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O descarte incorreto de máscaras provoca poluição ambiental

A ação pode afetar toda a cadeia de animais aquáticos



O descarte incorreto de máscaras é mais um dos problemas provocados pela pandemia de Covid-19. Entre os anos de 2020 e 2021, a produção de equipamentos de proteção individual (EPIs) – particularmente as máscaras – expandiu-se na tentativa de atender à demanda populacional, uma vez que o uso foi essencial para prevenir a infecção provocada pelo coronavírus. O estudo ‘Repercussões da Pandemia COVID-19 no Uso e Gestão de Plásticos’, realizado por pesquisadores da Universidade de Aveiro, em Portugal, e divulgado pela revista Environmental Science & Technology (Ciência e Tecnologia Ambiental), destaca a estimativa feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a utilização dos equipamentos de proteção apenas por parte de  profissionais de saúde: cerca de 89 milhões de máscaras cirúrgicas, 76 milhões de luvas e 1,6 milhão de óculos de proteção. 

 

No entanto, a demanda pelo uso de EPIs não se restringiu à área da saúde. Com a recomendação da OMS, o uso de máscaras passou a ser obrigatório para a população em geral – em torno de 7,8 bilhões de indivíduos no mundo. Como apresentado no estudo, o consumo mensal de máscaras faciais – até junho de 2020 – foi de 129 bilhões de unidades. Na mesma linha, em três de julho de 2020, a Assessoria de Comunicação do Ministério da Saúde informou sobre o Projeto de Lei nº 1.562, que destacava a obrigatoriedade do uso de máscaras faciais para circulação em espaços públicos e privados. A mesma notícia ressalta o dever do Poder Executivo em veicular campanhas publicitárias de interesse público e informar a necessidade do uso de máscaras de proteção individual, bem como a forma correta de descarte do material.

Descrição da imagem: fotografia horizontal e colorida em tom saturado, de uma máscara branca molhada sobre asfalto. A máscara está na metade esquerda da imagem, ao lado de meio fio amarelo. O chão está molhado e há uma poça de água pequena perto da água. A máscara branca está dobrada do meio, suja e molhada.

Em conteúdo produzido pela Secretaria da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul em 2020, destaca-se que o descarte de máscaras usadas, de acordo com o setor de Controle de Infecções da Vigilância Sanitária do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), deve ser com o material embalado em saco plástico e colocado no lixo do banheiro. Caso a lixeira já esteja com saco plástico, a máscara não precisa ser colocada em outro. Além disso, esse tipo de resíduo não deve ser misturado com materiais recicláveis. 

 

Em entrevista à Secretaria da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, a diretora do CEVS, Rosângela Sobieszczanski, informa: “Quando a pessoa estiver fora de casa, as máscaras usadas não devem ser colocadas nas lixeiras das ruas, pois deixam o material potencialmente contaminado exposto aos catadores de resíduos sólidos”. A recomendação feita por Rosângela é: “guardá-las em um saco plástico e colocá-las no lixo do banheiro ao chegar em casa ou então, alternativamente, em lixeiras de banheiros públicos. Dificilmente alguém mexe nesses lixos”, destaca. 

 

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) apresentou, no mesmo ano, formas de como descartar as máscaras faciais. A orientação da companhia paulista se assemelha à gaúcha, ao indicar a forma de descarte, que deve ser feita com a máscara atada e colocada na lixeira do banheiro com tampa. 

 

Ana Beatris Souza de Deus Brusa, professora na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e doutora em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que as máscaras usadas para prevenir a Covid-19 são consideradas resíduos sólidos. A docente do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental destaca que, a partir de medidas de prevenção iniciadas em 2020, as pessoas adquiriram novos costumes, como comprar lenços descartáveis, embalagens de álcool em gel e máscaras faciais, o que provocou um incremento na geração de resíduos sólidos.

Afinal, o que é resíduo sólido?

O resíduo sólido não compreende somente objetos como latas, garrafas pet e matéria orgânica. Como estabelecido pela Norma Brasileira (NBR) 10.004/2004, resíduos sólidos são aqueles encontrados nos estados sólido e semi-sólido, que são de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola e de serviços gerais. Incluem-se nesta definição os lodos de precedência de sistemas de tratamento de água – gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, da mesma forma que determinados líquidos (como óleo hidráulico e solventes), que não podem ser lançados na rede pública de esgoto sem passar por tratamento adequado.

 

O descarte de máscaras afeta o meio ambiente. No Brasil, a recomendação foi de que as máscaras e demais materiais contaminados pela Covid-19 devem ser encaminhados a locais de disposição final, ou seja, o aterro sanitário. No entanto, muitas máscaras não têm chegado a esses destinos, pois são descartadas – pela população em geral – em vias públicas, em cursos d’água, em locais com vegetação e em zonas litorâneas. Esse problema pode estar atrelado à falta de iniciativas, por parte do poder público, em controlar o descarte desses materiais. 

 

No decorrer da apuração da reportagem a equipe da Revista Arco registrou imagens de descarte irregular de máscaras nos bairros Camobi e Centro de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Na composição a seguir, os registros das máscaras jogadas no chão.

Descrição da imagem: Colagem horizontal e colorida de doze fotografias quadradas. Nas fotografias, máscaras descartadas em calçadas, gramados e em asfalto. As máscaras tem cores branca, preta, azul forte, azul clara e rosa. São do tipo cirúrgica, pff2 e de pano.
Fotos: máscaras descartadas irregularmente em Santa Maria - Rio Grande do Sul | Gustavo Salin Nuh

As máscaras descartadas inadequadamente em espaços públicos fazem parte do cotidiano santa-mariense. Mas cenas como essas podem ser evitadas. Um exemplo é a iniciativa da prefeitura de Presidente Prudente, São Paulo, que adaptou lixeiras para funcionar como ponto de coleta desses materiais. O objetivo é impedir a contaminação e a disseminação do coronavírus, além de garantir a proteção ao meio ambiente e à saúde pública. A iniciativa está vinculada à lei municipal daquela cidade, 10.393/2021, que estabelece normas para descarte adequado de máscara de proteção e demais produtos, assim como fixa o devido descarte do lixo domiciliar em locais adequados. 

 

O erro em torno do descarte de máscaras está na falta de orientação, que deveria ser passada à população. A informação divulgada em campanhas como a do governo gaúcho e da Cetesb é de que o descarte das máscaras deveria ser feito na lixeira comum de banheiros. Além disso, Ana Beatris relembra que, no Brasil, houve pequenas iniciativas de reciclagem de máscaras. Em 2020, em Santa Maria, o Hospital Universitário (HUSM) da cidade desenvolveu um projeto de reesterilização e reaproveitamento de EPIs com a intenção de suprir a escassez de equipamentos de proteção. Por consequência, o descarte de máscaras pôde ser reduzido.

Como seria o descarte ideal?

O ideal, segundo Ana Beatris, seria coletar e encaminhar as máscaras para a usina de triagem. O material precisa permanecer em quarentena – quando ficam, no mínimo, cinco dias separados dos demais para evitar a propagação de doenças – e, após, ser manipulado, triturado e levado à reciclagem. Esses materiais podem ser usados como enchimento de colchão e edredom. Entretanto, quando as máscaras estão contaminadas pela covid-19 esta opção não é válida e estes resíduos devem ser descartados como resíduo de serviço de saúde.

O descarte de máscaras e os animais

Animais como tartarugas marinhas e aves em geral ingerem as máscaras ao confundi-las com alimento. Isso pode atingir toda a cadeia envolvendo os animais aquáticos. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – Lei nº 12.305/2010 está presente no site oficial do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Ana Beatris assinala que a política deve ser aplicada, não apenas revista.

Descrição da imagem: fotografia vertical e colorida, em tons de azul e de verde, de um cavalo marinho pequeno com uma máscara cirúrgica descartável presa no rabo. A máscara tem cor azul clara. O fundo é o mar, em tom azul bic na parte superior, e verde turquesa na parte inferior.
Foto: Ocean Photography Awards | Nicholas Samaras

O material ingerido por animais marinhos fica preso no aparelho digestivo, o que lhes causa confusão e dá uma sensação de saciedade. Por conta disso, o animal não tem mais vontade de se alimentar e morre por inanição. Outras espécies, como as aves, sofrem com os elásticos presentes nas máscaras, que se  prendem aos bicos. Elastic Cut é uma campanha iniciada no Reino Unido, e a iniciativa incentiva o descarte do acessório com elásticos cortados, o que evitaria a asfixia de muitas espécies.

 

 Como é sugerido o descarte de máscaras

O descarte ideal de máscaras

 O descarte de máscaras e os animais
  • A máscara usada deve ser embrulhada em saco plástico ou em papel e ser descartada no lixo do banheiro;

  • Caso a lixeira já esteja com saco plástico, a máscara não precisa ser colocada em outro;

  • Esse tipo de resíduo não deve ser misturado com materiais recicláveis;

  • Quando a pessoa estiver fora de casa a recomendação é guardar a máscara em um saco plástico e colocá-la no lixo do banheiro quando chegar em casa ou descartá-la no lixo de banheiros públicos.

  • As máscaras devem ser coletadas e encaminhadas para a usina de triagem, ficar em quarentena e, após, ser manipuladas, trituradas e levadas à reciclagem.

  • Caso não exista essa possibilidade, deve-se recorrer à alternativa anterior.

  • As alças das máscaras devem ser cortadas antes de descartadas.

Expediente:

Reportagem: Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário;

Apuração: Gustavo Salin Nuh e Karoline Rosa, acadêmicos de Jornalismo e voluntários;

Design gráfico: Cristielle Luise, acadêmica de Desenho Industrial e bolsista;

Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Ana Carolina Cipriani, acadêmica de Produção Editorial e bolsista; Ludmilla Naiva, acadêmica de Relações Públicas e bolsista; Alice dos Santos, acadêmica de Jornalismo e voluntária; Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário;

Relações Públicas: Carla Isa Costa;

Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;

Edição geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas.

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