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Novos tempos para a agricultura

Projeto Aquarius desenvolve uso da agricultura de precisão, que gera aumento na produtividade e causa menos danos ao meio ambiente



Você sabia que é possível corrigir a concentração de nutrientes no solo das lavouras? Hoje, com o aperfeiçoamento de tecnologias de informática, sensores e GPS aliados às práticas agrícolas, as possibilidades de os agricultores garantirem uma safra produtiva são maiores. Devido ao desenvolvimento das técnicas de agricultura de precisão, aparelhos acoplados às máquinas, semeadoras e colheitadeiras conseguem retirar uma amostragem do solo e verificar a variabilidade de nutrientes ali presentes, para fazer a correção necessária através da intervenção com fertilizantes.

O que chama a atenção nessa prática agrícola não é somente o que ela traz de benefícios ao produtor rural, mas também ao meio ambiente. Ao permitir o controle de todas as intervenções em uma propriedade agrícola, as dosagens de fertilizantes e agrotóxicos precisamente calculadas e aplicadas reduzem a contaminação da natureza e aumentam a produtividade. Só no Rio Grande do Sul, cerca de 30% das agroindústrias adotam a agricultura de precisão nas lavouras agrícolas. Há regiões, como o norte do estado, em que esse número é ainda mais expressivo e chega a 50%. É o que acontece em Não-Me-Toque, conhecida como a Capital Nacional da agricultura de precisão, e também em Carazinho.

O RENASCIMENTO

Na virada de milênio, surgiram novas perspectivas para a agricultura e a agroindústria brasileira. Através do Projeto Aquarius, uma iniciativa das empresas Massey Ferguson e Stara, inaugurou-se o desenvolvimento da agricultura de precisão no Rio Grande do Sul e no Brasil. Iniciado na cidade de Não-Me-Toque, o projeto foi desenvolvido, inicialmente, em duas áreas: a área Schmidt, com 124 hectares, e a área da Lagoa, com 132 hectares. Hoje, conta com 16 áreas, distribuídas no Alto Jacuí, totalizando 729 hectares. Em 2003, a UFSM começou a fazer parte do projeto, com a participação do curso de Agronomia. Conhecido em todo Brasil, o Projeto Aquarius já teve o nome divulgado em nível internacional, em países como Paraguai, Argentina e Colômbia.

Tecnologia e inovação estão presentes no trabalho desenvolvido com a agricultura de precisão, que é utilizada por indústrias de máquinas e cooperativas agrícolas, de fertilizantes e pela indústria de sementes. As atividades articuladas pelo projeto são uma parceria entre as empresas privadas Fazenda Anna e Cotrijal, a UFSM e alguns produtores agrícolas do estado. “Hoje, a gente define o projeto como uma vitrine tecnológica, pois, como nós trabalhamos junto com a indústria, muitas vezes ela desenvolve um produto e a Universidade e os produtores testam ele, sugerem modificações, adaptações, ou seja, tudo o que surge de novidade nós testamos. O projeto conta com o financiamento das empresas privadas na Universidade”, afirma o coordenador do projeto Aquarius e professor de Agronomia da UFSM, Telmo Amado Neto. Atualmente, fazem parte as agroindústrias Stara, Pioneer (indústria de sementes), Yara (líder mundial em fertilizantes) e Cotrijal (cooperativa da região norte do Rio Grande do Sul).

 

ON FARM RESEARCH 

“Pesquisa na propriedade agrícola” é a tradução de on farm research, nome da estratégia utilizada no desenvolvimento das atividades do Projeto Aquarius. O termo em inglês é uma referência ao fato de que os agricultores cedem um hectare de terra para os alunos de Agronomia da UFSM testarem os equipamentos e desenvolverem novas tecnologias nas suas propriedades.“Normalmente é feito um planejamento antes, sobre o trabalho que será realizado pelos alunos. Eles chegam com as ideias e passam para eu ver a viabilidade de nós instalarmos na área. Viabilidade é o quê? Verdade, tempo e espaço, e maquinário”, explica o produtor agrícola Rogério Pacheco, latifundiário de Carazinho, que contribui para os testes do Projeto Aquarius em sua propriedade. “A partir do momento que a gente analisa que tem condições físicas de fazer os trabalhos, então a gente executa. Eles vêm com a teoria, e a gente entra com a prática, o pessoal, o equipamento e os insumos”, afirma ainda o produtor.

Assim, as pesquisas não são desenvolvidas na área do campus universitário. O campo experimental são as próprias lavouras agrícolas cedidas pelos agricultores. Após analisar os resultados, os agricultores decidem se vão adotar os equipamentos testados ou não e, de boca em boca, expande-se para outros produtores a adoção de ferramentas desenvolvidas pelo projeto realizado entre acadêmicos e agricultores. “Nesse processo, o agricultor muitas vezes nos propõe soluções, adaptações. E, ao mesmo tempo em que nós estamos conduzindo o projeto, o agricultor já está fazendo as suas observações, se aquilo é interessante ou não à sua propriedade”, afirma o professor Telmo Amado.

Rogério Pacheco passou a fazer uso da agricultura de precisão há mais de cinco anos. O que o motivou na escolha foi o princípio de produtividade, a racionalização dos insumos que a agricultura de precisão proporciona. O N-sensor foi um dos equipamentos adquiridos por Rogério, assim que recebeu o teste pelo Projeto Aquarius, e, segundo ele, um dos mais utilizados nos últimos tempos. “A gente experimentou as plantadeiras de precisão, comparamos as plantadeiras precisas que tem no mercado de última geração com as plantadeiras mecânicas, comuns. Também foi analisada a variação de nitrogênio por áreas de alta fertilidade e média, com o N-Sensor”, lembra o agricultor.

 

MÃO DE OBRA ACADÊMICA 

A implementação dos experimentos na propriedade agrícola e as análises em laboratório são tarefas desempenhadas pelos alunos da iniciação científica e da pós-graduação do curso de Agronomia. Após o processo de trabalho externo, em contato com a natureza, terra, grãos e folhas, é hora de retornar ao ambiente acadêmico. É nos laboratórios da UFSM que os materiais coletados são observados pelos estudantes e geram dados para fins de dissertações de mestrado e teses de doutorado.

 

SEM PRÉ REQUISITOS

As novas tecnologias desenvolvidas pelos setores de informática aliadas ao trabalho nas lavouras são utilizadas em larga escala pela agroindústria, devido, por um lado, à demanda de seu mercado consumidor e, de outro, pelo fato de o setor possuir condições financeiras para a aquisição.

A agricultura de precisão pode ser apropriada tanto pelos pequenos agricultores, como pelos grandes latifundiários. O engenheiro agrônomo Giordano Schiochet, pequeno agricultor que possui propriedade agrícola no norte do Estado e utiliza maquinários emprestados pela Cooperativa Cotrijal, acredita que a agricultura de precisão é viável em todos os tamanhos de área, desde que ajustada à capacidade de investimento de cada propriedade. “Vejo agricultura de precisão como uma ferramenta capaz de contribuir para a sustentabilidade das pequenas propriedades, tornando-as competitivas e fortes”, afirma Schiochet.

Segundo o professor Telmo, o tamanho de propriedade não é um limitador, como no caso da agricultura familiar. Para esclarecer melhor, lembra da presença da agricultura de precisão em pequenas propriedades agrícolas na Europa. “A questão toda é se você está receptivo a adotar novas tecnologias ou não”, diz ele.

 

PARCERIA DE SERVIÇOS QUE GERA INCLUSÃO

Um dos caminhos para fazer com que a agricultura de precisão chegue aos agricultores familiares é através das cooperativas. Dentro do Aquarius, existe o projeto Apecop (Agricultura de Precisão nas Cooperativas), que envolve 16 cooperativas agrícolas no Rio Grande do Sul e adota a agricultura de precisão para os seus associados. “Nesse caso, o agricultor não adquire nenhuma máquina, é a cooperativa que presta os serviços para ele e, às vezes, ele paga o serviço prestado só na safra. Hoje, 50% dos associados da Cooperativa Cotrijal, por exemplo, se beneficiam da agricultura de precisão”, ressalta o professor Telmo Amado.

Giordano Schiochet constata que os equipamentos utilizados na agricultura de precisão são de alto custo, e, por isso, a parceria com a cooperativa torna viável e permite aos associados terem acesso às ferramentas. “Vejo como vantagem a possibilidade de terceirizar os serviços de aplicação dos insumos, pois em pequenas propriedades não seria viável a aquisição de algumas máquinas para realização do serviço. No caso de nossa cooperativa, o departamento técnico, junto ao setor de agricultura de precisão, instrui sobre a melhor maneira de se realizar o investimento/trabalho”, afirma o engenheiro agrônomo.

 

UMA FORMA DE GERENCIAR OS PRÓPRIOS RECURSOS

Muitos princípios da administração fazem parte do procedimento para implantar a agricultura de precisão em uma propriedade. Uma das principais características dela é o foco no gerenciamento. Por isso, o primeiro passo é ordenar todos os processos produtivos dentro da propriedade agrícola. Em seguida, é preciso organizar o planejamento, a rotação de culturas para, finalmente, pensar em comprar novas máquinas, e ver a necessidade de adquirir novas semeadoras, ou uma colheitadeira mais potente. “Não se deve associar a agricultura de precisão apenas com a aquisição de novas máquinas, ela é muito mais que isso,” diz o professor Telmo Amado. Ou seja, há situações em que a agricultura de precisão se constitui em gerenciar os próprios recursos já existentes na propriedade.

A Embrapa define a agricultura de precisão como uma nova forma de gerenciamento das atividades agrícolas. Na opinião do professor Telmo Amado, a agricultura de precisão é o manejo das propriedades agrícolas, respeitando a variabilidade que existe de solo, de planta, procurando aumentar a eficiência de todos os processos.

 

EVOLUÇÃO COM GANHO DE BENEFÍCIOS

A disponibilidade do sinal de GPS existente nas máquinas permite orientá-las nas lavouras no momento de corrigir a variabilidade de nutrientes do solo. Com a evolução tecnológica desses mecanismos, foi possível tornar mínimo o erro de posicionamento dos fertilizantes aplicados. Como relata o professor Telmo Amado: “Quando nós começamos, tinha um erro de 6 metros de posicionamento e, hoje, nós temos tecnologia para errar 2 centímetros”.

Os ganhos que a precisão envolvida na prática agrícola oferecem aos produtores e ao meio ambiente são claros para o coordenador do projeto Aquarius: “Ao você ter um erro de posicionamento tão pequeno, você consegue reduzir em até 10% o volume de agroquímicos aplicados na lavoura, simplesmente porque você evita o excesso de aplicações”. Essa é uma forma de evitar aplicações em locais e em quantidades acima do necessário e, por diminuir o erro de posicionamento e por ter um controle eletrônico das máquinas, reduz o impacto ambiental.

 

Repórter: Cibele Zardo
Ilustrador: Evandro Bertol

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