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UFSM participa de descoberta de dinossauro gigantesco no interior do Maranhão

Leonardo Kerber, palenteólogo do Cappa, relata a sua experiência de encontro de fóssil misterioso



Leonardo Kerber*

Em abril de 2021, meu colega, o paleontólogo Elver Mayer, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), entrou em contato comigo para mostrar algumas fotos de fósseis em um barranco lamacento localizado no município de Davinópolis, interior do Maranhão, a quase 650 quilômetros da capital São Luís. O barranco estava próximo a uma obra de construção de uma ferrovia. 

Os fósseis se tratavam de algumas vértebras e alguns fragmentos isolados – e, somente pelas imagens, não poderíamos ter ideia do que realmente se tratava. As fotos foram tiradas pelo arqueólogo Daniel Silva, e enviadas ao seu colega, o arqueólogo Jardel Stenio, ambos da empresa ArqueoLogística, que acompanhava a obra. Eles ficaram curiosos e as imagens foram enviadas para o paleontólogo Juan Cisneros, da Universidade Federal do Piauí, seu antigo professor do curso de graduação em Arqueologia, que, por sua vez, encaminhou as fotos para Elver, já que ele atuava em uma universidade não tão distante do município de Davinópolis. Inicialmente, cogitou-se que se tratavam de fósseis de uma preguiça-gigante, que são relativamente comuns no nordeste brasileiro. E, por isso, Elver, especialista em fósseis do Quaternário*, foi chamado para o desafio. Quando Elver compartilhou as fotos comigo, nós dois ficamos muito curiosos com o fato de estarem aparecendo ossos tão grandes naquela região.

Nesse primeiro momento, Elver organizou os trâmites para o trabalho de campo junto à Agência Nacional de Mineração. Além disso, comunicou-se com o paleontólogo Manuel Medeiros, da Universidade Federal do Maranhão, que prontamente lhe passou uma série de informações sobre a área de estudo. Entretanto, como estávamos em um momento de aumento do número de casos de Covid-19, e a variante Delta acabava de chegar ao país, a logística para reunir mais paleontólogos para verificar a ocorrência de fósseis ficou comprometida. 

Mesmo assim, com a documentação em mãos e contando com o suporte logístico da empresa que construiu a ferrovia e da equipe de arqueólogos que trabalhavam no local, Elver dirigiu de sua cidade até Davinópolis. Em campo, eles encontraram uma série de ossos de um grande animal – tratava-se de um dinossauro que provavelmente viveu entre 145 e 100 milhões de anos atrás – e não de um mamífero pleistocênico* como o cogitado preliminarmente pela foto de ossos aparecendo em meio ao sedimento lamacento. Durante uma semana, em meio a muita chuva e lama, foram recuperados dezenas de ossos do gigante. Entretanto, muito material ainda ficou para ser resgatado. 

Foi na segunda etapa do trabalho de campo que eu entrei em ação. No início de junho, dirigi meu carro por pouco mais de 600 quilômetros, de Belém do Pará – onde atualmente desenvolvo projetos no Museu Paraense Emílio Goeldi –  até Davinópolis. No local, encontrei Elver e a equipe de trabalho e escavamos mais ossos do grande animal, vértebras, ossos longos, costelas, diversos pequenos fragmentos e, entre eles, um osso longo e grande, que fomos deixando para coletar por último. 

Após embalarmos todos os demais fósseis, começamos a escavar esse osso longo e grande e, para nossa surpresa, era bem maior do que imaginávamos. No total, ele tem mais de um metro e meio, e não está completo – o que indica que era ainda maior. Provavelmente, trata-se de um fêmur desse animal gigantesco, mas ainda faltam muitos estudos para detalhar a identificação dos ossos. Ao todo, foram recuperados aproximadamente 35 elementos desse animal, além de uma série de outros fósseis menos completos, que irão fornecer dados sobre como era esse gigante.

Como a equipe estava acostumada a fazer escavações minuciosas, todas as etapas de coleta foram extremamente detalhadas, com desenhos, fotos e vídeos mostrando a disposição dos fósseis no afloramento antes da coleta. Tudo foi devidamente registrado para auxiliar os paleontólogos a compreenderem como se formou aquela concentração de fósseis. Além disso, a equipe aproveitou para gravar um minidocumentário de divulgação científica sobre o achado, mostrando todas as etapas da coleta e entrevistas com funcionários da obra, arqueólogos e paleontólogos. Após a coleta e embalagem adequada dos espécimes, eles foram levados para um laboratório da Unifesspa, Campus São Felix do Xingú, onde serão agora preparados e estudados pela equipe do Grupo de Estudos em Paleontologia, coordenado por Elver.

Existem muitas questões a serem respondidas sobre esse animal gigantesco. Começamos pela pergunta mais simples: quem foi esse animal? Será uma espécie já conhecida pela ciência, ou se trata de uma espécie ainda desconhecida? Depois que descobrirmos a identidade do gigante, teremos que descobrir qual era o seu tamanho e massa corpórea, como andava, como morreu, quem eram os outros animais que coabitavam nesse mesmo ambiente. Enfim, uma série de perguntas que a ciência brasileira irá responder nos próximos anos. Fiquem atentos para novidades!

Notas

*A escala de tempo geológico se divide em grupos e subgrupos identificados como éons, eras, períodos, épocas e idades. 

*Cretáceo: terceiro período da Era Mesozoica, correspondente ao intervalo de tempo entre 145 e 66 milhões de anos atrás. 

*Quaternário: último período da Era Cenozoica correspondente ao intervalo de tempo entre 2.58 milhões de anos atrás. Inclui as Épocas Pleistoceno e Holoceno (últimos 11,6 mil anos).

Expediente

Texto: Leonardo Kerber é doutor em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Geociências da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS) e paleontólogo do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia da Universidade Federal de Santa Maria (CAPPA/UFSM). Atualmente, atua como orientador do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal da universidade e é colaborador  técnico entre o Museu Paranaense Emilio Goeldi e a UFSM

Ilustradora: Yasmin Faccin, acadêmica de Desenho Industrial e bolsista

Mídia Social: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Caroline de Souza, acadêmica de Jornalismo e voluntária; e Martina Pozzebon, acadêmica de Jornalismo e estagiária

Edição de Produção: Esther Klein, acadêmica de Jornalismo e bolsista

Edição Geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas

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