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Desinformação de proximidade

por Laura Storch



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Se por um lado a pandemia de Covid-19 fortaleceu temporariamente alguns meios de comunicação, já que os cidadãos confinados em casa passaram a buscar mais informação sobre um vírus até então desconhecido, ela também acelerou o declínio dos meios de comunicação social regionais, aqueles que realizam a cobertura noticiosa das realidades mais locais. O jornalismo de proximidade enfrenta dificuldades financeiras e dependência do apoio estatal, o que resulta em um número reduzido de jornalistas a trabalhar nessas redações. Assim como acontece na prática jornalística como um todo, no caso dos media regionais, a transição para o digital acaba também por restringi-los aos muros das redações de jornal já que precisam lidar com um fluxo avassalador de informação vinda do público e das redes sociais, reduzindo o tempo para o trabalho de campo. Ao mesmo tempo, conteúdos produzidos por membros das comunidades são facilmente acessados pelo telefone celular por esse mesmo público. No entanto, a falta de verificação desses conteúdos pode abrir espaço para a disseminação de desinformação ou de informação incorreta no espaço público em um nível local (Luísa Torre e Pedro Jerónimo, 2023).

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Em um mundo tão fartamente conectado, vivemos nosso dia-a-dia em relação com notícias do mundo todo. O cantor de k-pop, a guerra na diagonal oposta, as birras políticas e econômicas do país e do mundo nos cruzam como se estivessem em nosso contexto pessoal. E de certa forma estão – nos afetam muito diretamente. Nesse contexto, pode ser fácil “esquecer” que vivemos nosso dia-a-dia em relação com um universo um tanto mais particular: o microcosmo das cidades, dos locais físicos pelos quais andamos e dos quais dependemos de forma muito direta – nosso trabalho, nossas famílias, as escolas, os vínculos. A expansão dos processos de comunicação para um modelo global, via internet, redimensionou nossa relação com as informações mas não destituiu nosso compromisso diário com os problemas mais imediatos do local.

Dados do monitoramento Atlas da Notícia apontam que “[…] quase 14% da população brasileira vive em cidades sem jornalismo local, são os chamados desertos de notícias. [O mapeamento de 2021] identificou que 5 em cada 10 municípios estão nessa condição. São mais de 2.900 cidades, onde vivem mais de 29 milhões de pessoas, em que não foram encontrados veículos de imprensa local” (Rádio Agência Nacional). Sem jornalismo profissional, mas com acesso às plataformas de redes sociais e outros aplicativos de comunicação direta.

Esse contexto brasileiro se repete em outros lugares do mundo, e é o eixo de discussão de um trabalho publicado no mês passado pela revista Texto Livre, da UFMS, de onde tirei a aspa que abre o texto. Esfera Pública e desinformação em contexto local é escrito pelos pesquisadores portugueses Luísa Torre e Pedro Jerônimo, ambos da Universidade Beira Interior (Covilhã, Portugal). Os autores fazem uma boa síntese dos processos de desinformação, da plataformização algorítmica e dos efeitos desses elementos na reconfiguração da noção de esfera pública. Eles também apontam para os desafios da prática de fact-checking em contextos locais e discutem a checagem coletiva como uma alternativa para redações com pouca infraestrutura, como em geral são caracterizadas as redações de jornais locais:

“Mobilizar o público pode ser uma tarefa complicada uma vez que, embora os jornalistas dos meios regionais partilhem territórios com suas audiências, com a digitalização a permear todas as instâncias de produção e as redações a diminuir, eles tendem a ir menos a campo, perdendo o contato direto com a comunidade. Em segundo lugar, permitir – e até incentivar – as multidões a realizarem um trabalho que é do domínio dos jornalistas pode resultar na perda do prestígio ou reputação, assim como o seu poder social enquanto autoridade da informação confiável nessas comunidades”, discutem os autores.

O texto aponta para um panorama importante: a desinformação é um fenômeno multifatorial e complexo, que atinge de modo particular comunidades locais. São raros os estudos sobre desinformação local e sobre os efeitos da desinformação em territórios locais. São poucos, infelizmente, os trabalhos sobre jornalismo local. Desinformação local pode ser um relevante objeto de pesquisas, e conhecimentos sobre essas práticas podem colaborar para a compreensão mais ampliada da desinformação como fenômeno global.

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