A Professora Débora Ortiz de Leão, coordenadora do curso de Pedagogia Diurno no Centro de Educação (CE) da UFSM, participou de entrevista para o programa Conectados, da Rádio Imembuí, em que comentou os resultados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (TALIS) 2024, divulgada pela OCDE e repercutida na mídia nacional.
A reportagem da Agência Brasil, publicada em 6 de outubro, destacou que, segundo o levantamento, docentes brasileiros perdem, em média, 21 % do tempo de aula para resolver questões disciplinares — ou seja, cerca de uma hora em cada cinco horas de aula seria consumida nesse esforço de manutenção da ordem.
O estudo, realizado em mais de 55 países e coordenado no Brasil pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), busca compreender, a partir da percepção de professores e diretores, as condições de trabalho, a formação, o bem-estar e a valorização docente.
A edição de 2024 contou com a participação de mais de 6 mil professores brasileiros dos anos iniciais e finais do ensino fundamental. No país, a pesquisa revelou um cenário de contrastes: professores que demonstram satisfação com o ambiente escolar, mas enfrentam baixa valorização profissional, sobrecarga de trabalho e estresse elevado.
O Relatório Nacional da TALIS 2024 mostra que:
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36,5% dos professores brasileiros têm contratos por tempo determinado — quase o dobro da média da OCDE (19,3%).
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72% dos docentes atuam em tempo parcial, e 19% de forma involuntária.
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58,7% das turmas têm mais de 10% dos alunos com problemas de comportamento, enquanto a média da OCDE é de 34,1%.
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35% das turmas apresentam mais de 30% dos estudantes com baixo desempenho acadêmico.
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33,9% das turmas são compostas majoritariamente por alunos de lares socioeconomicamente desfavorecidos — mais que o dobro da média da OCDE (15,7%).
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20,9% dos professores brasileiros relatam sentir muito estresse no trabalho (OCDE: 19,3%), e 16,5% afirmam que o trabalho tem impacto negativo na saúde mental.
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Apenas 22% dos docentes estão satisfeitos com seus salários, embora 86,6% afirmem gostar de ser professores.
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53% dos professores brasileiros acreditam que podem influenciar políticas educacionais, índice muito acima da média da OCDE (23,9%), demonstrando engajamento e senso de protagonismo profissional.
Esses dados foram destacados também pela Agência Brasil, que repercutiu a manchete “Professor brasileiro perde 21% do tempo de aula para manter disciplina”, um dos indicadores mais emblemáticos do levantamento. Segundo a TALIS, os professores brasileiros dedicam em média 21% do tempo de aula para lidar com problemas de comportamento e manutenção da disciplina, enquanto a média dos países da OCDE é de 15%.
Reflexões da professora Débora Ortiz
Na entrevista, a professora Débora destacou que os números da pesquisa devem ser analisados em conjunto com questões estruturais da educação brasileira, como a organização curricular, as condições de trabalho, a formação docente e a valorização profissional.
“Quando o professor precisa dedicar tanto tempo à manutenção da disciplina, isso não é apenas um problema de comportamento dos estudantes, mas também de tempo e espaço escolar, gestão da aprendizagem e apoio institucional”, destacou.
Ela ressaltou ainda que o perfil dos alunos e as expectativas familiares sobre o modelo de escola influenciam diretamente o ambiente educacional, exigindo formação continuada e estratégias pedagógicas capazes de lidar com a diversidade e com os desafios emocionais e sociais presentes em sala de aula.
A professora também recebeu o agradecimento da equipe da Rádio Imembuí pela pronta colaboração dos profissionais da UFSM, que contribuíram para o debate público sobre os resultados da TALIS e sobre os caminhos da formação docente no país.
Sobre a TALIS 2024
A TALIS (Teaching and Learning International Survey) é coordenada pela OCDE desde 2008 e aplicada no Brasil pelo INEP/MEC. O levantamento coleta percepções de professores e diretores sobre sua profissão, condições de trabalho e práticas pedagógicas, com o objetivo de subsidiar políticas educacionais baseadas em evidências.
A edição de 2024 enfrentou desafios significativos durante a aplicação, como as enchentes no Rio Grande do Sul e a greve das universidades federais, mas ainda assim obteve altas taxas de participação e um conjunto robusto de dados sobre a realidade docente brasileira.
Texto e edição: Alessandra Alfaro Bastos – Núcleo de Comunicação do CE