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Coquetel da crise: falsificação, desinformação e má gestão



Por João Fortunato (Jornalista, Mestre em Comunicação e Cultura Midiática e especialista em Gestão de Crises e Media Training)

 

Quando a falsificação de bebidas expõe não apenas um crime, mas a fragilidade das instituições, a omissão das marcas e a politização de um problema que deveria ser tratado como questão de saúde pública.

 

O mercado brasileiro de bebidas alcoólicas destiladas enfrenta uma crise sem precedentes. A falsificação de bebidas não é novidade, mas jamais se registrou algo com tamanha escala e abrangência. É, sem dúvida, um caso de polícia — mas não apenas isso.

Enquanto os responsáveis não forem identificados e presos, e as marcas adulteradas devidamente apontadas, todo o setor sofre com a desconfiança dos consumidores e a consequente retração nas vendas. Dados recentes apontam queda superior a 40% no volume comercializado.

A crise atual difere radicalmente daquela ocorrida há cinco anos, envolvendo uma cervejaria mineira. Na ocasião, o problema estava concentrado em uma única marca. Houve vítimas, a fábrica foi fechada e os produtos recolhidos do mercado até que as causas fossem esclarecidas. Naquele episódio, a condução da comunicação foi desastrosa — cada declaração dos executivos apenas ampliava o desgaste público. Um exemplo clássico de amadorismo em gestão de crise.

Agora, o principal equívoco não está nas empresas, mas no campo político. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, precipitou-se ao politizar o tema antes de conhecer todos os fatos. Afastou de imediato a hipótese de envolvimento de facções criminosas — linha de investigação já conduzida pela Polícia Federal — e recusou o apoio oferecido pelo Governo Federal, por meio dos Ministérios da Justiça e da Saúde. Ao rejeitar a cooperação e desperdiçar a oportunidade da criação de um gabinete de crise integrado, o governador paulista abriu mão de avançar com inteligência, rapidez e segurança na apuração do caso.

O Ministério da Saúde, por sua vez, agiu com senso de urgência e responsabilidade. Deixou as divergências políticas de lado e iniciou medidas concretas: importou antídoto do Japão, produziu campanhas de orientação à população e divulgou informações sobre como identificar bebidas adulteradas, reconhecer sintomas de intoxicação e avaliar a segurança das embalagens. Uma resposta técnica, alinhada à gravidade da situação — afinal, ainda não se sabe a dimensão do problema nem até onde essas bebidas chegaram.

É compreensível que as grandes marcas de destilados evitem se expor isoladamente, para não gerar interpretações equivocadas. No entanto, suas entidades de classe deveriam assumir protagonismo na comunicação, falando diretamente com o consumidor. Afinal, este não é um problema que se resolve apenas nos gabinetes das autoridades. É uma crise que exige transparência, informação e orientação pública.

A associação que representa bares e restaurantes tem sido mais assertiva na comunicação, orientando clientes e profissionais. Seus associados estão na linha de frente — são o elo mais vulnerável dessa cadeia e, portanto, os mais expostos.

Diante de um quadro tão grave, todos os atores envolvidos — governo, empresas, entidades setoriais e autoridades sanitárias — precisam se reunir e agir de forma coordenada. Esta não é apenas uma questão policial ou política: é um problema de saúde pública e confiança social, que exige informação clara, ação conjunta e liderança responsável.

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