Um trabalho pioneiro no Brasil nasce na UFSM. Trata-se do Centro de Pesquisa em Ambiente Simulado (Cepas), criado em 2013 e coordenado pelo professor Luiz Osório Portela e pelo cardiologista Jorge Luiz Freire.
O Lapas, fruto de um convênio entre a Universidade e o Ministério do Esporte, é o único laboratório completo do Cepas. O local é composto por uma esteira de alta performance, que suporta cadeirantes, ciclistas e corredores e que simula subidas, descidas, e também o trajeto de determinadas provas com velocidade de até 70 km/h. Além disso, uma câmara pode simular altitude de até 9 mil metros, umidade de 14 a 90% e temperaturas entre -40 e 50ºC.
O laboratório recebeu investimento de R$ 1,2 milhão do governo federal e tem entre seus objetivos proporcionar aos atletas brasileiros em preparação para os Jogos Olímpicos de 2016 e outras competições relevantes melhores condições de treinamento.
O Laboratório já recebeu atletas olímpicos como Clemilda Fernandes, destaque do ciclismo brasileiro. Em 2013, a competidora, que representou o ciclismo feminino nos Jogos Olímpicos de Pequim (2008), preparou-se no Lapas para os Jogos Pan-Americanos, que ocorreram no México: “A experiência foi excelente, gostaria de voltar um dia com mais tempo”, avalia a atleta. Clemilda ficou em terceiro lugar na prova contra o relógio, perdendo apenas para as campeãs mundiais Carmen Small, dos Estados Unidos, e Tara Witten, do Canadá.
A “falta de ar” é a principal característica percebida quando uma pessoa transita de uma cidade como Santa Maria, que está a 151 metros acima do nível do mar, para La Paz, na Bolívia, que está a 3.640 metros. Quanto maior a altitude, menor é a pressão atmosférica, o que deixa o ar mais rarefeito e baixa a concentração de oxigênio na atmosfera, diminuindo também a concentração de oxigênio no sangue do indivíduo. “O treinamento em altitude adapta o organismo àquela altitude, melhorando a performance em tempo, resistência, e outros fatores”, explica Freire. Em atletas, a consequência dessa diferença de altitude pode ser a falta de fôlego, o que interfere no resultado final da competição.
O Cepas representa um grande avanço não só para a área do esporte, mas também para a pesquisa. Ele pode ser uma ferramenta útil no diagnóstico precoce de doenças. Atualmente, pesquisas para o tratamento de doenças degenerativas crônicas – como hipertensão arterial e diabetes – são desenvolvidas, utilizando o conceito de altitude. O laboratório é único no Brasil e América Latina, o que significa que realiza pesquisas inéditas nesse setor.
O Cepas é formado por três laboratórios: o Laboratório de Hipoxia e Ambiente Limpo, o Laboratório de Nutrição Experimental e o Laboratório de Performance em Ambiente Simulado. “É esse tripé que é promissor”, avalia o cardiologista Freire.
Laboratório de Hipoxia* e Ambiente Limpo (Lahal)
Laboratório em fase de finalização. Também é coordenado pelo professor Luiz Osório Portela. É possível encontrar uma sala de ambiente limpo, com 99,9% de oxigênio, ambiente ideal para a construção de equipamentos tecnológicos.
*Hipoxia: baixa concentração de oxigênio nos tecidos sanguíneos
Laboratório de Nutrição Experimental (Lanex)
Em fase de construção. A responsável por esse laboratório será a professora de Nutrição Esportiva Gitane Fuke. Ele dará suporte ao Lapas, através da orientação sobre a alimentação adequada dos atletas, além de permitir o desenvolvimento de técnicas de preparação de alimentos que auxiliem nos programas de prevenção ou tratamento de doenças.
Reportagem: Aline Witt