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Jornalismo + Inteligência Artificial + Internet das Coisas = Jornalismo das Coisas?

por Paola Jung



No meu último texto, citei que estava começando o meu trajeto de revisão bibliográfica para estabelecer o estado da arte relacionando as palavras “jornalismo” e “algoritmos”, e agora, um mês após, sigo realizado esse trabalho. Hoje, gostaria de compartilhar com vocês a tese “Um olhar no jornalismo do futuro a partir da Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial (AI): prospecções científicas e os desafios tecnológicos nas redações”, defendida em 2019 por Marcelo Silva Barcelos para a obtenção do título de Doutor em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 

Em uma busca pelo Google Acadêmico e no Portal de Teses e Dissertações da Capes, não encontrei outro trabalho que relacionasse IoT com Jornalismo realizado após esse, apenas o livro que foi lançado pelo próprio autor em 2020, com o nome “Jornalismo em todas as coisas: o futuro das notícias com Inteligência Artificial (AI) e Internet das Coisas (IoT)“. 

Já que o livro não está com visualização completa no Google, irei falar especificamente da tese hoje. Dentro do paradigma de digitalização do mundo e das coisas que ficam a AI e a IoT: “Sob o enquadramento dessas duas tecnologias, partimos do princípio de que qualquer objeto poderá assumir uma identidade, relativa autonomia e/ou interdependência e linguagem inteligente, conectando-se e promovendo interação entre si e com seus usuários, carregando dados e gerando uma experiência inovadora no que diz respeito ao consumo da informação jornalística, como já ocorre com soluções, aplicativos e recursos que geram conteúdos jornalísticos para relógios inteligentes, carros e casas conectados e até mesmo roupas pareáveis com algum dispositivo de conectividade em rede.” (BARCELOS, 2019, p.21)

Nesse cenário futurista, o autor pensa em uma nova forma de se fazer jornalismo, com o nome “Jornalismo das Coisas (JoT)”: “Optamos por definir e defender que temos um novo arranjo aqui sob o argumento de que o Jornalismo das Coisas reúne expressão técnica, de formato e linguagem exclusivos, próximo do que seria um novo gênero jornalístico, mas que chamaremos de modelo inteligente.” (BARCELOS, 2019, p.23). 

Com o problema de pesquisa: “Quais são os modelos possíveis e produtos, dispositivos e telas – entendidos como coisas cognificáveis e/ou objetos inteligentes – derivados da Internet das Coisas e Inteligência Artificial – que se adaptam e se prestam para publicação, distribuição e consumo de material jornalístico? E, nesse sentido, que permitem determinar a constituição de uma nova geração para o Jornalismo Digital que sustente a terminologia do Jornalismo das Coisas, configurando uma fase além e mais avançada do Jornalismo Ubíquo?” (BARCELOS, 2019, p.30), o autor utiliza uma metodologia combinada entre uma revisão bibliográfica baseada em affordances (ubiquidade e design de interface), coleta de dados empíricos de forma exploratória quantitativa e qualitativa a partir da identificação, categorização e atualização das fases do Jornalismo Digital e de novas linguagens em plataformas digitais, além de realizar entrevistas com editores e chefias nas respectivas áreas de produto, novas tecnologias e gestão. 

A tese está estruturada em 4 grandes capítulos. No primeiro, introdutório, são apresentados resumos das principais formas de produção jornalística baseada em tecnologias Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC), que começam na mobilidade do jornalismo digital e vão até a primeira geração do jornalismo do futuro. 

Já no segundo capítulo, são discutidas as principais características, funções e aplicações da Internet das Coisas e da Inteligência Artificial. O conceito de IoT existe há mais de 20 anos, entretanto, “Para compreendermos melhor o conceito, as características de sua tecnologia e os paradigmas comunicacionais que emergem diante de exemplos concretos, apresentamos a historiografia da Internet das Coisas em uma visão mais focada no que ela pode se tornar a ser do que o que já fora previsto, sob o recorte de uma sociedade que caminha para extrema conectividade, integralização da vida digital, computação ubíqua e cidades inteligentes, gerenciadas por dados de seus atores sociais.” (BARCELOS, 2019, p.76). 

Assim, “De forma sintética, o termo Internet das Coisas (IoT) pode ser compreendido e aplicado a objetos que têm capacidades de comunicação entre si, de receber dados de um determinado artefato, interpretar e decodificar a ponto de responder a um novo comando, como se escorrêssemos (ou melhor, transportássemos) uma determinada informação em trânsito, como em uma infovia, que passa de suporte em suporte, de terminal em terminal, assumindo formas e funções distintas da anterior, mas carregando seu histórico, memória e significados, a partir da conexão em rede com a Internet, numa cadeia potencialmente infinita de serviços, telas, menus e interfaces, tempos e apropriações sociais.” (BARCELOS, 2019, p.77). 

Talvez isso traga uma memória de um conceito mais antigo, inspirador para tudo isso: o ciborgue, também levantado pelo autor: “Humanos acoplados a não humanos (coisas cognificáveis) são outras condições vigentes num cenário de exploração da Internet das Coisas, algo que nos remonta à ideia precursora de um indivíduo extensionado, ramificado, ciborguizado e adaptado de McLuhan, em sua célebre obra Os Meios de Comunicação como Extensão do Homem, mas numa visão futurista e aparelhada do sujeito social. Essa visão/condição parece perfeitamente atual quando olhamos para o potencial da IoT e a infinidade de aplicações já comercializadas e experimentadas. ” (BARCELOS, 2019, p.89). 

Apesar de parecer distante, o autor destaca que: “Sparrow (2014) e Simondon (2015) defendem que os subsídios para consolidar o território da Internet das Coisas, dentro desse cenário futuro, já existem – e neles cabem inúmeros formatos e linguagens jornalísticos: (1) objetos com capacidade de armazenar e transportar dados entre si (pareabilidade), independente da ação humana; (2) sistemas de rastreamento e localização que permitem apontar conteúdos conforme a aproximação do usuário e do próprio objeto em si; (3) dispositivos portáteis, relógios inteligentes e óculos de realidade aumentada (e Virtual – os conhecidos VRs) e holografia; e (4) web semântica capaz de dar sentido e interpretar dados, conteúdos e pesquisas do público, direcionando notícias e publicidades por meio da personalização. ”  (BARCELOS, 2019, p.102). Para além da IoT, no capítulo o autor também debate sobre o uso de AI dentro do jornalismo, bem como sobre as notícias automatizadas, produzidas sem o auxílio de jornalistas e das narrações sintéticas, suas possibilidades e perigos. 

A seguir, no terceiro capítulo, é defendida a proposta da nova geração do jornalismo digital, o Jornalismo das Coisas: “Inserido neste contexto, o jornalismo pode proporcionar uma nova maneira de entregar conteúdo, não apenas em dispositivos pessoais móveis, mas também em telas espalhadas por objetos e pela cidade digital, levando em conta a localização dos usuários, suas preferências e, ainda, criando oportunidades de colaboração (BARCELOS, 2011; BRAMBILLA, 2009; TRÄSEL, 2008). No caso de uma grande reportagem multimídia (LONGHI, 2014), uma das contribuições poderia estar na imersão do leitor enquanto interagente do espaço que ocupa, dando feedbacks e relatando percepções de acordo com o tema in loco a partir da cidade digital e redes telemáticas. ”  (BARCELOS, 2019, p.185). 

Nesse sentido, pensando em como a produção de conteúdo foi feita até o momento, e como pode ser feita no futuro, o autor ressalta oportunidades: “Até hoje, a maioria da experiência virtual entre indivíduos e/ou ferramentas se dá por meio de links ou aplicativos. A partir da IoT, as tecnologias de rastreamento, identificação e troca de informações por aproximação, por exemplo, como as etiquetas de radiofrequência, pareabilidade possível com bluetooth e processadores que interconectam diferentes dispositivos ganham nova relevância, usos e apropriações trazendo alterações à própria natureza da notícia como conhecemos atualmente.” (BARCELOS, 2019, p.186). 

Assim, Marcelo Barcelos defende que ao vislumbrar uma cidade interligada por pessoas, objetos e dados, o jornalismo será levado para uma era pós-industrial. Por consequencia, um novo modelo de jornalismo (o Jornalismo das Coisas) pode surgir, readaptando o seu formato, temporalidade, mídias e linguagem.  Durante o capítulo, são apresentados alguns exemplos de conteúdos e iniciativas parecidas que já foram realizadas, 

Por último, na conclusão, são apresentados os principais riscos, avanços e possibilidades do Jornalismo das Coisas. Para que essa ideia avance e possa ser visto como formato ou como um gênero narrativo, é necessário consolidar a “[…] fusão do Jornalismo apropriado, formatado e distribuído em duas tecnologias recentes: Inteligência Artificial (AI) e Internet das Coisas (IoT).” (BARCELOS, 2019). Ao mesmo tempo, o autor relata uma previsão de que a plataformização de todos os dados coletados por gigantes da tecnologia, durante a consolidação do jornalismo das coisas, pode apresentar risco a qualidade da informação, visto que podem ser criadas bolhas de informações sensorizadas, em decorrência da hipersegmentação de conteúdo. 

Ao final, são abordadas temáticas como a privacidade do usuário, a sensorização dos espaços, a fragilização radical da intimidade, a ética das máquinas inteligentes, o jornalismo automatizado e as possibilidades desse novo formato de fazer jornalismo. Além disso, o autor elabora graficamente alguns cenários do jornalismo das coisas acontecendo, deixei abaixo dois dos cenários, você pode conferir os demais acessando a pesquisa na íntegra. 

Essa foi uma jornada interessante dentro das possíveis inovações do jornalismo, e de um olhar futurista que ao mesmo tempo em que parece um filme de sci-fi, também parece muito possível. Gostei de conhecer os trabalhos do autor, e agora ficamos com o questionamento se o Jornalismo das Coisas realmente vai se tornar uma realidade, e se vai ser acessível a toda a população. O futuro nos dirá!

Para saber mais: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/214828

Referências: 

BARCELOS, M. Um olhar no jornalismo do futuro a partir da internet das coisas (iot) e inteligência artificial (ai): prospecções científicas e os desafios tecnológicos nas redações. Tese de doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina, 2019. 

BRAMBILLA, Ana. Jornalismo open source: discussão e experimentação do OhmyNews International. 2006. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Informação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006. 

LONGHI, Raquel Ritter. O turning point da grande reportagem multimídia. Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia, [s.l], v. 21, n. 3, p. 897-917, 2014. 

MCLUHAN, Marshall. Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem. São Paulo: Cultrix, 1969, 408 p. 

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