Reportagem e redação: Kethelyn Rodrigues Radunz
No Brasil, cerca de 7,3% da população enfrenta algum tipo de deficiência, segundo dados do Censo 2022 do IBGE. Um número que revela não apenas a dimensão do desafio social, mas também a necessidade de soluções que promovam a inclusão. O projeto “Desenvolvimento de Sistemas Eletroeletrônicos voltados à Tecnologia Assistiva”, coordenado pelos professores do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM), Thiago Cattani Naidon e Saul Azzolin Bonaldo, é um exemplo de como a inovação e a criatividade podem ser aliadas da acessibilidade, criando produtos de baixo custo para pessoas com deficiência (PCD) ou que necessitem de alguma Tecnologia Assistiva (TA).
O projeto desenvolve sistemas eletroeletrônicos voltados à tecnologia assistiva (TA), com foco em soluções acessíveis e eficientes, que atendam à realidade de pessoas que não têm condições financeiras para adquirir produtos adaptados. O projeto está vinculado ao grupo de pesquisa “NightWind”, iniciado em 2016, e desde 2023 busca expandir suas ações.
Tecnologias Assistivas para o Dia a Dia
Uma das motivações do projeto é fornecer soluções para problemas diários enfrentados por pessoas com deficiência. “Nós começamos a perceber as dificuldades que as pessoas enfrentam em seu cotidiano, por exemplo, abrir uma garrafa PET, cortar as unhas ou até mesmo calçar uma meia”, comenta o professor Saul.
A criação do projeto visa não apenas produzir dispositivos, mas também divulgar e disseminar conhecimento sobre tecnologias assistivas.
Entre os projetos desenvolvidos pelo grupo, destaca-se a criação de kits didáticos e dispositivos como abridores de garrafa, e até um auxílio para apertar pastas de dentes, tudo acessível e adaptável para qualquer pessoa, independentemente da deficiência. O projeto também ganhou relevância ao lançar, este ano, colheres estabilizadoras, para pessoas com tremores, uma alternativa mais barata em comparação aos modelos disponíveis no mercado.
A Participação dos Alunos:
O projeto se destaca por seu modelo de trabalho colaborativo, no qual alunos de diferentes áreas contribuem com suas experiências e saberes.”Temos uma equipe multidisciplinar, com alunos de Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Ciências da Computação e até mesmo de cursos de acessibilidade”, explica Saul.
O ambiente informal e democrático permite que todas as ideias sejam ouvidas e que os alunos se sintam à vontade para trazer suas propostas e inovações.
O trabalho de extensão também é um dos pilares do projeto. Além do desenvolvimento de novos dispositivos, atua com ações educativas e a produção de materiais como apostilas, videoaulas e minicursos para disseminar o conhecimento sobre tecnologias assistivas. O objetivo é que mais pessoas possam aprender a criar e adaptar suas próprias soluções de acessibilidade, seja em casa, no trabalho ou na escola.
O Impacto da Inclusão Digital
Em um futuro próximo, a iniciativa planeja integrar seus dispositivos a um sistema mais complexo. O exemplo mais notável é o desenvolvimento da colher estabilizadora para pessoas com tremores. Além de permitir que o usuário se alimente de forma mais autônoma, o dispositivo também será capaz de enviar dados em tempo real para médicos ou familiares, ajudando no monitoramento da saúde da pessoa.
Outros projetos incluem dispositivos de auxílio na administração de medicamentos, como um dispenser de remédios que ajuda as pessoas a retirarem medicamentos dos blisters de forma mais fácil e segura, e um dispositivo de alarme para lembrar os pacientes de tomar a medicação na hora certa.
O Potencial de Crescimento e Impacto
A visão para o futuro é clara: continuar inovando, oferecendo mais soluções acessíveis, e promovendo a conscientização sobre a importância da inclusão social, educacional e digital para pessoas com deficiência. A ideia é ampliar a linha de dispositivos assistivos, que vão desde objetos simples e cotidianos até equipamentos mais especializados. Além disso, o grupo está comprometido em criar parcerias com empresas e outras universidades para potencializar a produção e distribuição dos produtos criados.
O projeto também estará presente na Maker Faire, feira de inovação que acontece em outubro, onde o público poderá ver de perto alguns dos dispositivos desenvolvidos e até mesmo solicitar a impressão de itens personalizados na hora, como abridores de garrafa e cortadores de unha, através de impressoras 3D.
A criatividade e a tecnologia podem ser potentes ferramentas de inclusão, criando soluções simples, acessíveis e de baixo custo para transformar a vida de muitas pessoas. Ao mesmo tempo, o projeto aponta para um futuro em que mais pessoas com deficiência possam se beneficiar de tecnologias assistivas, sem que isso implique em altos custos.
A inclusão vai muito além de adaptar espaços físicos e garantir o acesso a serviços públicos, pequenas atitudes como pensar em dispositivos simples, mas inovadores, podem fazer a diferença no dia a dia.
Para mais informações sobre o projeto, acesse o Instagram: @ctism_nightwind