Ir para o conteúdo OBCC Ir para o menu OBCC Ir para a busca no site OBCC Ir para o rodapé OBCC
  • International
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

O poder da comunicação para prevenção, contenção e recuperação de atos violentos em escolas no Brasil



Por Ana Flavia Bello (CEO da Cosafe Latam, Mestra em Administração Estratégica pela PUC/PR)

 

Introdução

O mundo em que vivemos hoje é altamente complexo, volátil e incerto. Os riscos e os cenários de crise se multiplicam. A tecnologia e as redes sociais nos aproximam e, ao mesmo tempo, nos afastam.

Crianças e adolescentes pedem por amor, acolhimento e socorro, mas os códigos que utilizam para chamar a atenção para seu sofrimento não são bem compreendidos pelas gerações que os antecedem. Pela sua imaturidade em lidar com seus desafios, muitos buscam aliviar sua dor por meio de atos violentos, contra si e contra outras pessoas.

As escolas, que deveriam ser um porto-seguro para nossos filhos, apresentam crescente índice de violência, incluindo atos de violência extrema.

Com diz o velho provérbio africano, “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. Esse provérbio representa um chamado à responsabilidade coletiva.
Quando falamos de proteção de crianças e adolescentes nas escolas, estamos falando de um desafio estrutural, cultural e humano.

Neste contexto, a comunicação é um fator chave nas famílias, entre a família e a escola, dentro das escolas, com autoridades e na Comunidade como um todo.

Este artigo traz como foco os processos de comunicação como fator preventivo, de contenção e de recuperação, relacionados a atos violentos dentro das unidades escolares brasileiras.

 

Comunicação de risco

Para prevenção de comportamentos perigosos entre nossos jovens, as boas práticas sugerem uma identificação antecipada, por meio de um assessment completo a fatores indicativos já conhecidos, como histórico violento em atitudes e falas, além de mudanças comportamentais como o isolamento, baixa de desempenho escolar, mudanças na higiene pessoal, na saúde mental, entre muitos outros.

Como fator preventivo, as boas práticas apresentam a escuta ativa dentro das escolas como uma boa forma de acolhimento aos alunos que passam por processos de sofrimento emocional.  Para isso recomenda-se a criação de espaços e canais internos de comunicação abertos aos alunos, com profissionais preparados para identificar comportamentos de risco e trabalhar para mitigá-los.

É muito importante que esses canais tenham ampla divulgação interna e que permita também o anonimato para denúncias, principalmente considerando que grande parte dos jovens conta para um colega suas intenções violentas antes do ato em si.

Uma vez identificada qualquer suspeita é fundamental também que exista um canal direto de comunicação entre escolas e autoridades e entre escolas e famílias. Em inglês usa-se o jargão “You see, you talk”. Na dúvida, é melhor sempre errar pelo excesso de zelo, reportando as suspeitas para quem tem capacitação para investigar e avaliar.

Porém, se a mitigação não for suficiente e a escola vir a ser palco de um ato violento, uma resposta rápida torna-se primordial para salvar vidas. Cada segundo faz diferença para a contenção do agressor e proteção das vítimas.

 

Comunicação em crise

A rápida intervenção dependerá de protocolos pré-definidos de resposta a este tipo de cenário, equipe muito bem treinada, que passe por exercícios simulados constantes e o uso de ferramentas de comunicação apropriadas com todos os públicos envolvidos.

A comunicação rápida com as autoridades policiais e médicas é essencial para contenção dos danos e preservação das vidas que ali estão. Porém, considerando a rapidez em que um evento como esse começa e termina, ela não é suficiente.

Uma boa prática difundida mundialmente é o uso de aplicativos de Comunicação dedicados a notificações em massa de emergência, que agilizam a troca interna de informações essenciais para salvar vidas desde os primeiros minutos.

As comunicações são direcionadas aos adultos da escola, por meio de aparelhos celulares e computadores, para ativação dos protocolos treinados, e também para alunos, com instruções claras de como proceder naquela emergência em andamento.

Uma vez que um ato violento foi contido, a Comunicação também tem papel fundamental na pósvenção, para as notificações necessárias para todos os públicos de interesse, internos e externos, como pais de alunos, parentes de funcionários, entidades públicas, sindicatos, imprensa e outros.

Recomenda-se a criação de um canal aberto especialmente dedicado para os públicos diretamente impactados, proporcionando interação e cuidados de forma estruturada e perene.

A escola que for vítima da exposição negativa entre os públicos externos, decorrente do incidente violento, também precisará recorrer às melhores práticas de Comunicação de Crise. Pois para além dos incalculáveis traumas inerentes ao evento, pode haver danos reputacionais que afetarão as operações da escola.

 

Comunicação de crise

Quem bem se comunica controla a narrativa, torna-se autoridade, engaja e influencia.

Antes da crise, como forma efetiva de preparação da Comunicação para os piores cenários, recomenda-se previamente mapear públicos de interesse e canais de contato, construir mensagens-chave por cenário crítico e treinar porta-vozes.

As mensagens podem ser discutidas previamente para ganhar tempo durante a crise. Elas devem primar pela humanização, respeito, clareza, transparência, empatia e acolhimento.

O tempo de resposta é fator crítico durante uma crise. Não comunicar rapidamente propicia que outros assumam o controle da narrativa da Comunicação, abrindo flancos para desinformação e disseminação de fake news, que pode expor negativamente a escola e os públicos envolvidos.

Outra prática importante é manter um contínuo monitoramento das mídias e acompanhar a tendência da repercussão externa, para adaptação das estratégias.

Profissionais de comunicação especializados em Comunicação de Crise podem apoiar as escolas durante a crise e na recuperação da reputação.

Por fim, para que a escola cresça sua maturidade para o melhor enfrentamento de crises futuras, recomenda-se uma avaliação estruturada pós-evento, por meio do registro e compartilhamento interno de Lições Aprendidas, em canal de comunicação seguro e com controle de acesso aos dados.

Como conclusão, embora as escolas sejam cada vez mais frequentemente cenário de atos violentos, as boas práticas mostram caminhos efetivos para prevenção, contenção e recuperação e, neste contexto, a Comunicação é grande aliada em todas estas etapas.

Segurança em escolas é uma missão coletiva. Se colocarmos a proteção escolar no centro das prioridades, se reconhecermos os sinais, se acolhermos as vozes que nos alertam e se respondermos de forma rápida e coordenada, teremos não apenas escolas mais seguras, mas comunidades mais fortes e preparadas.

 

_____

Artigos assinados expressam a opinião de seus autores.

Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-880-512

Publicações Recentes