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Um espetáculo de história

Livro narra as memórias do Theatro 13 de Maio, de Santa Maria



Por estar localizada geograficamente no centro do Rio Grande do Sul, Santa Maria tornou-se ponto chave nas linhas férreas que atravessavam o estado em direção à região do Prata e, em terras tupiniquins, se espalhavam até o norte do país. A linha que ligava Porto Alegre à Uruguaiana, com mais de 515 quilômetros de extensão, chegou definitivamente na Boca do Monte no ano de 1885, dois após o início de sua construção. A época foi de grande crescimento para o município em decorrência da presença dos ferroviários: a população quintuplicou num período de 20 anos, o que sugere uma cidade de cultura miscigenada.

 

Em meio aos mais variados tipos de pessoas que passavam pela Estação Férrea da Gare, artistas renomados eram presença frequente em turnês que vinham de Buenos Aires e subiam ao Rio de Janeiro. Por isso, Santa Maria carrega a marca de “cidade cultura”. Em 21 de outubro de 1888, foi fundada uma associação denominada 13 de Maio. O nome é homenagem à data da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, que aboliu a prática da escravatura. Essa Sociedade de visão humanitária tinha cunho revolucionário, visava incentivar a cultura na cidade e tinha como objetivo construir uma casa de espetáculos.

 

Findada a construção da casa, outra agremiação de diferente cunho nasceu: a Sociedade Indenizadora do Theatro Treze de Maio. O objetivo era arrecadar fundos para quitar as dívidas da construção do espaço. O dinheiro era coletado com peças e espetáculos amadores, produzidos por artistas locais que entendiam a necessidade do fomento à cultura em Santa Maria.

 

Vista da Praça Saldanha Marinho provavelmente nos finais do século XIX. Créditos: Acervo da Casa de Memória Edmundo Cardoso.

 

Essa história e de tantas outras passagens artísticas pela cidade de Santa Maria agora estão contadas no livro Theatro Treze de Maio – Um espetáculo de história.

 

Quem conta essa história do Theatro 13 é Luiz Gonzaga Binato, um arquiteto apaixonado pela arte. Sua sala de estar já indica esse gosto: uma estante recheada de livros e publicações e um reluzente piano de cor negra  – instrumento por ele tocado no Theatro em algumas oportunidades – recepcionam os visitantes. As poltronas e o sofá de três lugares, de madeira escura e estofado vermelho, confortaram o tempo em que conversamos em seu apartamento, na região central de Santa Maria. Ao centro do cômodo uma mesa de finos traços aconchegava cinco bules de prata; na parede acima do sofá repousam quatro quadros bem alinhados. Todos os objetos arrumados em harmonia, característica marcante no humor do autor.

 

Luiz Gonzaga Binato, que dedicou quatro anos para a construção do livro

 

Binato fala com entusiasmo e certo alívio sobre o lançamento da obra, afinal, foram quatro anos de muita pesquisa, escrita e encontros que resultaram no belo livro de modernos traços – pedida especial de Luiz.

 

“É comum que os livros que tratam sobre uma época passada tentem reproduzir como eram os padrões estéticos. Nós estamos no século XXI. A obra de arte tem que refletir a sua época mesmo que trate de assuntos do passado. Não gostaria que a gente caísse na tentação de reproduzir traços antigos. Por isso tem uma aparência contemporânea. Queria que ele fosse um objeto de arte, que fosse atrativo em ilustrações e composição gráfica.”

 

O livro está longe de ser apenas literatura. Fotografia, história, pesquisa e composição gráfica transmitem, em conjunto, emoções semelhantes às que foram proporcionadas aos que já estiveram na plateia do Theatro Treze de Maio. Ao folhar o exemplar, o ambiente do Theatro e sua sutileza invadem o pensamento do leitor. Binato reiterava para todos que trabalharam na produção da obra que o conteúdo não fosse profundo demais: “Eu não queria que o livro fosse para especialistas em teatro ou arquitetura, mas sim para o grande público, para aqueles que se interessam pelo assunto”.

 

Além de Binato, a obra teve contribuição do pesquisador Valter Antonio Noal Filho, que buscou nos jornais da época as notícias ligadas à casa cultural. Foram mais de dois mil recortes de notícias, notas e reportagens. A fotografia do livro é resultado de um trabalho de pesquisa e recuperação de Valter, que é complementada com o belo trabalho do fotógrafo Rafael Happke – colega de revista Arco -, que assina a autoria das  imagens de peças e apresentações dos últimos anos. A apresentação do livro tem autoria do também arquiteto José Antonio Brenner.

 

Joana Freches Duque, do grupo Chão de Oliva (Sintra, Portugal)

 

História do Theatro

A casa teve momentos distintos em sua rica e plural história. Desde sete de novembro de 2014, dia de seu tombamento como patrimônio histórico cultural da cidade pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (Comphic), se tem certeza de que ali ficará, preservada sob proteção do Estado. O Comphic também é responsável pela preservação de outros pontos históricos da cidade, como a Catedral Metropolitana, o prédio da antiga Sociedade União dos Caixeiros Viajantes (SUCV), o Colégio Manoel Ribas, entre outros locais.

 

Em sua primeira fase, que cobre os anos de 1890 à 1915, o Theatro Treze de Maio era uma casa de espetáculos de pequeno porte, assim como o município de Santa Maria. No período seguinte, a partir de 1916, o local se tornou um espaço utilizado para diferentes atividades: abrigou dois jornais, a Junta de Serviço Militar, o clube Santa Maria Aero Sport, a Biblioteca e o Centro de Cultura Municipais.

 

Bailarina da companhia de dança Royalle

 

Trajetórias que se confundem

Além da história escrita por Binato, a obra conta com fotografias de diferentes épocas, com registros de atores de renome nacional e internacional. Também fazem parte do livro algumas imagens de recados deixados por artistas em um livro de memórias do Theatro. Somadas ao conteúdo histórico, três entrevistas colhidas pela jornalista Tatiana Py Dutra dão um olhar mais próximo de pessoas que tiveram influência direta na trajetória da casa, como Ruth Péreyron, diretora adminisitrativa do teatro; Ailo Valmir Saccol, presidente da Associação dos Amigos do Theatro Treze de Maio, de 1995 até 2001; e Gustavo Isaia, diretor técnico da casa entre 1994 e 1998. Completam o livro depoimentos de pessoas que participaram da história do Theatro Treze de Maio.

 

Para o autor, o sentimento ao frequentar o Theatro é de estar em casa. De forma definitiva, Binato é parte da história da casa cultural, como consumidor e propagador da cultura que dali emana. A obra é a manifestação de sua paixão e colaboração com a arte em Santa Maria.

 

“Sempre frequentei o teatro após reinauguração. Inclusive fui produtor cultural e já toquei piano ali em alguns concertos. É uma casa que me sinto bem e sou muito bem acolhido, uma extensão da minha atividade cultural. Muitas vezes já estive na plateia, bem como estive nos bastidores de produções.”

 

Reportagem: Júlio Porto e Lucas Delgado

Fotografias: Rafael Happke
Infográfico: Nicolle Sartor

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