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Pesquisa de Dida Larruscain aborda saberes profissionais de musicodocentes

Grupo VocaPampa serviu de base para estudo



Ediana Torres Freitas Larruscain é licenciada em Música, bacharela em Canto e mestra em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Em 2021, Dida Larruscain – seu nome artístico – participou do Programa The Voice Brasil, da Rede Globo e, durante as audições às cegas – fase inicial do reality -, defendeu a arte e a educação. 

Também no ano passado, Dida finalizou a dissertação “Grupo VocaPampa: Narrativas sobre saberes profissionais de musicodocentes”. O tema da pesquisa foi construído a partir de percepções acerca de saberes profissionais, captadas durante os ensaios, discussões e produções vinculadas ao desenvolvimento de atividades musicais do conjunto vocal a cappella, do qual ela também participa, o Grupo Vocal VocaPampa. O grupo é formado por músicos e professores de música que atuam ou já atuaram na UFSM. Dida destaca em seu trabalho que musicodocentes é a junção das palavras músico e docente e  propõe que o termo envolva as respectivas atividades profissionais de professores de música e performers

Em entrevista para a Revista Arco, Dida Larruscain contou mais sobre o seu trabalho:

 

Arco: O que motivou você a desenvolver o projeto – “Grupo VocaPampa: Narrativas sobre saberes profissionais de musicodocentes”? 

 

Dida Larruscain: Eu estava sem temática para desenvolver a dissertação. Nós temos que escrever o anteprojeto, e eu estava sem ideias. Conversei com  meu pai antes de um ensaio do VocaPampa e ele comentou que o grupo era formado por professores que são cantores também. E, de fato, dentro do VocaPampa ocorre essa movimentação de conhecimentos, tanto de performance quanto de docência. A partir disso, veio a ideia de aproximar essas duas áreas para o anteprojeto. 

 

Eu pensava muito no porquê de as licenciaturas, às vezes, terem um tom pejorativo – por parte dos estudantes dentro da academia – em detrimento dos bacharelados. Isso acontece em vários cursos, não só no de Música. Foi uma coisa que sempre me intrigou e me incomodou, porque eu conheço vários colegas que são formados em licenciatura – que são professores de música – e são ótimos performers, são músicos maravilhosos. Isso me despertou a vontade de entender o porquê isso acontecia. No decorrer da pesquisa, as coisas mudam um pouco, nós encontramos novos referenciais, novas possibilidades, novos questionamentos.  

 

 

Arco: Poderia falar sobre a metodologia  utilizada para elaborar a dissertação?

 

Dida Larruscain: Comecei o mestrado antes da pandemia, em 2019. A ideia era fazer um trabalho com grupo focal sobre como são os ensaios do VocaPampa. Nesses ensaios, nós nos reuníamos e conversávamos sobre diversos assuntos. Com o início da pandemia, eu parti para as entrevistas narrativas, que têm uma questão disparadora e outras questões que são auxiliares. As entrevistas foram feitas pela plataforma Google Meet, gravei as entrevistas e depois fiz as transcrições. Cada entrevista gerou um caderno individual e, para analisar, usei a metodologia interpretativa compreensiva. Esse é um método elaborado e desenvolvido por um professor da UFSM, o Elizeu Clementino de Souza. É uma metodologia recente, de 2014. Eu consegui me aproximar muito mais dos pensamentos sobre os saberes docentes através dessa metodologia. Para mim, funcionou super bem, mas claro que, se fosse presencial, seria muito mais legal. Daria para aprofundar outras questões, não só das perguntas, mas também em como o entrevistado se comporta, sobre as suas emoções, risadas, choros, esse tipo de situação. No Google Meet a entrevista ocorre com mais dinamismo e eu entendo que isso ajudou a focar nas questões que estavam na pesquisa. Entre prós e contras,  através dessa metodologia, consegui chegar à conclusão do meu trabalho.  

 

Entrevistei os cinco integrantes do VocaPampa. O grupo tem seis componentes ao todo, e eu sou uma delas. As entrevistas foram na mesma semana, foram conversas corridas, uma atrás da outra. O processo mais lento foi a transcrição, porque teve entrevista que durou duas horas e trinta minutos. Foi muito conteúdo, um caderno de trinta páginas de conversa transcrita. Depois de transcrever, eu já sabia de cor o que poderia utilizar no trabalho. Criar as etapas de análise temática foi um processo mais rápido. Pelo dinamismo que o Google Meet proporciona, consegui fazer todas as entrevistas que queria, com bastante material e funcionou bem para essa pesquisa.               

      

Arco: A partir da perspectiva músico-educacional, como foi desenvolver um trabalho que envolve musicodocentes?

 

Dida Larruscain: Como eu comentei antes, essa questão de ser músico e ser professor de música é algo que sempre despertou a minha curiosidade, seja pelas minhas experiências, seja observando as experiências dos meus colegas. Queria entender o quanto a performance interferia no meu ser professora de música e o quanto as minhas aulas de música interferiam na minha performance. É a partir de uma perspectiva bem pessoal, de uma vontade de entender o porquê de os professores de música, às vezes, serem taxados como menos músicos. Já ouvi dizer que professor de música é um músico frustrado – isso eu acabei não colocando no trabalho, é algo que deve ser aprofundado em uma outra pesquisa Na dissertação, foquei mais nos saberes e nos conhecimentos que precisamos desenvolver, e quais desses conhecimentos são mais desenvolvidos no grupo VocaPampa. A questão, porém, do porquê de os professores de música serem taxados como menos músicos é uma questão que eu sempre ouvi e indaguei, por não acreditar nisso, por achar que uma coisa não está relacionada com a outra: não somos músicos ruins por sermos professores de música ou vice-versa, não somos professores ruins por tocar/performar bem. Essas foram questões disparadoras para desenvolver o trabalho. Eu identifico que o trabalho tomou um rumo mais teórico, pois aborda os saberes docentes, o saber da performance, os saberes profissionais da música. O que um profissional da música, sendo professor ou performer, precisa saber, precisa entender e que conhecimentos precisa desenvolver. O trabalho traz uma trajetória bem pessoal, mas o ato de desenvolver ele me fez perceber que as coisas não estão, necessariamente, sempre ligadas. Somos seres humanos, não somos certos, exatos, certeiros ou imutáveis. Estamos numa constante mudança e desenvolver esse trabalho foi isso: constantes adaptações.           

 

Arco: Como resultado de sua dissertação, você destaca que o grupo VocaPampa atua como um espaço complementar para pensar a docência em música e a performance. Poderia falar mais da importância de uma formação em música (licenciatura e/ou bacharelado) para essas áreas?

 

Dida Larruscain: Eu acredito que a formação acadêmica em música nos coloca em cenários possíveis da profissão, assim como eu coloquei na dissertação que o VocaPampa – e meus colegas concordaram – é um laboratório que serve como espaço complementar da academia e da vida real. É o meio do caminho profissional, apesar de termos um trabalho profissional com o VocaPampa, que envolve receber cachê. O profissional envolve receber remuneração, manter-se financeiramente com esse trabalho e o VocaPampa teve essa experiência. Não é um espaço só acadêmico ou só profissional, é um lugar a mais em que podemos ter essas experiências formativas, não necessariamente acadêmicas, mas também acadêmicas. É uma mescla do que fazemos em nossas vidas, que é o fazer música. Seja dentro da sala de aula, seja no palco e em todos os espaços que podemos ocupar como professores de música e músicos. O VocaPampa chega nesse lugar de ser mais um ambiente de desenvolver, criar, ampliar e aprimorar conhecimentos sobre a nossa vida e profissão.     

       

Arco: Como você descreveria a sua participação no ‘The Voice Brasil’ e qual a importância desse programa para a arte e a educação? 

 

Dida Larruscain : O The Voice foi um momento de muito engrandecimento para o meu eu artístico profissional. Acredito que a classe artística como um todo, não só a musical -ainda mais nesses momentos que estamos vivendo: – de pandemia e de isolamento-, sofreu e ainda sofre com os impactos pandêmicos na questão econômica. Entendo que o The Voice foi uma oportunidade de ir para o palco, ou melhor, voltar a ele. Fazia dois anos que eu não tinha a oportunidade de cantar num grande palco. Enquanto professora e como performer, me senti na obrigação de levantar a bandeira da educação e da arte dentro do programa. Além de me colocar na cena artística novamente, o programa me deu a oportunidade de erguer essas bandeiras e mostrar às pessoas que estavam assistindo que o professor de música pode cantar super bem e pode comunicar através da performance. A arte e a educação estão comigo há muito tempo: através das memórias do Facebook, me recordei que em um post de 2018 eu falei sobre essas temáticas. Isso já era uma pauta que me motivava na minha vida. O The Voice serviu como uma vitrine, uma baita vitrine, para eu poder reafirmar as bandeiras que eu defendo tanto. Essa foi a importância do programa para mim e para o que eu acredito. 

                

Arco: Os cortes de verbas para as áreas de pesquisa brasileira têm afetado o desenvolvimento científico no país. Qual a importância de uma pesquisa como a sua? 

 

Dida Larruscain: Uma pesquisa como a minha pode mostrar que ainda há pessoas na área das humanidades preocupadas em desenvolver ciência. Há pessoas preocupadas em criar materiais que possam ajudar outros professores a pensar na sua atuação profissional. Como eu mencionei antes, o licenciado em música ou licenciado em artes ainda tem o estigma de não ser considerado um profissional bom o suficiente para ‘dar a cara a tapa’, para produzir algo intelectualmente maravilhoso. Vemos que isso é mentira. Com a minha pesquisa, eu quis marcar e mostrar que sim, existem artistas, professores e arte-educadores, preocupados em produzir ciência, em produzir trabalhos científicos nas áreas de educação e artes, que sofrem com o rótulo: não merecem ser estudadas. Há o julgamento de que a música, a arte em geral, vem como um dom. Bom, se realmente fosse assim, não existiriam cursos superiores de artes no Brasil e no mundo inteiro. A minha pesquisa chega também para mostrar que artes é uma área que merece ser estudada, que é uma ciência, e que é algo importante para desenvolver pensamentos críticos. Por exemplo, hoje conseguimos ver a Anitta bater o primeiro lugar no ranking mundial do Spotify. Então, para o brasileiro que está sofrendo com tudo isso – com corte de verba na ciência, a desvalorização da profissão de professor, a desvalorização das artes e com a falta de incentivo governamental -, é um sinal de que é possível. A Anitta é quem ganha com o top mundial, mas somos nós, brasileiros, que nos orgulhamos em estar no topo do mundo. E é isso, a importância da minha pesquisa é o de mostrar que tem gente preocupada com a arte, que tem gente produzindo arte, e gente preocupada em produzir educação e ciência. Tem o FAPEM (Formação, Ação e Pesquisa em Educação Musical), um grupo em que estava inserida durante o mestrado, e é na UFSM. E a UFSM é uma universidade pública do interior que tem uma importância muito grande na produção de ciência. Nós somos uma afronta para as pessoas que não acreditam que a arte e a educação podem ser ciência e que aquilo que produzimos é muito bom.   

     

Arco: Gostaria de acrescentar algo que não foi perguntado?

 

Dida Larruscain : Eu gostaria de agradecer pelo convite feito pela Revista Arco. Esse convite chega pra mim como uma inter-relação, como uma mobilização dos saberes que eu tenho. Como foi posto nas perguntas: sim, eu sou o The Voice, eu sou a  professora, eu sou a cientista, eu sou a musicista, sou a Dida que é irmã, filha, prima, neta, enfim, sou várias formas. Gostaria de agradecer pela leitura e pela escuta atenta sobre o meu trabalho e quero dizer que a gente não é um só. Nós somos várias coisas, que acontecem ao mesmo tempo, por isso não devemos nos colocar em caixinhas. 

Expediente:

Entrevista: Gustavo Nuh, acadêmico de Jornalismo e bolsista.

Design gráfico: Noam Wurzel, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista.

Fotografia: Léo Diaz

Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Alice dos Santos, acadêmica de Jornalismo e voluntária; Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário; e Ana Carolina Cipriani, acadêmica de Produção Editorial e voluntária;

Relações Públicas: Carla Costa;

Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;

Edição geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas.

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