Ir para o conteúdo Revista Arco Ir para o menu Revista Arco Ir para a busca no site Revista Arco Ir para o rodapé Revista Arco
  • International
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

Os desafios da educação

Entre diferentes abordagens, as pesquisadoras Adriane Cenci e Verginia Rossato desenvolvem pesquisas que refletem aprendizagem, ensino e contextos na atualidade



Já dizia Paulo Freire que se a educação, sozinha, não transforma a sociedade, menos ainda a sociedade é capaz de mudar sem ela. É no aprendizado diário que nos desenvolvemos como sujeitos e que também nos tornamos conscientes da realidade que nos cerca. Em um processo tão importante como é o de educar e ser educado, há uma série de fatores que precisam ser considerados, por terem influência seja positiva ou negativa na aprendizagem.

EDUCAÇÃO E VIOLÊNCIA: COMO AGIR?

Dentre as tantas pesquisas realizadas na área da educação, está a tese A violência doméstica e as dificuldades de aprendizagens em jovens de escolas públicas de Ensino Médio de Santa Maria/RS, desenvolvida pela enfermeira Verginia Medianeira Dallago Rossato, no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde da UFSM. O estudo é uma busca por reflexões sobre a educação dentro e fora do espaço escolar.

Realizada em escolas estaduais de todas as regiões de Santa Maria, a pesquisa foi desenvolvida em três passos: aplicação de questionário; realização de grupos focais para discutir o tema com os alunos; e reuniões com os professores para repassar os resultados encontrados. Verginia destaca que, ao longo de todo o processo, o que ficava mais evidente da percepção dos alunos sobre a família, no que diz respeito à educação, eram fatores como a pressão psicológica, a briga e a cobrança. Um dos casos que mais a marcaram está ligado à ingestão de bebidas alcoólicas. “A adolescente se demonstrava aflita porque, em casa, o pai bebia, batia na mãe e brigava com ela. A menina, então, não conseguia dormir direito e no outro dia estava na escola, ainda preocupada”, exemplifica.

A relação da violência doméstica – seja ela psicológica, física ou sexual – com a aprendizagem não se esgota em si e leva a pensar na educação como um todo. Para a pesquisadora é fácil perceber isso em casos nos quais o aluno está na escola e se vê abatido por problemas pessoais. Muitas vezes, o professor não se envolve, embora a situação tenha reflexo no ritmo escolar. “Isso porque ele [o professor] já está sobrecarregado em sua carga horária, não se vê valorizado e, ainda, em diversos casos, não tem o suporte de outros profissionais capacitados, como coordenadores pedagógicos ou psicólogos, que o auxiliem”, expõe a pesquisadora.

Seja qual for o caso, é fundamental que a escola se construa enquanto espaço de diálogo, e que se proponha a orientar alunos e família. Quando o estudante tem o sentimento de que é ouvido e compreendido em suas diferenças, a tendência é que ele se sinta incluído no ambiente escolar. A educadora Adriane Cenci, que também desenvolve estudos sobre as dificuldades de aprendizagem e educação inclusiva, como é o caso de sua dissertação Processos mediativos e formação de conceitos cotidianos: implicações nas dificuldades de aprendizagem, vai além. “Quando um aluno é alvo de piadas, quando o professor grita com ele ou quando é subestimado em sua capacidade de aprender, também se está exercendo violência”, afirma. Ela entende que é também papel da escola combater essa violência, a que se desenvolve dentro do ambiente educacional.

ENTRE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E DE ENSINO

Embora em seu estudo Verginia relacione a violência doméstica como possível causa das dificuldades de aprendizagem, ela deixa claro que não é possível evidenciar um único fator que possa ser determinante. A pesquisadora entende que, na maioria das vezes, o fracasso escolar é associado somente ao aluno, o que se torna um problema, na medida em que se deixa de considerar, por exemplo, suas vivências, o local em que está inserido, crenças, enfim, seu contexto sociocultural. Adriane destaca que uma real avaliação dessas dificuldades requer que se considere ainda mais do que isso. “Às vezes, o problema pode estar no ensino, que não considera as características e tempos de aprendizagem das crianças e adolescentes, ou pode estar na escola, que não faz sentido algum para a criança que tem de ir pra aí todos os dias”, pontua ainda.

Não é incomum encontrar essa percepção na fala de estudantes indignados com a quantidade de fórmulas matemáticas que necessitam decorar para a prova. O mesmo ocorre com as informações históricas extremamente precisas de tempos muito remotos que lhes são aconselhadas saber de cor e salteado. De fato, parece sem sentido, quando os conteúdos trabalhados ficam restritos a exercícios de decorar o que dizem os livros e se adequar ao cronograma do que vai cair no vestibular. Contudo, muitos dos conteúdos entendidos como apenas escolares são importantes para ampliar e aprofundar o olhar do estudante sobre o mundo.

Os problemas na educação, no entanto, não passam só pelas dificuldades dos alunos. São um desafio diário também para os professores. Como tornar, de forma atrativa, o espaço de uma sala de aula um local de troca de saberes? O tradicional ensino voltado ao quadro negro já não parece ser suficiente, mas também não existe receita pronta e exata. Uma aula que provoque e instigue exige não só conhecimento, mas também desenvolver meios de adaptar os saberes aos alunos.

Entre informações de matérias tão diversas, estabelecer ligações que conectem a sala de aula e o cotidiano pode ser uma boa saída.

Uma aula que provoque e instigue exige não só conhecimento, mas também desenvolver meios de adaptar os saberes aos alunos.

Já difícil por si só, a tarefa se torna ainda mais complexa e desafiadora ao considerar-se o cenário ao qual os professores estão expostos. Como exigir tanto quando o reconhecimento, as condições e a remuneração não são os adequados? “A escola pode dar espaço às iniciativas diferenciadas dos professores, isso já ajuda. Porém, enquanto não tivermos uma política sólida de formação de qualidade e de reconhecimento dos professores, vamos encontrar apenas medidas paliativas aqui e ali”, adverte Adriane. Se a sociedade é incapaz de mudar sem educação de qualidade, mais investimentos se fazem necessários para um futuro melhor para todos, com mais igualdade e condições.

“Às vezes, o problema pode estar no ensino, que não considera as características e tempos de aprendizagem das crianças e adolescentes, ou pode estar na escola, que não faz sentido algum para a criança que tem de ir pra aí todos os dias”

Repórter: Daniela Pin Menegazzo

Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-601-1708

Publicações Relacionadas

Publicações Recentes