Imagine que você vai a uma festa com amigos, consome a mesma quantidade de bebida alcoólica de sempre e, algumas horas depois, começa a sentir uma dor de cabeça intensa, náuseas, mal-estar semelhante a ressaca e até mudanças estranhas na visão…
Se isso acontecer, é possível que você tenha ingerido uma bebida contaminada com metanol. Situações como essa têm sido relatadas recentemente na mídia e preocupam cada vez mais quem consome bebidas alcoólicas, especialmente quando a procedência não é garantida.
Mas afinal, o que é o metanol?
O metanol (ou álcool metílico) é um líquido incolor, de fórmula molecular CH3OH. Ele também pode ser chamado de hidroximetano, álcool de madeira ou reverberatório, e é inflamável e facilmente dissolvido em água, podendo ser usado em várias atividades industriais. Ele é extremamente tóxico ao corpo humano, pois apresenta rápida absorção pelas membranas gastrointestinais, cutâneas e mucosas, permanecendo no corpo de 12 a 24 horas, ou até de 30 a 52 horas na presença do etanol, que é o álcool das bebidas. Ou seja, quando há presença de metanol e etanol, o metanol tende a permanecer no nosso organismo por mais tempo, sendo muito mais prejudicial.
Por que o metanol é tão perigoso?
Dentro do organismo, o metanol é convertido em substâncias altamente tóxicas, como formaldeído e ácido fórmico, responsáveis pelo quadro conhecido como acidose metabólica — quando há acúmulo de ácidos no sangue, reduzindo o pH.
Esses metabólitos aumentam as espécies reativas de oxigênio, levando à lesão oxidativa de tecidos, incluindo danos diretos à retina. É por isso que alterações visuais, como visão turva e sensibilidade à luz, são tão comuns na intoxicação e podem evoluir para cegueira irreversível.
Como identificar uma possível intoxicação?
Os sintomas costumam surgir entre 6 e 24 horas após o consumo da bebida — podendo chegar a 96 horas quando há álcool comum junto.
Os sinais incluem:
-Náuseas e vômitos
-Dor abdominal
-Dor de cabeça intensa
-Sudorese
-Confusão mental
-Convulsões
-Alterações visuais (visão borrada, fotofobia)
-Em casos graves, cegueira permanente
Diante desses sintomas, é fundamental procurar atendimento médico imediatamente.
Tratamento: o que existe hoje?
Além do uso tradicional do etanol farmacêutico como antídoto, o Ministério da Saúde passou a distribuir o fomepizol, que impede a conversão do metanol em seus metabólitos tóxicos. Isso reduz o risco de acidose metabólica e melhora o prognóstico. Porém, não se automedique: somente profissionais de saúde podem avaliar o quadro e administrar o tratamento adequado. Lembre-se, quanto antes realizado o tratamento, maiores as chances de sair sem grandes danos!
Como se proteger?
Embora o Ministério da Saúde não recomende o consumo de álcool, caso você opte por consumir, siga estas orientações:
- Compre bebidas apenas em locais confiáveis e autorizados.
- Evite produtos sem rotulagem ou com preços muito abaixo do comum.
- Observe o lacre: se estiver torto, mal encaixado ou violado, não consuma.
- Em caso de suspeita, procure atendimento médico e, se possível, leve a embalagem da bebida para análise.
Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores são as chances de evitar danos graves.
Referências Bibliográficas:
ARIAS, C. E. N.; ROMERO, C.; LA ROTA, G. Intoxicación por metanol. Acta Neurol Colomb. vol.41 no.2 Bogotá abr./jun. 2025 Epub Junho 24, 2025.
BRASIL. Ministério da Saúde. Ministério da Saúde recebe lote com 2,5 mil unidades do antídoto fomepizol. Disponível em: <Ministério da Saúde recebe lote com 2,5 mil unidades do antídoto fomepizol — Ministério da Saúde>. Acesso em: 16 out. 2025.
BRASIL. Ministério da Saúde. Estados e municípios recebem novas orientações para atendimento e notificação de casos de intoxicação por metanol. Disponível em: <Estados e municípios recebem novas orientações para atendimento e notificação de casos de intoxicação por metanol — Ministério da Saúde>. Acesso em: 16 out. 2025.
BRASIL. Ministério da Saúde. NOTA TÉCNICA CONJUNTA Nº 376/2025-SVSA/SAES/SECTICS/MS. Disponível em: <Nota Técnica Conjunta nº 376/2025-SVSA/SAES/SECTICS/MS — Ministério da Saúde>. Acesso em: 16 out. 2025
Autora:
Giovana Bolzan, acadêmica de enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e colaboradora do Portal Ciência e Consciência.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/5729974068768994