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Afinal, a culpa é do celular?

Profissionais da Psicologia alertam que o detox digital deve ir além das escolas



Reportagem e redação: Pedro Moro

Fotos: Jessica Mocellin

O que antes era hábito, agora é proibido. Desde janeiro deste ano, a restrição ao uso de celular em escolas passou a ser lei. Ainda nas primeiras linhas da nova legislação, o documento destaca que: “esta Lei tem por objetivo dispor sobre a utilização, por estudantes, de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais […], com o objetivo de salvaguardar a saúde mental, física e psíquica das crianças e adolescentes”.

Ao pensar nos objetivos citados, a medida surge como uma tentativa de combater as consequências do uso excessivo dos aparelhos eletrônicos.“A sociabilidade, a questão da interferência no sono e o impacto na educação estão entre as principais áreas prejudicadas”, afirma a professora Mônica Arpini, do departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria.

Nova legislação restringe o uso de celulares em escolas

O que antes era hábito, agora é proibido. Desde janeiro deste ano, a restrição ao uso de celular em escolas passou a ser lei. Ainda nas primeiras linhas da nova legislação, o documento destaca que: “esta Lei tem por objetivo dispor sobre a utilização, por estudantes, de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais […], com o objetivo de salvaguardar a saúde mental, física e psíquica das crianças e adolescentes”.

Ao pensar nos objetivos citados, a medida surge como uma tentativa de combater as consequências do uso excessivo dos aparelhos eletrônicos. “A sociabilidade, a questão da interferência no sono e o impacto na educação estão entre as principais áreas prejudicadas”, afirma a professora Mônica Arpini, do departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria.

Autocontrole. Essa palavra define o cotidiano de Angelina Londero, estudante do ensino médio do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (Ctism), que precisou adaptar-se à restrição do uso de celulares na instituição. “Eu precisei me acostumar com a ausência de algo que estava sempre do nosso lado”, conta.

Apesar da legislação objetivar a melhora da saúde mental, Angelina não observa melhorias diretas em sua saúde psíquica, nem em seus estudos. No entanto, a estudante revela que a proibição fortaleceu a sua atenção durante as aulas.

Conforme o diretor do Ctism, Rafael Adaime Pinto, desde o início de 2025, a coordenação do colégio dialogou com os estudantes sobre a restrição a fim de requisitar compreensão e apoio. “No Ctism nós temos quatro cursos técnicos. Então, eventualmente, o uso de celulares é necessário. Nós passamos a instruir os professores a permitir esse uso apenas para questões pedagógicas”, revela.

Em contrapartida, Rafael aponta que os estudantes devem possuir os aparelhos celulares, mas sem utilizar no horário escolar. “É necessário o uso de celular para fazer contato com familiares, realizar pagamento de refeições, passagens, entre outros. Então, é difícil impedir que eles tragam o celular. Tendo isso em mente, trabalhamos com a conscientização do estudante sobre o uso nas dependências da escola”, comenta.

Colégio Técnico Industrial de Santa Maria promove alternativas ao uso do celular

Uma questão além da escola

A proposta da legislação possui lacunas. Em paralelo à promulgação da lei, em fevereiro de 2025, a revista The Lancet Regional Health publicou uma pesquisa da Universidade de Birmingham que apontou que a proibição do uso de celulares em escolas não melhora o bem-estar mental dos adolescentes, nem o desempenho acadêmico. Mesmo com essa identificação, o estudo ainda aponta que a redução do uso de telas traz benefícios à saúde mental. Porém, essa investida precisa ocorrer para além das limitações escolares.

Assim pensa a psicanalista e docente da Universidade Federal de Pelotas Camila Peixoto Farias, que reforça o valor de um adulto estar presente para mediar a relação de crianças e adolescentes com a tecnologia, tanto em casa, quanto na escola. “Não podemos falar de uso excessivo de eletrônicos sem falar da lógica precarizada do trabalho e da sobrecarga, especialmente das mulheres mães. Muitas vezes entregar o celular é a única forma de conseguir dar conta das tarefas do dia”, aponta.

A lógica precarizada mencionada pela profissional refletiu-se em uma cultura de alienação mental, ou seja, nós “olhamos para a tela para [nos] anestesiar”. Essa premissa levantada por Camila traz preocupações: “eu fico pensando como isso afeta o indivíduo em formação, diferente de gerações atrás que não tinham tanta exposição à tecnologia. Isso me faz ficar alerta pois estamos perdendo a cultura da experimentação”, analisa.

Como viver além das telas?

Tanto Camila quanto Mônica frisam que a experiência é fundamental para a formação e boas vivências de crianças é adolescentes. “A experiência do corpo, do movimento, da vinculação é vital. A gente não aprende a dançar olhando um vídeo, nem a fazer amigos olhando um vídeo. A gente precisa experimentar isso, viver a corporeidade”, explica Camila.

Em concordância com o pensamento de Camila, Mônica acrescenta: “A ideia é ampliar essas experiências corpóreas que se perderam com o uso indiscriminado dos celulares. Do ponto de vista do desenvolvimento são prejuízos na questão de sociabilidade e aprendizagem”, relembra.

Ao pensar no detox digital, a psicóloga Mônica aponta que as instituições de ensino devem oferecer alternativas estimulantes aos estudantes.

“A ideia é estimular o brincar livremente, algo que fica distante do celular. Investir em pracinhas bem equipadas, atividades coletivas como jogos esportivos. Em geral, realizar atividades que contrapõe esse uso excessivo”, conta a profissional.

Ao pensar além das fronteiras escolares, a psicanalista Camila frisa que os primeiros passos para mudar o comportamento de crianças e adolescentes diante das telas começa com a forma que os pais ou responsáveis interagem com a tecnologia também. Segundo ela, o exemplo é necessário para levar motivação aos pequenos, além de trazer benefícios aos adultos também. “A criança aprende muito mais pelo exemplo do que pelo que a gente fala. Se o adulto está sempre no celular, mesmo dizendo para o filho não usar, a mensagem que fica é a da prática, não a da fala”, pontua.

Tendo isso em mente, Camila sugere que o caminho não está apenas em restringir o acesso às telas, mas em oferecer alternativas que estimulem o corpo, a imaginação e os vínculos humanos. Brincadeiras, atividades ao ar livre, contar histórias, incentivar a criatividade, interação social, como jogos ou piqueniques, são estratégias para equilibrar a relação com a tecnologia.

De acordo com Rafael, o Ctism tem buscado atividades alternativas ao uso dos celulares. O estímulo à interação social com os colegas, atividades esportivas foi intensificado, além do incentivo à participação das atividades culturais promovidas pelo colégio e pela UFSM. “Nós instalamos uma mesa de ping pong no pátio e os alunos têm utilizado, assim como jogos de vôlei”, acrescenta.

Além disso, Rafael revelou que a instituição tem buscado adquirir jogos de tabuleiro e outras atividades que permitam a interação entre os alunos. “Queremos também montar um grupo de xadrez e permitir que os alunos exercitem essa prática. Também estamos investindo em nossa biblioteca setorial”, finaliza.

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