Neste mês de maio, faz 1 ano do pior desastre climático da história do Estado do Rio Grande do Sul, ocorrido em 2024. Segundo os Boletins sobre o impacto das chuvas no Rio Grande do Sul, emitidos pela Secretaria de Comunicação do Estado do Rio Grande do Sul, os impactos foram catastróficos e abrangentes: dos 497 municípios gaúchos, 478 foram afetados, com quase 2 milhões e 400 mil pessoas impactadas. Mais de 15.000km² ficaram submersos, com perdas humanas e sociais alarmantes: foram 183 mortes confirmadas e 27 desaparecidos, além de 806 feridos. Cerca de 146 mil pessoas foram desalojadas e mais de 50 mil ficaram desabrigadas.
Estes dados constam no relatório “As enchentes no Rio Grande do Sul: lições, desafios e caminhos para um futuro resiliente”, diagnóstico técnico-científico da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), ligada ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) do Brasil. Para além do cenário apresentado, a publicação também descreve lições, desafios e caminhos para prevenção, resposta e resiliência. Para isso, leva em conta as mudanças climáticas, o monitoramento, as falhas e as fragilidades como referência para a construção de um futuro resiliente.
O objetivo do estudo é compreender a tragédia, mas também construir a partir dela a oportunidade de formular políticas públicas e estratégias que priorizem a resiliência hídrica e a prevenção de futuros desastres. Nesse sentido, visa fortalecer a governança local, embasar a captação de recursos e inspirar ações práticas, como a adoção de infraestruturas adaptadas às mudanças climáticas e a criação de sistemas de resposta mais eficazes. A partir do diagnóstico, é possível destacar a comunicação de risco entre as fragilidades, mas também reforçar seu protagonismo em momentos críticos. Isso fica demonstrado em vários trechos da publicação.
Confira os principais destaques relacionados à informação e à comunicação:
“As enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul evidenciaram uma série de fragilidades que ampliaram seus impactos sobre a população e as estruturas urbanas. Entre os fatores que contribuíram para o agravamento do desastre, destacam-se aspectos relacionados ao planejamento urbano, à manutenção das infraestruturas de proteção e drenagem pluvial urbana, à eficiência dos sistemas de alerta e resposta, e à comunicação do risco”.
“O que se percebeu, de maneira geral, foi que a comunicação do risco se mostrou deficiente tanto para autoridades quanto para a população. Informações sobre o avanço da cheia e medidas de precaução foram divulgadas tardiamente ou de forma imprecisa. Também a circulação de desinformações entre a população acabou contribuindo para reduzir a capacidade de resposta da sociedade”.
“O evento de 2024 destacou a importância de uma resposta coordenada e eficiente diante de desastres naturais, além da necessidade de investimentos em infraestruturas resilientes e robustas e sistemas de alerta precoce. Além disso, evidenciou as vulnerabilidades existentes no planejamento urbano, na gestão de recursos hídricos e na comunicação de riscos à população. As lições aprendidas com essa experiência são fundamentais para orientar ações futuras, não apenas no Rio Grande do Sul, mas em todo o país, que se vê diante de eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes”.
Algumas conclusões do estudo:
– Redes de monitoramento do clima e dos corpos d’água são a primeira linha de defesa contra desastres;
– Um monitoramento mais robusto e inteligente é necessário para lidar com o futuro mais crítico e incerto;
– Marcas de cheia registram o passado e alertam para o futuro, mostrando-se uma ferramenta de comunicação dos riscos importante para a população.
– Previsão e alerta de cheias reduzem os impactos negativos;
– A tragédia das enchentes de 2024 não foi apenas um desastre natural, mas também um reflexo de fragilidades estruturais e falhas na gestão do risco;
– Cheias históricas esquecidas causam maior vulnerabilidade: um dos aspectos do desastre de 2024 que chama a atenção foi a falta da percepção de risco pela população;
– A comunicação durante desastres, tanto entre autoridades quanto com a população, precisa ser mais eficiente.
Para a construção de um futuro resiliente, o diagnóstico técnico-científico da ANA sobre as enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul destaca os seguintes pontos:
- Chuva extrema de 2024 deve ser considerada como cenário possível para o planejamento não só no Rio Grande do Sul, mas também em outras regiões.
- Monitoramento contínuo é a base para a preparação e para decisões rápidas.
- Conhecimento e tecnologia como aliados na prevenção de novos desastres e na reconstrução após a tragédia.
- Sistemas de alerta para reduzir perdas e danos.
- Planos de contingência salvam vidas quando atualizados e testados.
- Manutenção preventiva evita falhas em sistemas de proteção.
- Marco legal para garantir a eficácia permanente dos sistemas de proteção.
- Financiamento contínuo para estruturas operantes.
- Cultura de prevenção começa na educação.
- Colaboração institucional e conhecimento local multiplicam resultados.
- Governança articulada protege vidas e economias.
- Infraestrutura deve dialogar com o clima do futuro.
- Legado da tragédia: reconstruir melhor.
O diagnóstico é dirigido aos gestores em todas as esferas de governo e revela o resultado do trabalho conjunto entre universidades, instituições de pesquisa, associações de classe e demais parceiros do Grupo Técnico de Assessoramento para Estudos Hidrológicos e de Segurança de Infraestruturas de Preservação e de Proteção das Cheias no Estado do Rio Grande do Sul (GTA-RS).
Fonte
Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (Brasil). As enchentes no Rio Grande do Sul: lições, desafios e caminhos para um futuro resiliente. Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico. – Brasília: ANA, 2025.