Desde 2016, a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PRPGP) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) realiza a premiação do Pesquisador Destaque UFSM. A solenidade acontece anualmente na Jornada Acadêmica Integrada (JAI) e busca homenagear professoras(es) que tenham dado significativa contribuição à pós-graduação e à pesquisa da instituição. Assim, na manhã de hoje, 7 de novembro, a abertura da 37ª JAI foi palco da premiação de Amanda Eloína Scherer, Pesquisadora Destaque da UFSM em 2022. A escolha da(o) premiada(o) é uma atribuição do Comitê de Pesquisa da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa.
A trajetória de Amanda Scherer como docente da Universidade iniciou em 1982, mas a professora recorda que o interesse e os questionamentos sobre as questões de língua e de linguagem vêm desde que entrou na escola. Na graduação, também feita na UFSM, formou-se em Letras Francês em 1973. O ingresso como docente na instituição, a partir de um concurso, deu-se logo após voltar da França, onde realizou um curso de formação de professores de francês durante dois anos. Inicialmente, Amanda integrou o Departamento de Letras Estrangeiras Modernas como professora de francês. Vinte anos mais tarde, o curso de Letras Português Francês – Licenciatura fechou e Amanda solicitou transferência para o Departamento de Letras Clássicas e Linguística, onde atua até hoje.
Em 1992, Amanda voltou à França para cursar mestrado e doutorado, ambos em Linguística, Semiótica e Comunicação na Université de Franche-Comté, na cidade de Besançon. O retorno à UFSM, com os títulos de mestre e de doutora, marcou a consolidação de sua trajetória como pesquisadora. A docente passou a fazer parte do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Letras e integrou a reestruturação do mestrado.
Amanda foi coordenadora do PPG durante dois períodos: primeiro, durante a reformulação do mestrado, e, mais tarde, na criação do doutorado. Também foi coordenadora das licenciaturas em Letras, no âmbito da graduação. A professora destaca que a formação de alunos sempre foi uma motivação ao longo da carreira, principalmente a possibilidade de orientá-los nas suas pesquisas, tanto na graduação quanto na pós-graduação. Nesse sentido, Amanda participou da criação da Revista Ideias, ativa até hoje, na qual estudantes de graduação podiam publicar textos e pesquisas de iniciação científica.
Ao voltar do doutorado, Amanda iniciou a criação do Laboratório Corpus, que fomenta a interlocução com outros pesquisadores, instituições de ensino e países. O Laboratório disponibiliza acervos e fontes e permite a realização de discussões sobre história, língua e memória na área de Letras e Linguística. O enfoque está na formação de professores questionadores, reflexões sobre o status quo e o lugar, o conteúdo e a função da língua. Em 2000, realizou o estágio de pós-doutorado na Université de Rennes II, também na França. Hoje, a pesquisadora dedica-se à coordenação do espaço multidisciplinar de pesquisa e extensão da UFSM em Silveira Martins, onde está sediado o Centro de Documentação e Memória, do qual também é coordenadora. A Revista Arco conversou com Amanda Scherer para conhecer mais sobre sua trajetória enquanto pesquisadora. Confira:
Arco: Enquanto professora vinculada à UFSM, a sua trajetória iniciou em 1982. Como você observa a progressão e o reconhecimento das pesquisas sobre linguística na instituição até hoje?
Amanda Scherer: O que vai consolidar o que fazemos na UFSM tem a ver com três pontos importantes: primeiro, a formação de jovens pesquisadores. É começar a formar, a dar chance e oportunidades a meninos e meninas que entram no curso de Letras e que, a partir do curso, começam a se interessar por questões sobre a língua e a linguagem. Um segundo ponto tem a ver com as relações interinstitucionais. Elas são fundamentais para criar uma cultura de pesquisa, principalmente na nossa área, no sentido de respeitar as diferenças. Um terceiro ponto é o quanto a escuta e o aprendizado da escuta desde a graduação são importantes também para o nosso aluno seguir a carreira de pesquisador. Essa é a minha trajetória dentro da Universidade. Hoje, o francês é o nosso lugar, no nosso espaço, da internacionalização. Para mim, isso é muito importante, porque ciência não se faz só com a língua inglesa. Ciência se faz em todas as línguas, mas o que determina a divulgação, o que determina a circulação do que fazemos passa por uma, duas ou três línguas estrangeiras.
Arco: O que significa para você receber a atribuição de Pesquisadora Destaque de 2022? Ao olhar para a sua trajetória, o que você destaca do seu caminho até este momento?
Amanda Scherer: Sempre é muito bom ser destaque. Eu acho que a UFSM tem uma história de crescimento intelectual e de pesquisa – mas não só – que é muito grande! Com o último resultado da Capes, nós [a UFSM] temos vários cursos que são importantíssimos no território nacional e que estão entre os melhores do Brasil. A área de humanas, há uns vinte anos, na UFSM, tinha pouca representação, mas aos poucos nós temos o nosso lugar, o lugar de humanas e, no nosso caso, o lugar de Letras e Linguística, sendo referendado e sendo importante. Tá certo que isso dá um bem-estar ao nosso ego, um bem-estar ao nosso fazer e à continuidade do que fazemos quando somos considerados destaques. Mas, ao meu ver, talvez ele seja maior do que apenas o individual, faz parte de um coletivo que pensa as condições do discurso na atualidade. Que reflete e que estuda sobre essas condições, que tem aí uma procura não do ideal, não de um sujeito completo, mas a procura do universo do sujeito a partir de uma memória social, de uma memória cultural, a partir de uma memória que garante a esse sujeito e que garante a nós o estudo dele e de suas formas de dizer algo sobre o que pensa.
Arco: De quais maneiras as pesquisas e projetos da área contribuem para a UFSM e sociedade?
Amanda Scherer: Eu diria que pensar a língua e sobre a língua é, de fato, uma questão que nos constitui. E por que ela nos constitui? Porque a língua é muito mais do que um aparato gramatical. A língua é muito mais do que simplesmente um dicionário e uma gramática. A língua é o sujeito falando, é o sujeito se constituindo não isoladamente, mas em grupo, em sociedade. E pensar sobre isso, pesquisar sobre isso, é inclusive entrar nesse mundo das fake news, do sistema de informação, de como isso se produz. Que mundo binário é esse que tá preso a um ideário de língua, a um ideário de informação?
“A língua é o sujeito falando, é o sujeito se constituindo não isoladamente, mas em grupo, em sociedade.”
Expediente:
Entrevista: Nathália Brum, acadêmica de Jornalismo e estagiária;
Fotografia: Ana Alícia Flores, acadêmica de Desenho Industrial e bolsista;
Design gráfico: Noam Wurzel, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista;
Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Gabriel Escobar, acadêmico de Jornalismo e bolsista; e Nathália Brum, acadêmica de Jornalismo e estagiária;
Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Edição geral: Luciane Treulieb, jornalista.