No dia 27 de janeiro de 2013, a ativação de um sinalizador gerou um incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria. O ocorrido deixou 242 mortos, centenas de feridos e se tornou um dos maiores desastres em boates do mundo. A tragédia lotou os hospitais santa-marienses na época e, por conta disso, profissionais da área da saúde da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mesmo no período de férias, se voluntariaram para auxiliar na assistência às vítimas.
A ação de fisioterapeutas no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) foi coordenada pela Professora Ana Lúcia Cervi Prado, chefe do serviço de fisioterapia do Husm na época e atual vice-coordenadora do curso de fisioterapia da UFSM. Prado conta que no dia do incêndio os professores do departamento já se disponibilizaram para fazer o trabalho que necessitava ser feito naquele momento em todos os locais que receberam os sobreviventes da Kiss. “Professores voluntários do departamento de fisioterapia que foram no domingo e se colocaram à disposição para fazer todo o trabalho que precisasse ser feito naquele momento da urgência. Então não foi só dentro do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), esses professores foram fazer avaliações em todos os outros locais em que receberam os sobreviventes da Kiss.” Comentou a vice-coordenadora.
Segundo a professora, plantões diários de mais de 15h foram realizados para o tratamento das vítimas. A demanda de fisioterapeutas era constante por conta da inalação de fumaça tóxica, a queima das vias aéreas e queimaduras superficiais. De acordo com Prado, nos dias que seguiram o incêndio o hospital parecia uma cena de filme de guerra e o cansaço físico e emocional era gigantesco. “ Faria tudo de novo? Claro que sim! A força que creio ser Divina nos amparou para ouvirmos tantos depoimentos e vermos tantas sequelas naquelas pessoas jovens as quais teríamos que curar suas feridas. Então, eu acho que foi um período da minha vida em que eu me fortaleci por ver a alegria dos pacientes e dos seus familiares avançando em direção a retomada da vida.”.
A partir da ação voluntária de assistência, professoras do curso de fisioterapia se organizaram para o atendimento de reabilitação às vítimas que recebiam alta hospitalar portadoras de sequelas das queimaduras da pele e da inalação da fumaça tóxica. Essa organização acabou por originar um centro de atendimento no ambulatório de fisioterapia do Hospital Universitário, agregando os demais profissionais da área da saúde tanto do CCS como do HUSM. Esta iniciativa, com ajuda da Secretaria de Saúde do Município, do Estado e também com recursos federais, constituiu uma equipe de saúde que posteriormente se tornou o Centro Integrado de Atendimento à Vítima de Acidente (CIAVA). O centro permanece ativo até hoje para outros fins que não só as vítimas do incêndio da Boate Kiss, sendo considerado referência no tratamento multiprofissional de vítimas de acidentes.
Com o CIAVA e todo o conhecimento gerado por meio do tratamento das vítimas da Kiss, o Centro de Ciências da Saúde da UFSM teve uma grande contribuição na pesquisa voltada para a recuperação de vítimas de tragédias. Pesquisas e trabalhos produzidos por professores e seus orientados ganharam reconhecimento como base para tratamentos e cuidados em diversos lugares do Brasil e do Mundo, como comenta a professora “Todo esse trabalho de desenvolvimento gerou um testemunho documentado, conferindo um grau de referência dessa equipe de professores do CCS e do Hospital Universitário para outros eventos posteriores. A assistência foi e é fundamental, mas esse episódio aponta para o fato de que o conhecimento agrega o fazer, o porquê fazer, o que fazer e o para quem fazer em cada momento respectivo. Essa é a contribuição da pesquisa para a formação e posterior atuação profissional.” Segundo Prado, a presença dos professores nesse processo serviu como marco referencial teórico para ações emergenciais.
Texto: Isadora Juliatto Piovesan, estudante de Jornalismo, bolsista do Núcleo de Divulgação Institucional do Centro de Ciências da Saúde da UFSM.