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Cachaça

por Darcy Wiethan*



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Outro dia, eu estava conversando com alguns alunos, e meio que de brincadeira disse que, se existisse internet quando era jovem, hoje eu estaria rico. Como é fácil ter ideias e se informar ali, né?! Mesmo sem as tecnologias, a minha curiosidade fez com que eu aprendesse várias atividades, desde criança. Fui um moleque introspectivo, que não costumava estudar muito, mas aprendia com facilidade. Tinha o hábito de mexer e desmontar alguns itens domésticos, como a máquina de costura da mãe. Assim, aprendi a manusear equipamentos, afiar ferramentas, soldar, fazer instalação elétrica e algumas coisas de mecânica – enfim, uma série de coisas.

Quando me tornei gente, não sabia exatamente que profissão iria abraçar. Fiz um teste vocacional, e o resultado deu “pluriaptidão”, mas com um viés para as ciências médicas. Bom, fiz vestibular para Medicina, quase passei. Faltaram alguns pontos. Tempos antes, comecei a aprender técnicas de marcenaria com meu irmão mais velho. Isso se tornou “uma cachaça”, e comecei a trabalhar na fabricação de móveis. Mesmo assim, fiz vestibular para Ciências Econômicas, por ser um dos únicos cursos noturnos disponíveis na UFSM. Passei com certa facilidade, mas não gostava da área. Meu negócio era a madeira. Mesmo assim, me formei Bacharel em Ciências Econômicas em 1985.

Continuei trabalhando de forma autônoma, lidando com as muitas dificuldades que os planos econômicos da época nos impuseram. Até que, em 1994, abriu um concurso público na UFSM para marceneiro. Para quem já tinha esposa e uma filha de sete anos, pensei que seria uma opção mais segura, dado que, embora o salário fosse pequeno, havia a estabilidade de um emprego público.

Entrei para a UFSM na marcenaria da Proinfra, onde trabalhei até 2007, quando fui convidado por telefone pelo então coordenador do Desenho Industrial, o professor Luiz Antonio Netto, para assumir, no curso, o laboratório que estava sendo criado. Como eu já estava trabalhando há bastante tempo no mesmo lugar, pensei: “Tá na hora de mudar”, mesmo sem conhecer o laboratório.

Quando cheguei, as máquinas ainda estavam todas dentro de caixas, desmontadas. Percebi que tinha muito trabalho para fazer. Minha inquietude se uniu à curiosidade e a todas as coisas que eu havia aprendido. Mesmo sem ser minha responsabilidade, comecei a encaixar os motores, as ligações elétricas e, assim, dia após dia, fui colocando em funcionamento parte do que temos hoje. E aqui estou desde então.

Começo bem cedinho, às sete horas. O tempo todo tem alunos e professores no laboratório. Tenho uma boa relação com todos, e isso ajuda a tocar os desafios que sempre aparecem, em maior ou menor dificuldade. Posso dizer que já fizemos protótipo de geladeira, interior de ônibus, eletrodomésticos, cadeiras, equipamentos e dispositivos para pessoas especiais, sapatos, muitos projetos.

Fico muito contente quando um ex-aluno se encontra num período de sucesso. Isso faz com que esse “quase” idoso tenha mais ânimo e vontade de continuar auxiliando essa meninada a crescer profissionalmente e a se tornar seres humanos melhores.

Daqui a algum tempo irei me aposentar, levando a certeza de que cumpri um papel social importante, auxiliando na formação de novos profissionais. Também trago comigo a realização pessoal de fazer o que gosto, sempre com dedicação e carinho. Penso que só por meio da educação e do conhecimento mudaremos a nossa triste realidade social.

Texto de Darcy Wiethan,  marceneiro do Laboratório de Modelos Tridimensionais (Labtri) do Departamento de Desenho Industrial da UFSM

Ilustração: Noam Wurzel
Lettering: Deirdre Holanda
Locução: Marcelo de Franceschi

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