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Quando uma opinião se transforma em crise



Por João Fortunato (Jornalista, Mestre em Comunicação e Cultura Midiática e especialista em Gestão de Crises e Media Training)

 

Mesmo na era dos influencers, a palavra de um líder de opinião pode transformar percepções, acionar crises e impactar negócios bilionários.

 

Antes mesmo de chegar à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump já exercia forte influência como líder de opinião. Empresário do setor imobiliário e apresentador de televisão de sucesso, suas declarações públicas sempre repercutiram — influência que se multiplicou quando assumiu o comando de uma das maiores potências do mundo.

Um exemplo emblemático foi a polêmica gerada quando, sem qualquer respaldo científico sólido, afirmou que o uso de paracetamol por gestantes poderia aumentar o risco de autismo em crianças. A declaração atingiu diretamente a imagem do Tylenol, marca líder global, e colocou o fabricante, o laboratório Kenvue, sob intensa pressão.

É verdade que alguns estudos chegaram a apontar uma possível associação entre o consumo do medicamento durante a gestação e o autismo. No entanto, essas pesquisas são inconclusivas e não comprovam causalidade. Tanto que o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia veio a público reafirmar que o paracetamol continua sendo considerado, por médicos de todo o país, um dos poucos analgésicos seguros para gestantes. Outras entidades relevantes também se manifestaram em defesa do medicamento, mas o estrago já estava feito.

A situação se agravou quando a FDA (Food and Drug Administration), praticamente endossando as declarações de Trump, iniciou um processo para alterar os rótulos de produtos com paracetamol, incluindo um alerta sobre risco de autismo. Caso a mudança se concretize, a Kenvue poderá enfrentar um número ainda maior de ações judiciais. Até aqui, nenhum processo movido por consumidores foi bem-sucedido. Mas, após as declarações de Trump e o movimento da agência reguladora, o cenário jurídico pode mudar.

Esse episódio evidencia a força — e o perigo — da influência exercida por líderes de opinião. Embora hoje os chamados influencers dominem espaço e cifras astronômicas, sua credibilidade raramente se equipara à de vozes reconhecidas pela experiência ou posição pública. No passado, líderes de opinião eram frequentemente acionados para legitimar marcas, produtos e serviços, especialmente em momentos de crise. Quando elogiavam, funcionavam como selo de confiança. Quando criticavam, suas palavras tinham peso suficiente para abalar a reputação de uma empresa.

O caso “Trump x Paracetamol” mostra que, mesmo na era dos influencers, os líderes de opinião seguem exercendo papel decisivo na construção — ou destruição — da imagem de uma marca. Para o bem e para o mal.

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