A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 divulgou este mês o balanço dos atendimentos feitos em 2015. O serviço disponibilizado pelo governo federal realizou uma média de 2.052 atendimentos por dia (54,40% a mais do que no ano anterior). Foram 76.651 atendimentos apenas com relatos de violência, dos quais mais da metade foram cometidos contra mulheres negras.
O Ligue 180 é um serviço gratuito e confidencial, oferecido pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. A central recebe denúncias de violência e reclamações sobre os serviços da rede de atendimento à mulher, mas também orienta as mulheres sobre seus direitos e sobre a legislação vigente, encaminhando cada caso para o atendimento adequado, seja de polícia, de assistência judiciária ou de apoio social.
O aumento no número de pedidos de ajuda representa um avanço importante para o país quando falamos do combate à violência doméstica. Mas o Ligue 180 é um serviço de abrangência nacional, que muitas não é capaz de contribuir de forma efetiva para que mulheres em situação de risco encontrem soluções concretas e possam se afastar do agressor.
Essa é a função “Centros de Referencia de Atendimento à Mulher em Situação de Violência”. Os Centros de Referência são estruturas essenciais do programa de prevenção e enfrentamento à violência contra a mulher. Isso porque estão localizados nas comunidades e bairros, em diversas cidades do Brasil e podem auxiliar as mulheres de uma forma direta e pessoal. Os Centros de Referência existem para promover a cidadania por meio de ações de atendimento psicológico, social, jurídico, de orientação e informação.
Um exemplo importante está sediado no bairro da Maré, na cidade do Rio de Janeiro. O Rio foi a terceira cidade que mais registrou atendimentos no Ligue 180, em 2015, e a Maré apresentava, até a instalação do Centro de Referência, altos índices de violência, o que justificou a sua criação.
O centro foi implantado na Vila do João no ano 2000, e faz parte do conjunto de atuações de extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O atendimento acontece principalmente a mulheres na faixa etária de 25 a 30 anos de idade.
O diferencial do trabalho desenvolvido pelo Centro de Referência da Maré são os cursos de empreendedorismo oferecidos às mulheres, como cursos de arranjos florais e de culinária. O projeto das Oficinas Sociais tem o objetivo de contribuir para uma maior autonomia das mulheres e para o fortalecimento da sua cidadania. “Participando das oficinas a mulher rompe com o isolamento, percebe e desenvolve suas habilidades. Em grupo também é possível construir coletivamente estratégias de resistência ao fenômeno da violência doméstica”, afirma Érika Fernanda Marins de Carvalho, coordenadora do CR da Maré.
O trabalho executado pelo Centro segue quatro dos eixos presentes na Norma Técnica de Uniformização dos Centros de Referência de Atendimento à Mulher: atendimento interdisciplinar (social, psicológico e jurídico); atividades de prevenção (campanhas, cursos, oficinas sociais etc.); qualificação profissional (supervisão semanal da equipe e capacitação continuada) e articulação da rede de atendimento local (diálogo com o Posto de Saúde da Vila do João com serviços da rede especializada).
“O diálogo com outros entes da rede é de extrema importância, já que a mulher em situação de violência traz consigo inúmeras demandas. O levantamento de dados é fundamental, pois a partir dele podemos avaliar o impacto das ações desenvolvidas sobre o fenômeno da violência”, destaca Erika. Os eixos de atuação dos Centros de Referência reforçam a importância dessas instituições como promotoras da cidadania feminina e da superação da violência.
Reportagem: Hellen Barbiero e Letícia Malinoski
Infográficos: Bruna Dotto