O projeto de extensão do curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria, intitulado “Direito em Canto & Verso”, tem a proposta de trabalhar o Direito através de apresentações em canto e declamação para transmitir mensagens com temas sociais e políticos. Existente há quatro anos, o projeto é formado e roteirizado pela professora do curso de Direito, Maria Beatriz Oliveira da Silva, com músicas e poesias que foram proibidas durante a Ditadura Civil e Militar no Brasil de 1964.
“Essa história começou em 2012 – na mesma época em que também iniciavam-se os trabalhos da comissão da verdade – e então surgiu a intenção de trabalhar com o recorte da memória e verdade”, relata a professora Maria Beatriz.
“Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar”
Apesar de Você – Chico Buarque
A apresentação do grupo dura em torno de trinta minutos e foi concebida para a abertura de eventos, especialmente que tratem de temas do direito. A equipe é composta por oito acadêmicos e pela professora Maria Beatriz, que apresentam músicas como “O Bêbado e a Equilibrista” de Elis Regina, “A Cartomante” de Ivan Lins e “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré.
O espetáculo é feito no escuro, com o auxílio de lanternas, mas em uma apresentação na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), em Bagé, ele foi realizado a luz do dia e em local aberto. “Essa apresentação na Unipampa foi inédita e bastante desafiadora. A recompensa foi a reação do público, que adorou”, conta Maria Beatriz. Outra ocasião lembrada pela professora foi a despedida da cantora principal do grupo Paula Durks Cassol, no Centro Universitário La Salle (Unilassalle) de Canoas, em agosto deste ano.
Paula, que canta desde os cinco anos de idade e se juntou ao grupo em 2013, conta que entrou no projeto após ver a primeira apresentação do grupo, que aconteceu na Semana Acadêmica do Direito de 2012: “Ao ver aquela apresentação tão linda, misturando tão maravilhosamente música e poesia, senti a necessidade de fazer parte daquilo. Além dos ensaios e apresentações, as trocas de ideias e ideais, os debates, sempre cercados pela arte, me transformaram e me sensibilizaram para o mundo, coisa que nas salas de aula quase nunca é possível de acontecer. Devo muito do que sou e da visão que eu tenho de mundo hoje ao Canto & Verso e as pessoas incríveis que ali pode conhecer e que tocaram a minha alma”.
“Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarices
No solo do Brasil…”
O Bêbado e A Equilibrista – Elis Regina
Porém, a equipe não recebe o apoio esperado da Universidade e do curso de Direito: “Quando acontecem espetáculos aqui em Santa Maria, não recebemos ajuda nenhuma. Se a apresentação é fora da cidade, conseguimos com bastante esforço um veículo que nos leve até o local e alimentação”, diz Maria Beatriz. A professsora define o projeto como um “afrontamento”.
“Desde muito tempo participei do processo de redemocratização, nas lutas, a luta pela nova constituição, que agora já está em perigo, nesse processo no movimento sindical que eu coordenava, sempre achei interessante a questão da música e da poesia para levar mensagens, para ter atividade cultural. Eu concebi uma performance de poesia chamada canto e verso, que tratam das temáticas das lutas sociais,existia uma em especial que tratava de mulheres; “mulher amor e luta”, e quando cheguei em Santa Maria adaptei o canto e verso aos temas ligados ao direito e a ditadura militar.”
Nesse momento, o elenco deve passar por uma reestruturação, já que muitos de seus componentes estão se formando e seguindo novos rumos, como foi o caso da Paula Cassol. Atualmente, a professora Maria Beatriz cogita iniciar uma procura por novos integrantes, para que adquiram experiência com os alunos que ainda restam da formação inicial do grupo.
Reportagem: Gabriela Pagel, Maira Trindade e Maria Júlia Corrêa
Fotografias: Gabriela Pagel e Jocéli Lima