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Governo brasileiro adota estratégia de contenção sem declarar conflito



Por João Fortunato (Jornalista, Mestre em Comunicação e Cultura Midiática e especialista em Gestão de Crises e Media Training)

 

O governo brasileiro tem recorrido a todas as ferramentas clássicas de mitigação de danos utilizadas em crises corporativas — mas sem reconhecer oficialmente que está diante de uma crise. Trata-se, na prática, do mais grave atrito comercial com os Estados Unidos em mais de 200 anos de relações diplomáticas. A imprensa tem se referido ao impasse como uma “guerra comercial com tintas políticas”, iniciada de forma unilateral pelos EUA. Mesmo em posição superavitária, o governo norte-americano anunciou a imposição de tarifas de até 50% sobre produtos importados do Brasil.

Discretamente, o governo brasileiro instalou seu gabinete de crise, sob liderança do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Mesmo que o tema não estivesse diretamente ligado à sua pasta, Alckmin seria, de todo modo, a escolha natural: trata-se de um político experiente, equilibrado, sereno e articulado, qualidades indispensáveis neste momento.

O primeiro passo foi reunir-se com lideranças empresariais e representantes de entidades dos setores mais afetados pelo tarifaço, para definir conjuntamente as estratégias de resposta. Ficou estabelecido que o governo federal será o único interlocutor oficial junto às autoridades americanas — cabendo exclusivamente ao vice-presidente se pronunciar em nome do Brasil.

Esse posicionamento, no entanto, não impede manifestações dos setores atingidos. Pelo contrário: todos os atores têm funções bem definidas no comitê de crise. Presidentes de entidades empresariais dialogam com seus pares norte-americanos; empresas conversam diretamente com seus clientes; e um grupo multipartidário de parlamentares brasileiros viajará a Washington para reuniões com congressistas dos Estados Unidos.

O Itamaraty, por sua vez, atua em várias frentes. Além de construir pontes com representantes do governo americano, tem articulado apoio junto a grupos empresariais daquele país, estabelecido diálogo com entidades multilaterais como a OMC e a União Europeia, e mobilizado apoio diplomático para a posição brasileira.

Outro ponto da estratégia brasileira é o uso da imprensa internacional e da comunidade acadêmica como aliadas. Professores de universidades americanas de prestígio têm dado declarações públicas, com repercussão na mídia, classificando as medidas do governo Trump como desproporcionais e injustificadas. As tarifas, que entram em vigor no dia 1º de agosto, já provocam reações dentro dos próprios Estados Unidos.

A mídia americana, por sua vez, tem questionado a decisão de seu governo não apenas por considerá-la excessiva, mas por seus efeitos colaterais imediatos: escassez de produtos, aumento de preços e o risco de desemprego. Assim como no Brasil, crescem as preocupações com inflação e impacto econômico interno.

O objetivo central da estratégia brasileira é construir um cerco político, institucional e de opinião pública nos EUA, que pressione o governo Trump a voltar à mesa de negociação. A intenção não é escalar o conflito, mas reverter uma decisão arbitrária que jamais deveria ter sido tomada.

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