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Se as abelhas forem extintas, o mundo acaba?

Cerca de 90% das plantas com flores dependem total ou parcialmente da polinização animal



Ferrão, zumbido, picadas dolorosas e mel. Essas são algumas das coisas que nos vêm à cabeça quando pensamos em abelhas. Mas nem toda abelha ferroa – várias delas são inofensivas, como é o caso dos meliponíneos – e a função delas vai muito além da produção do mel. Esses insetos são muito importantes para as plantas.


De acordo com a professora Márcia d’Avila, do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Santa Maria, do campus de Frederico Westphalen (UFSM – FW), as abelhas têm uma relação íntima com as flores. “Podemos dizer que 90% das plantas precisam de um agente externo para fazer a polinização cruzada, e, somente com a polinização, vai haver a produção de frutos e de sementes”. Segundo d’Avila, já foram feitos vários experimentos que comparam a polinização da abelha com a polinização humana/manual, e chegou-se à conclusão que as abelhas são muito mais eficientes.

Descrição da imagem: Fotografia horizontal e colorida de uma abelha sobre uma flor amarela. A fotografia está em plano fechado e macro. A flor tem pétalas pequenas, finas e alongadas, em grande quantidade. O miolo tem folhas menores na direção vertical. O caule é verde e fino e está em desfoque. A abelha tem cabeça com pelos marrons, olhos em formato oval e na cor preta; o corpo dela é alongado e tem listras amarelo escuras e pretas; a parte final do corpo é preto e pontudo; as pernas são finas e tem uma dobra em ângulo de 90 graus, na qual está presa uma bolota de pólen, na cor amarelo alaranjado. As asas são pequenas e transparentes, com bordas marrons. O fundo é preto e desfocado.

Isso porque esses insetos têm todo o corpo adaptado para a polinização. Elas têm uma “tremidinha” no corpo que faz com que o grão de pólen entre e se acomode no aparelho reprodutor da planta de forma mais eficiente, o que resulta em maior produção de frutos e com mais qualidade.

Descrição de imagens: gif de uma abelha, em detalhe, sobre a pétala de uma flor amarela. A abelha é amarela e preta e tem as asas amarekadas; ela tem olhos redondos, pequenos e na cor preta; o movimento do gif está na bunda da abelha, que faz um movimento de 'tremida' para cima e para baixo, de maneira sutil.

Menos plantas, menos abelhas

Assim como as abelhas são extremamente importantes para as plantas, as flores são essenciais para a manutenção da vida das abelhas. Por isso, se ocorrer a redução da cobertura vegetal – ou seja, de plantas que as abelhas necessitam para a sua alimentação e realizar a polinização – as espécies de abelhas irão diminuir.

 

“Se uma espécie de planta é extinta e esta for a principal fonte de alimento para algumas espécies de abelhas, essas abelhas serão extintas. Ou o contrário, uma determinada espécie de abelha sendo extinta, a planta que necessita exclusivamente dessa abelha para a sua polinização também acaba sendo extinta”, destaca a professora Márcia d’Avila.

 

Como explica d’Avila, com a diminuição da flora e desses insetos, os alimentos também vão diminuir e, mesmo que os humanos tentem implementar uma polinização manual, não conseguiriam polinizar a mesma quantidade de plantas no mesmo tempo em que as abelhas fazem. 

 

Conforme a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), mais de 75% das culturas que alimentam o mundo dependem de alguma forma da polinização de insetos e outros animais, como borboletas, pássaros e morcegos. Por isso, sua ausência pode acabar com espécies como café, maçãs, amêndoas, tomates, cacau, entre outros alimentos.

 

Com o desaparecimento da espécie e, portanto, de algumas plantas, uma gama de herbívoros, como os insetos, coelhos e veados, também passariam fome e, por consequência, seriam extintos. 

 

“Esses animais também são fonte de alimento para outros animais. Ou seja, em pouco tempo iria faltar alimento para os carnívoros do topo da cadeia alimentar, porque o alimento deles não teve alimento, que não teve planta e, assim, seria um colapso geral (nos ecossistemas)”, ressalta a professora.A professora de Engenharia Florestal destaca ainda que ocorreria um grande desequilíbrio ambiental no ciclo da água, no regime de chuvas e haveria mudanças no clima.É um efeito cascata. As plantas e as abelhas são a base do planeta. Seria a mesma coisa que se tirasse a luz do sol: o planeta também iria entrar em colapso, porque sem a luz do sol as plantas não se desenvolvem. As plantas são a base para tudo”, destaca.

Evite agrot´´oxicos para proteger as abelhas!

Existem cerca de 20 mil espécies de abelhas conhecidas no mundo. No Brasil, esse número fica em torno de três mil espécies. Porém, muitas delas são extintas antes mesmo de serem descobertas. Conforme destaca a professora Márcia D’avila, as abelhas estão cada vez mais ameaçadas pela ação humana, e os apicultores e meliponicultores sofrem com isso há bastante tempo.

 

Além do desmatamento, a aplicação indiscriminada de produtos químicos também contribui para a extinção desses insetos. No momento em que uma abelha de uma determinada colonização é infectada, ela leva o problema para dentro do enxame e afeta todas as outras abelhas. “Quando é aplicado pesticidas nas culturas no período de floração das plantas, as abelhas que visitarem estas flores serão afetadas”, ressalta D’avila.

 

De acordo com a organização não-governamental Greenpeace Brasil,  entre dezembro de 2018 e março de 2019, mais de meio bilhão de abelhas foram encontradas mortas em diversas regiões do nosso país. Isso porque o Brasil é um dos países que mais utilizam veneno nas plantações, via pulverização aérea e terrestre.

Veredito final: Se as abelhas fossem extintas, o mundo acabaria em alguns anos. De acordo com a professora Márcia d’Avila, do curso de Engenharia Florestal da UFSM – campus Frederico Westphalen, é difícil dizer com exatidão em quantos anos, mas não demoraria muito tempo. Esses insetos desempenham um papel muito importante no ecossistema e sua extinção afetaria a vida de muitos outros seres (plantas, animais e humanos).

Expediente

Reportagem: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista;

Design gráfico: Noam Wurzel, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista;

Fotografia: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;

Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Ana Carolina Cipriani, acadêmica de Produção Editorial e bolsista; Alice dos Santos, acadêmica de Jornalismo e voluntária; e Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário;

Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;

Edição geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas.

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