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Nomes do Brasil

Pesquisa do IBGE aponta mais de 130 mil variações



A escolha de um nome para uma pessoa é uma tarefa desafiadora. O que muitas vezes não se percebe é que essa escolha diz muito sobre o contexto da época em que a pessoa nasce e das vivências de quem decide como ela vai se chamar.  É isso que revela um levantamento realizado pelo IBGE sobre os nomes mais frequentes no Brasil, identificados pelo Censo Demográfico 2010 e divulgado em abril deste ano.

 

A pesquisa abrange todo o país – os 27 estados e os 5.565 municípios, incluindo mais de 190 milhões de pessoas em 67,5 milhões de domicílios. Foram registrados o primeiro nome e o último sobrenome de cada entrevistado. Os dados apontam para 130.348 nomes diferentes na população brasileira, 63.456 masculinos e 72.814 femininos, considerando que há nomes comuns a ambos os sexos.

 

É um Brasil de Marias e Joses*: 11,7 milhões de mulheres usam o nome feminino, enquanto 5,7 milhões de pessoas usam o masculino. O que pode explicar essa frequência? Segundo a professora de Ciências Sociais da UFSM, Ceres Karam Brum, isto acontece por conta de uma influência católica marcante. A opinião é compartilhada pelo responsável pela organização da pesquisa, Carlos Lessa (IBGE): “os nomes bíblicos estão entre os de maior frequência e isso nos leva a fazer uma associação direta com a religiosidade da população”.

 

O levantamento permite identificar quais nomes são mais populares em determinadas décadas, mostrando o que entrou e saiu da moda: revela os nomes mais frequentes até 1929 e por década de nascimento a partir de 1930. Muitos nomes são inspirados na moda, literatura ou até mesmo inventados. A ciência explica que isso é reflexo da indústria cultural, ou seja, um conjunto de processos em que os meios de comunicação exercem profunda influência no modo de vida das pessoas e na sociedade. “Rádio, televisão e internet tem um papel fundamental neste processo por apresentarem novas opções de repertório aos brasileiros”, explica Ceres.

 

Um exemplo dessa tendência são os nomes de famosos que marcaram época.  Nos anos 2000, o nome Caua cresceu 3.924%, provavelmente influenciado pela popularidade do ator global Cauã Reymond. O nome Dara, personagem da novela Explode Coração, da Rede Globo, exibida entre 1994 e 1995 cresceu 4.592% nessa década.

A paixão brasileira pelo futebol também se reflete nos dados. Em função do craque Pelé, Edson começou a aparecer com maior frequência na década de 1970. O próprio apelido do jogador começou a ganhar destaque, e muitos “Pelés” nasceram nas décadas de 1970 e 1980 – enquanto o nome Romario cresceu na década de 1980 e, acompanhando a fama do centroavante da seleção brasileira, a recorrência do nome aumentou 402%. Já Ayrton foi bastante utilizado na década de 1990, o nome do piloto brasileiro fez os registros aumentarem 269% no período.

 

O estudo também revela nomes que se tornam menos populares à medida que o tempo passa. O nome Alzira, por exemplo, aparecia 8.132 vezes antes de 1930; já nos anos 2000, foram apenas 288 vezes. A tendência é a mesma para os nomes masculinos: Oswaldo aparecia 1.335 vezes até 1930, mas caiu para 235 registros nos anos 2000.

 

Refletir sobre a frequência de nomes do Brasil e buscar o significado dessas escolhas pode revelar a junção de tradições familiares com a mitologia local. Segundo Ceres, é a identidade nacional que se manifesta nesse processo. A pesquisadora, nascida no noroeste do estado, explica o significado de seu nome: “Ceres na mitologia romana é a deusa da agricultura, o que talvez explique sua presença na região de Cruz Alta, em que a cultura de trigo é uma memória bem presente”.

 

A escolha do nome transmite gostos, tendências, memórias e visões de mundo. Ele é muito mais do que letras agrupadas e é, na maioria dos casos, a família que o determina. Ceres conta que o sociólogo Pierre Bourdieu, nos seus trabalhos sobre a construção do gosto, mostrava que os saberes compartilhados na família ajudam a nos construir como pessoa. Resultado de tendências ou de uma tradição, seu nome diz muito sobre o mundo em que você nasceu.

 

Quer saber quantas pessoas usam o mesmo nome que o seu? É só acessar a pesquisa: http://censo2010.ibge.gov.br/nomes/#/search.

 

*Foram desconsiderados sinais como acentos, trema, til e cedilha (por isso os nomes citados estão sem esses sinais).

Reportagem: Camila Hartmann e Vitória Londero
Infográficos: Nicolle Sartor

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