrientes, resiliência, mesopredadores, predadores de topo e regulação trófica. A função que apresenta maior número de espécies ameaçadas segundo a IUCN é a de regulação trófica (n = 50), seguida pelos predadores de topo (n = 21).

Descrição da imagem: infográfico vertical e colorido. No centro superior, sobre faixa branca, título em preto: "Funções de espécies no Atlântico". Abaixo, imagem oval amarela, com peixe e recife em branco. O título "Bioturbação/Bioerosão". Ao lado, texto em preto "Produção de sedimentos como pedaços de corais através da alimentação". Abaixo, sobre forma oval amarelo pastel, peixe e plantas brancas. Acima, o título "Resiliência", e, ao lado, o texto "Volta do Recife ao estado após um distúrbio". Abaixo, sobre forma oval laranja pastel, tubarão e fezes em branco. Acima, o título "Transporte e armazenamento de nutrientes", e, ao lado, o texto "Através da mobilidsde das espécies e dos processos fisiológicos". Abaixo, sobre forma oval salmão pastel, tartaruga e planta brancas. Acima, o título "Pressão de herbivoria", e, ao lado, o texto "Espécies herbívoras que alimentam-se de algas e gramas marinhas". Abaixo, sobre forma oval rosa claro, tubarão branco. Acima, o título "Mesopredadores", e, ao lado, o texto "Predador de porte médio que está no meio da cadeia trófica". Abaixo, sobre forma oval rosa, tubarão branco. Acima, o título "Predadores de topo", e, ao lado, "Espécies grandes que são o topo da cadeia trófica". Abaixo, sobre forma oval lilás, tubarão e peixe branco. Acima, o título "Regulação trófica", e, ao lado, o texto, "Predação de espécies que regulam a cadeia trófica marinha". O fundo é lilás.

Ainda, para entender como a riqueza funcional – riqueza de espécies e atributos – está distribuída nesses recifes, nós mapeamos (em mapa do tipo grid 4º x 4º) a distribuição de cada uma das espécies avaliadas através do uso de shapefiles que contém a sua distribuição geográfica. Como resultado, alguns locais como o Caribe, o recife mais rico e diverso do Atlântico, apresentaram maior riqueza funcional. Além disso, apesar dessas diferenças de riqueza de espécies, existe um padrão que mostra que as espécies são parecidas funcionalmente, ou seja, apresentam atributos e funções similares, como por exemplo o tamanho e forma corporal e funções como a regulação trófica e os mesopredadores, principalmente se compararmos as espécies de tubarões, raias e peixes ósseos apesar das suas diferenças taxonômicas.

 

Apesar desse padrão homogêneo nos recifes, a remoção da função dos mesopredadores (tubarões, raias e peixes ósseos de tamanho corporal maior), ou seja, um nível trófico abaixo dos predadores de topo, afetará a estrutura desses ambientes, principalmente naqueles locais com menor riqueza de espécies. A perda de riqueza na escala regional (Oceano Atlântico) poderá chegar a 40%, já na escala local do Caribe, por exemplo, será maior que 90%!

O que não é novidade para muita gente é que os animais marinhos de grande porte, como os predadores de topo (na maioria das vezes as espécies de tubarões), são ameaçados principalmente pela pesca, uma vez que a atividade pesqueira busca capturar animais maiores. E o meu trabalho mostrou que eles são realmente mais ameaçados do que os mesopredadores, porém é a remoção das espécies mesopredadoras que afetará as funções ecossistêmicas nos recifes, bem como a provisão de serviços ecossistêmicos. E esse resultado é alarmante, porque as populações dos predadores de topo já foram esgotadas, e os mesopredadores – o nosso último recurso – serão os próximos. Mas claro, a conservação e preservação dessas espécies e principalmente da riqueza funcional como um todo auxiliará na conservação dos nossos recifes!

Expediente:

Texto: Luiza Severo, Bacharel em Ciências Biológicas. Mestre em Biodiversidade Animal e Doutoranda em Biodiversidade Animal pelo Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal pela UFSM;

Design Gráfico: Luiz Figueiró. acadêmico de Desenho Industrial e bolsista;

Mídia Social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Ana Carolina Cipriani, acadêmica de Produção Editorial e bolsista; Ludmilla Naiva, acadêmica de Relações Públicas e bolsista; Alice dos Santos, acadêmica de Jornalismo e voluntária; e Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário;

Relações Públicas: Carla Isa Costa;

Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;

Edição geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas.

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