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Aprendizado através do toque

Professores criam material tátil para ensinar matrizes a alunos com deficiência visual



Se você assistiu a algum filme da trilogia Matrix, talvez se lembre dos números verdes em linhas e colunas que passavam nas telas dos computadores, e que, com o desenrolar da narrativa, o protagonista Neo via nos lugares onde antes acreditava ser a realidade. Esses números que regulam e organizam a realidade virtual do enredo são matrizes. Uma ideia simples, a princípio, já que é possível imaginar colunas lado a lado organizadas com o mesmo número de elementos umas das outras. É comum ver disposições assim por aí não só no filme Matrix, mas nas cadeiras das salas de aula enfileiradas e postas de forma uniforme ou numa planilha do Excel. Porém, se você não pudesse ver, como imaginaria esse padrão de elementos?

 

A partir das leis (lei 12.711/2012 e lei 13.409/2016) que dispõem sobre a reserva de vagas para pessoas com deficiência no Ensino Médio, Técnico e Superior e de políticas de inclusão, o número de pessoas com deficiência matriculadas no ensino regular tem aumentado. Assim, as instituições de ensino precisam se adequar tanto no que diz respeito à capacitação de professores para lidar com essas pessoas quanto ao desenvolvimento de instrumentos e ambientes que contribuam para o acolhimento e aprendizagem desses estudantes. Na Universidade Federal de Santa Maria  e no Instituto Federal Farroupilha, cinco por cento das vagas são reservadas para os candidatos com deficiência.

 

 

Dessa forma, motivado pelo ingresso de um aluno com deficiência visual no curso de Licenciatura em Informática, o professor do Instituto Federal Farroupilha de Santo Augusto, Tiago Stefanelo e Silva, buscou confeccionar um material didático alternativo para que alunos com deficiência visual total pudessem aprender o conceito e as operações elementares de matrizes, que são conteúdos obrigatórios da grade curricular. O desenvolvimento do material foi objeto de estudo da dissertação do professor realizada junto com o Núcleo de Apoio ao Portador de Necessidades Especiais (NAPNE) e sob a orientação do professor do Departamento de Matemática da UFSM, João Roberto Lazzarin. Parte do trabalho desenvolvido foi publicado no artigo Matemática inclusiva: ensinando matrizes a deficientes visuais na revista Ciência e Natura da UFSM.

 

Já há material tecnológico existente para esse fim, mas é caro e usa a audição como meio de ensino, o que pode excluir pessoas com cegueira e surdez. Dessa maneira, o objetivo dos professores era criar um material com baixo custo e que fosse baseado no tato, pois assim não excluiria pessoas surdas além de poder ser facilmente confeccionado nas escolas de ensino médio. O pesquisador Tiago conta que conversou com a professora de Braille do Instituto Federal Farroupilha que lhe explicou que ímãs de geladeira eram comumente usados em atividades com alunos cegos. “Desse momento até desenvolver o modelo utilizado foi um ‘pulo’, visto que o modelo matricial é um modelo também geométrico em que o aluno podia tatear e assimilar com certa facilidade os conceitos que lhe eram apresentados”, pontua.

 

O estudante com deficiência visual, Danilo Garcia Weich, do Instituto Federal Farroupilha foi voluntário para testar o material desenvolvido. O professor Tiago destaca que a ótima capacidade de memorização de Danilo facilitou muito o trabalho. Além disso, conforme foram desenvolvendo o trabalho, o aluno percebeu que o sinal em Braille da igualdade não era o suficiente para que ele conseguisse saber de que lado da igualdade estavam os elementos, então o próprio estudante sugeriu usar um retângulo da mesma altura das colunas das matrizes, assim conseguia sentir claramente de que lado estavam os elementos.  O professor também aponta que o aluno teve algumas dificuldades em relação à matemática básica, como, por exemplo, a regra de sinais ao multiplicar e somar números negativos. “Com um pouco de treino e estabelecendo algumas convenções, pouco a pouco, diminuímos estes obstáculos, que já não eram obstáculos por questões visuais, mas sim, desses que qualquer aluno enfrenta quando se afasta um pouco destes tipos de cálculo”, afirma.

 

Para Danilo, a experiência ajudou a cursar a disciplina sem dificuldades. Como também percebe a importância do desenvolvimento desses tipos de materiais e acrescenta: “o material desenvolvido pode ajudar às pessoas cegas que necessitem estudar e aprender os conteúdos relacionados às matrizes e álgebra linear. O material adaptado ficou muito bom, super acessível, e fácil de ser utilizado, facilitando muito o estudo e a aprendizagem de qualquer aluno cego”, conclui.

 

 

Encontrar materiais que facilitem a aprendizagem das pessoas com deficiência visual é uma necessidade crescente na realidade das escolas e universidades do Brasil, visto que essas pessoas estão cada vez mais ocupando o seu lugar de direito no ensino regular. Porém, ainda não existem instituições completamente adaptadas, além de que, principalmente nas escolas, os recursos financeiros tendem a ser escassos. Assim, buscar materiais baratos e de fácil confecção pode ser um caminho para minimizar os obstáculos para a aprendizagem das pessoas com deficiência.

Repórter: Tanise Arruda
Fotografias: cedidas pelo professor
Gráficos: Ítalo Paula

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