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Para manter viva a história negra local

União Familiar, clube social negro de Santa Maria, é rememorado em livro



Quando estuda na escola, a gente acha que a escravidão é algo que só existiu no Nordeste e em São Paulo, com as lavouras do café. A gente nunca pensa que a escravidão foi tão difundida em todo o país, inclusive em Santa Maria”, constata a historiadora Franciele Rocha de Oliveira.

Em 2010, quando era acadêmica no curso de História da UFSM, Franciele começou a trabalhar no Museu Treze de Maio — antigo clube social negro que foi transformado em museu comunitário em 2001 e que busca preservar e estimular a autoestima e autoimagem positivas de homens, mulheres e crianças negras. O convívio com a rotina do “Treze” mostrou a Franciele como a história local negra é esquecida e muitas vezes não mencionada em bibliografias locais.

Nos encontros no museu, Franciele soube que existiu um outro clube negro em Santa Maria: “No museu havia rodas de lembranças, onde as pessoas iam rememorar o Treze e também falavam que ‘existia outro clube, o clube dos negros pobres, o União Familiar’, do qual não havia muitas informações em livros e registros”.

Franciele começou a se aprofundar no tema e decidiu escrever, em 2014, seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre o ‘outro clube’. Intitulada Moreno rei dos astros a brilhar, querida União Familiar, a monografia rememorou a história do União Familiar e a luta por justiça e direitos do povo negro em Santa Maria.

 

Memória impressa

Vencedora do Prêmio Lei Municipal do Livro 2015, a pesquisa de Franciele virou livro e foi lançada na Feira do Livro santa-mariense de 2016. A publicação teve distribuição gratuita e contou com tiragem de 1.500 exemplares.

A obra contém imagens de arquivos de pessoas ligadas ao clube, além de relatos e documentos que datam do século 19. Franciele realizou cinco entrevistas, com frequentadores que tinham entre 61 e 87 anos e que revelaram a história do União e sua importância para a sociedade negra local.

Dividido em três capítulos, o livro inicia contando sobre o movimento abolicionista no país, a questão dos movimentos negros em Santa Maria e a precária condição de liberdade obtida pelo povo negro após o decreto da Lei Áurea.

Já no segundo capítulo, o clube União Familiar é apresentado com detalhes. Franciele também comenta neste capítulo sobre a importância política dos clubes negros para quem os integrava: “Tem clubes que amparavam mulheres viúvas, ajudavam na aposentadoria de trabalhadores negros. Tem clubes que se organizavam para fazer o que o Estado não fazia para essas pessoas”.

O terceiro capítulo conta sobre as práticas dentro do Clube, mostrando suas festas e costumes. Nesse capítulo, Franciele apresenta a prática do carnaval organizado pelo União, por meio do bloco de rua, e também a história de um jornal negro, que contemplava assuntos que os demais jornais locais não abordavam, como denúncias de racismo.

Franciele conclui sua pesquisa ressaltando a importância de dar voz a uma comunidade negra que não possui visibilidade na História tida como oficial. Ela ressalta, no entanto, que ainda há muito a ser estudado sobre o tema: “É fundamental dizer que esse trabalho não se encerra em si mesmo. Pelo contrário, é um ponto de partida que assume a necessidade em falar do tema, olhando para os sujeitos históricos protagonistas desse processo histórico”.

 

Repórter: Guilherme Gabbi ·

Diagramação: Kennior Dias

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