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Memórias de um Esclerosado

Cartunista conta, através dos quadrinhos, experiências após o diagnóstico de Esclerose Múltipla



No autorretrato para o projeto Memórias de um Esclerosado, Rafael segura sua bengala, a “Rita”

Nascido em Rosário do Sul e morando em Porto Alegre desde 1994, Rafael Corrêa é vencedor de inúmeros prêmios pelo mundo, com destaque para o 39º Salão Internacional de Humor de Piracicaba e o 30º Aydin Dogan International Cartoon Contest. Corrêa tem 40 anos e é portador de Esclerose Múltipla.

A notícia veio em 2010: uma doença autoimunitária degenerativa que ataca o sistema nervoso, compromete a capacidade de controlar os movimentos e as funções do corpo e que não tem cura. Em 2015, o cartunista resolveu compartilhar suas experiências sobre a doença e transformou seu diagnóstico em quadrinhos. Nas tirinhas, Rafael narra as dificuldades em realizar atividades cotidianas e conta sobre como a Esclerose Múltipla afetou sua vida. O trabalho é publicado no site Memórias de um Esclerosado, e o autor pretende, futuramente, reunir as tirinhas em um livro. Conhecido pelas criações das tiras “Artur, o Arteiro”, “Sapatiras” e “Caracteres!?”, o cartunista já teve trabalhos publicados em diversos jornais do país, como Folha de S. Paulo, jornal Agora, revista Gloss, Revista Saúde e Revista MAD, entre outros títulos. Confira abaixo a entrevista do cartunista para a revista Arco:

Como começou a tua trajetória como cartunista?

Picasso disse que que toda criança tem a arte dentro de si, toda criança nasce artista e com o tempo vai crescendo, criando uma autocrítica, e, assim, muita gente vai deixando de ser artista. O artista é aquele que continua, que permanece desenhando, permanece artista. Eu sou um desses que persistiu. Desenho desde criança. Tinha certeza de que queria ser cartunista desde os dez anos. Fazia várias histórias em quadrinhos e mostrava para os amigos e familiares – e o pessoal gostava. Aos 14, publiquei pela primeira vez em jornal e nunca mais parei. Quando fui para Porto Alegre, conheci o pessoal da Grafar (Associação dos Cartunistas do Rio Grande do Sul), que foram meus professores. Depois, publiquei alguns livros: “Artur, o Arteiro” (Razão Bureau Editorial, 2006)  e “Piolhos Invaders” (Razão Bureau Editorial, 2007) foram meus primeiros.

Com o tempo, comecei a participar de vários concursos de cartum, e a ganhar concursos internacionais. Ganhei alguns bem importantes, como o de Piracicaba – que é o mais importante do Brasil. Ganhei em vários países: Coreia do Sul, Turquia, enfim… Contabilizo 30 prêmios internacionais. Meu último livro é o “Sapatiras”. E eu faço o “Memórias de um Esclerosado”, que é a minha autobiografia, contando a minha experiência com a Esclerose Múltipla, que eu publico no Tumblr e no Facebook, por ter um contato maior com o público. Pelos comentários e curtidas posso sentir como está a aceitação da série.

 O que é Esclerose Múltipla? É uma doença neurológica, crônica e autoimune – ou seja, as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e medulares.. A Esclerose Múltipla (EM) não tem cura e pode se manifestar por diversos sintomas.

De que forma você, como pessoa que convive com a Esclerose, explica para as pessoas o que é essa doença?

A Esclerose é uma doença neurológica em que o próprio organismo ataca a bainha de mielina, que é uma gordurinha que protege os neurônios e faz as sinapses. Então, quando o organismo começa a atacar a mielina, ela fica “avariada” e a comunicação eletro-neurológica fica danificada. O meu cérebro manda o comando para o meu pé, por exemplo, e a comunicação não chega como deveria, porque o caminho está como uma estrada esburacada. Uma comparação, bem simplória, mas que permite que você tenha uma noção: imagina que o teu sistema neurológico é uma mangueira, você liga a torneira e lá na ponta vai sair a água, com toda a sua força. No paciente que tem esclerose múltipla, é como se toda a mangueira fosse furada, então a água não vai chegar com toda força lá no final, ela vai se perdendo no meio do caminho.

Quando você descobriu que estava doente?

O primeiro sintoma foi em 2004. Eu tive diplomia, que é quando cada olho olha uma coisa diferente. Não conseguia fazer o foco, e isso durou um mês. Depois, a visão voltou ao normal, e durante anos não aconteceu mais nada. Em 2008 e 2009 foi piorando, e em 2010 eu fui diagnosticado, mas os sintomas vêm bem antes.

Como é a tua rotina lidando com a doença?

Existem vários tipos de tratamento. Eu já tentei alguns, mas nenhum surtiu efeito. Então, estou em busca de algum tratamento que reverta ou estacione a doença. Busco uma reversão, e acredito em uma melhora, mas ainda não sei qual é o caminho. Estou em busca. No dia-a-dia, a gente tem que se adaptar, porque as limitações são visíveis. A Esclerose atacou mais o meu lado esquerdo, então eu preciso usar a bengala para caminhar. E eu sou canhoto, então, para desenhar é bem difícil. Eu não desenho com a mesma facilidade que antes, tenho até treinado com a mão direita pra conseguir continuar desenhando.

 

Por que fazer o “Memórias de um Esclerosado”?

Acima de tudo, eu sou um contador de histórias. Aprendi a desenhar para contar histórias. E um contador de histórias está sempre atrás de uma história para contar, né?! Quando me dei conta de que tinha uma história boa pra contar, uma história importante, eu decidi fazer isso com a arte que eu conheço – a história em quadrinhos. Levei alguns anos para amadurecer a ideia, até ter a coragem pra botar no papel. Em 2015, no meio do ano, eu comecei a publicar. A minha ideia é fazer mais, conseguir desenhar mais rapidamente, e quem sabe no futuro fazer um livro.

 

Atualmente, cerca de 35 mil brasileiros possuem Esclerose Múltipla. O número de diagnósticos em todo o mundo chega a 2,3 milhões.

 

Como é contar a tua história e receber as reações de pessoas que também vivem uma história semelhante?
Isso é um combustível pra mim. Eu tenho recebido um carinho muito grande dos leitores, reconhecimento do meu trabalho. Muita gente se inspira e quer trocar ideias – e isso é muito bom. A minha profissão é muito solitária, eu desenho no meu canto, na minha prancheta, na minha mesa, e não tenho esse contato direto com o público. Mas quando eu publico na Internet, tenho esse contato, esse retorno. Isso é muito importante para mim. Dá força para continuar desenhando.

Reportagem: Carolina Escher, Maria Helena e Nicoli Saft
Fotografias: Divulgação

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