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Local. Distrito 7.1
Data. 9.03.2021
O aerocarro sobrevoa o arco da Universidade Federativa de Santa Maria (UFSM). Dirigindo-o está Suzana Monforte, checando na tela digitográfica o destino e missão: o Planetário Cósmico e a averiguação de um artefato tecnomístico lendário recém encontrado.

Suzana é uma especialista em crimes tecnológicos e saberes arcanos. Perita em pictogramas photo-temporais, ela foi chamada ali por Fernando Terra, docente da instituição e um estudioso de fenômenos alquímicos e subterrestres. Monforte tem cabelos escuros, olhos turquesa e movimentos decididos, com seus trinta anos vividos mais na estrada que em casa.

Ilustração horizontal e colorida do visor de um veículo aéreo. O veículo tem estrutura interna em preto. No painel de controle, volante em preto e cinza azulado, painel que mostra os dados: "Velocidade 90km/h"; "Altitude 1200m", e "Tanque 70%". Ao lado, outro painel com imagem do Planetário e o título "Missão Planetário Cósmico". Ao lado, mapa no GPS. Ao lado, portal luvas aberto com um papel retangular e um óculos de realidade aumentada. No espelho retrovisor, detalhe dos olhos azuis de uma mulher de pele branca e cabelos escuros. No visor, ao fundo, a Universidade Federal de Santa Maria, com prédios em cinza, vegetação vasta em verde, com destaque para o Arco de entrada em azul e a Avenida ao centro.

Ela ignora a tela que mostra o mapa tridimensional e pega seu noitário. Adorando artefatos antigos como cadernos, canetas e recortes, sua mochila é um campo minado deles. Abaixo, a fila de carros terrestres segue seus fluxos e destinos, seja o Colégio Politecnostático, o Complexo Hospitalar ou a Biblioteca Pinacular. À sua direita, Suzana ignora os centros tecnológicos, filosóficos, biológicos, artísticos e rurais, até alcançar o Centro Reitoral.

Na frente dele, um pináculo na forma de dois compassos cruzados chama sua atenção, um colado no verdor terrestre e outro apontado ao céu cinzento onde sete jatos e dois zepelins cortam o azulado das nuvens. O computador, conectado ao chip mental de Susana, informa que se trata de farol obelisco em homenagem ao fundador da UFSM, Mariano da Rocha Filho.

Suzana aproveita a deixa e questiona a máquina. O software responde de pronto e ela levanta o olhar. Em frente de prédios que uniam filosofia, história, letras, música e dança, está o círculo pétreo do Planetário. Ao lado dele, a movimentação humana denuncia a escavação.

Tudo começara com a descoberta de que a região central do Rio Grande Sulista fora habitada milhões de anos atrás por uma população de estauricossauros, uma dos espécimes animais mais antigos do planeta. Ao descer o aerocarro, Susana cogita se está num dos pontos onde a vida na terra começara, onde monstros mortos deram lugar a humanos pensantes.

Em terra, ela é recebida por Fernando e por Mariana D’Oliveira, uma descendente do alquimista e poeta que revolucionou a arte e as ciências na região décadas antes, sobretudo com seu manifesto tecno-arcano Lanterna Verde. Os dois cientistas a levam a uma das tendas de pesquisas e mostram-lhe o enigma daquela manhã.

Sobre uma mesa, entre ossos e artefatos, está a lendária “Bússola de Cristal-Cromo que Aponta ao Inóspito Sul”. Suzana estarrece, pois esse artefato perdido supostamente pertencia à dupla de aventureiros Doutor Benignus e Vitória Acauã, que vieram à Santa Maria em março de 1900, para pesquisar o Riacho Itaimbé. A dupla e o grupo investigativo do Parthenon Místico voltariam à região depois, para explorar a Goela do Diabo e a Cidade dos Meninos.

Susana coloca suas luvas e posiciona sobre os olhos as lentes photo-temporais, uma tecnologia infranatural que permite a captação de imagens de um objeto em tempos diversos. Depois de instantes, Suzana retira o insólito dispositivo, em silêncio.

— O que você tem a dizer? –, pergunta Terra a Monforte. D’Oliveira observa, inquieta.

— Muitas perguntas por hora, senhores, sem nenhuma resposta – responde Suzana. – Eventos que envolvem ciência, magia, história e filosofia, crimes do passado, descobertas presentes, projeções futuras, produções ficcionais e investigativas de grande potência. Em suma, estranhezas que unem biologia e mecânica, química e alquimia, fato e ficção.

Fernando sorri e responde à investigadora de Porto Alegre dos Amantes:

— Se você busca por enigmas, está no lugar certo. Há sessenta anos é o que fazemos aqui.

Os três terão uma noite inteira pela frente. Talvez uma vida. Mas tem tempo, pois aquela universidade ainda é jovem, apesar de suas fundações compreenderem milênios de passado e anteverem séculos de futuro.

Expediente:
Texto: Enéias Tavares:  trabalha há seis anos no universo de Brasiliana Steampunk, série transmídia que recria os clássicos nacionais e a paisagem brasileira num cenário de aventura, fantasia e ficção científica. O último livro deste universo, Parthenon Místico, foi publicado pela DarkSide Books em 2020, e uma série audiovisual, A Todo Vapor!, estreou na Amazon Prime Video. Além de escritor e roteirista, é docente no curso de Letras da UFSM, instituição onde se formou e que considera sua segunda casa. Mais de sua produção e projetos em eneiastavares.com.br
Ilustração: Renata Costa, acadêmica de Produção Editorial
Conteúdo produzido para a 12ª edição da Revista Arco (Dezembro 2021)
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