Ir para o conteúdo Revista Arco Ir para o menu Revista Arco Ir para a busca no site Revista Arco Ir para o rodapé Revista Arco
  • International
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

Os cães sempre voltam

por Pedro Brum Santos*



Outro dia deu na internet que um cachorro percorreu 15 quilômetros para voltar para casa após ter se perdido durante uma caminhada com seus donos na cidade de Barnsley.

 

Quero dizer que não vejo nada de excepcional na façanha do cãozinho britânico. Afinal, desde os tempos de Homero se conta que os cães sempre voltam. Para quem duvida, invoco um testemunho próximo.

 

A história é contada por meu pai que, de certo modo, foi coadjuvante decisivo. Tudo começou quando, dispensada do convívio familiar porque agitava muito a paz da comunidade canina, a cadelinha foi dada a um viajante com a recomendação de que ficasse com ela ou a soltasse pelo mundo. Se escolhesse a segunda alternativa, que a dispensasse em um lugar o mais longe possível. Foi o que o sujeito desalmado fez de acordo com o que confirmou de viva voz no telefonema do dia seguinte. A pequena Titica, depois de muito viajar na carona barulhenta e saracoteada de um Fusca, foi renunciada infindas curvas e bifurcações adiante, há dezenas de quilômetros do local de origem.

 

Em casa, porém, a almejada paz teve tempo contado. Como na obra do Senhor, ao amanhecer do sétimo dia, materializou-se a redenção da marcha de volta. O alvoroço incontido da cachorrada foi o sinal de alvíssaras para a pequena viajante que logo apareceria à vista de todos, carregando no pelo e nas patas exaustas o fardo de sua inenarrável jornada. Não preciso acrescentar que viveu o resto de seus dias à sombra da proteção paterna e com a particular atenção de prima donna.

 

*Pedro Brum Santos é professor do curso de Letras da UFSM e escritor.
Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-601-1669

Publicações Relacionadas

Publicações Recentes