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Inteligência Artificial e Jornalismo: oportunidades e pesquisas acadêmicas

por Paola Jung



Recentemente iniciei minha pesquisa sobre o estado da arte relacionando as palavras “jornalismo” e “algoritmos”, e nessa jornada, encontrei um trabalho interessante sobre inteligência artificial que eu gostaria de compartilhar com vocês. Trata-se do relatório “Algoritmos e notícias – A oportunidade da inteligência artificial no jornalismo”, publicado em 2021 pelo OberCom – Observatório da Comunicação, um centro de investigação focado na análise das dinâmicas comunicacionais contemporâneas situado em Lisboa, Portugal.

O relatório traz uma abordagem mais focada no mercado, e analisa 9 empresas de comunicação social que utilizam algum tipo de IA em suas rotinas produtivas. Suas preocupações principais são perceber até que ponto essa automação influencia ou substitui o trabalho do jornalista, bem como as implicações éticas disso. 

No Sumário Executivo (p.3), o relatório afirma que cerca de 8 a 12% das tarefas dos jornalistas são desempenhadas por sistemas automatizados. São principalmente tarefas básicas, como a indexação e etiquetagem de conteúdo, transcrição de entrevistas, tradução de conteúdo, análise de largas bases de dados, extração de dados e identificação de tendências. Entretanto, a IA também consegue desempenhar tarefas mais complexas, como gestão de fluxos de trabalho, otimização de paywalls, otimização de sistemas de recomendação, redação automática de pequenas peças informativas, aumentar a interação da audiência, alertar se a notícia possui algum viés e detecção de fake news, deep fakes ou bots

Em uma análise de mercado (p.4), é destacado que a IA requer muito investimento e demora para ser implementada, visto que os sistemas de machine learning precisam de tempo para serem treinados. Assim, existe um grande risco de que se crie um abismo entre grandes e pequenas organizações jornalísticas, em termos de inovação e conhecimento. 

“Num relatório da London School of Economics percebeu-se que estão a ser criados poucos postos de trabalho diretamente relacionados com IA. À medida que as tecnologias forem sendo implementadas, o foco parece estar mais na adaptação dos fluxos de trabalho e cargos existentes. A formação dos jornalistas para a literacia de dados é por isso essencial.” (OberCom, 2021, p.5). 

Essa questão da formação para a literacia de dados também é levantada por Fabia Cristine Ioscote (2021), ao final da sua publicação referente ao estado da arte de pesquisas que relacionam inteligência artificial com jornalismo: 

“Destaca-se ainda que, apesar de os artigos se concentrarem na busca por ferramentas ou na discussão do trabalho do jornalista, não há estudos que tensionem a questão do ensino nos cursos de graduação. A partir do cenário digital e diante de tantas transformações, é preciso levar em consideração o que se ensina e quais competências profissionais o mercado absorve. O jornalista do futuro […] é o que escreve a linha de código? Em que sentido a computação ocupa lugar nas redações?” (Ioscote, 2021, p.179). 

Além disso, o relatório do OberCom também destaca as questões éticas, visto que as notícias produzidas por algoritmos afetam a confiança do público com relação ao conteúdo, já que sem transparência não é possível saber como ele prioriza um conteúdo em detrimento de outro. Assim, “A transparência também passa por responsabilizar quem controla a IA, ou seja, quem toma as decisões, e identificar quem é responsável pela gestão e supervisão. Aqui o serviço público de media tem responsabilidade acrescida.” (OberCom, 2021, p.12). 

Em sua conclusão, o relatório ressalta que: “A inteligência artificial (IA) permite automatizar tarefas que consumiam muito tempo aos jornalistas, libertando tempo para conteúdos de qualidade e ajudando a construir conteúdos mais personalizados que melhoram a qualidade da experiência do consumo de notícias.” (OberCom, 2021, p.23). Ioscote (2021) também chega a reflexões nesse sentido após a conclusão do seu estado da arte:

“Embora alguns pesquisadores defendam que não haja a necessidade de compreender o que é e como funciona um algoritmo, ou seja, apenas o reconhecimento da sua importância já é o suficiente para adentrar a discussão, é fundamental destacar que a compreensão do que é e do que se constitui um algoritmo computacional pode auxiliar uma visão mais crítica acerca do fenômeno da dataficação. Nesse sentido, um conhecimento mais refinado sobre o que é a IA, o big data, os algoritmos e as suas operações pode contribuir para a busca de soluções – como visto nos artigos publicados em periódicos, que tratam da possibilidade de desenvolvimento de ferramentas – e com as discussões relacionadas ao quanto há de inovação nestas ferramentas. Apesar de tratarem de inovações tecnológicas, ambos os corpora analisados não apresentaram termos como inovação ou apropriações, o que nos leva a outros questionamentos importantes para a área, como: será que há de fato inovação no jornalismo, ou apenas apropriações das ferramentas da Ciência da Computação?” (Ioscote, 2021, p. 179). 

Nesse sentido, para os pesquisadores, a IA deve ser considerada como uma ferramenta jornalística, sendo que a próxima fase de inovação passa pelo desenvolvimento de algoritmos editoriais, os quais deveriam contar com a participação dos jornalistas no processo de desenvolvimento.  Por fim, “A IA não vai salvar a indústria dos media, mas é uma tecnologia que vai transformar o jornalismo, como aconteceu antes com a máquina de escrever, o telefone ou o computador, tendo a particularidade de ser a ferramenta fundacional para era da Big Data.” (OberCom, 2021, p.24).

Acredito que a leitura desse relatório e das pesquisas que relacionam jornalismo com inteligência artificial são relevantes para que tenhamos ciência dos caminhos que o jornalismo está tomando, quais são as possibilidades de trabalho que temos e quais são as problemáticas que devemos prestar atenção. Lembrando que esses textos são de 2021, e provavelmente ainda teremos muitas novidades mediante as novas tecnologias que se popularizaram nos últimos 2 anos.  Continuarei o meu mapeamento relacionado a jornalismo e algoritmos, vamos ver quais serão as novidades que aparecerão nessa jornada! 

Para saber mais:

Algoritmos e noticias – A oportunidade da inteligência artificial no jornalismo

OberCom – Observatório da Comunicação

Referências:

OBERCOM (2021). Algoritmos e noticias – A oportunidade da inteligência artificial no jornalismo. ISSN 2183-3478.

IOSCOTE, F.C (2021). Jornalismo e inteligência artificial: tendências nas pesquisas brasileiras entre 2010 e 2020. Novos Olhares, 2021. 

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