Duas turmas de alunos do CTISM ouviram depoimentos de três sobreviventes do Holocausto em visita à Federação Israelita do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, no dia 27. Os estudantes da 431 (3º ano de Eletrotécnica Integrado) e da 433 (3º ano de Informática Integrado) participaram do painel “Compromisso Moral e Lições de Solidariedade”, que já foi apresentado para quase cem grupos de alunos de escolas gaúchas desde 2008.
As histórias emocionaram os alunos. Um deles, Rafael Horvath (431), conta que, durante a ida para Porto Alegre, reclamou das condições do ônibus disponibilizado pela UFSM para a viagem. No entanto, mudou de percepção ao ouvir o relato de Curtis Stanton, judeu alemão que foi levado pelas autoridades nazistas ao campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, aos 15 anos.
Stanton, hoje com 88 anos, foi obrigado a ir de Hamburgo, onde vivia, para um gueto na Polônia, então sob ocupação nazista, em um vagão de trem com dezenas de pessoas, sem comida e banheiro. Depois, foi transportado para Auschwitz nas mesmas condições. Lá, sua mãe foi executada. Quando a campanha soviética que mais tarde derrubaria o regime nazista se aproximou do local, Stanton e um grupo de judeus foram obrigados a caminhar sem saber para onde. Em certo momento, foram abandonados pelos nazistas, e continuaram caminhando até encontrar uma tropa britânica.
Outros dois sobreviventes relataram suas vivências no auditório da Federação Israelita. Ambos vivem hoje em Porto Alegre, assim como Stanton. O painel teve a mediação da professora Ieda Gutfriend. Os alunos do CTISM estavam acompanhados pelos professores Roselene Pommer e Saul Azzolin Bonaldo. No final do evento, uma placa de alumínio assinada pelos estudantes foi entregue aos organizadores do painel, e os sobreviventes foram presenteados com doces artesanais.
“Fomos agraciados em poder proporcionar a nossos alunos a oportunidade de vivenciar a História”, diz Saul, ao lembrar que 2017 é um ano simbólico para o CTISM – que completou 50 anos – e para os judeus – segundo estimativas, o número de judeus no mundo alcançou, neste ano, os níveis de 1930.
O genocídio praticado pela ditadura nazista de Adolf Hitler matou entre cinco e seis milhões de judeus, segundo as estatísticas mais difundidas.
Antes de Stanton, quem contou sua história aos visitantes do CTISM foi Johannes Melis, de 79 anos, da província holandesa do Limburgo. Ele não é judeu, mas seu pai fez parte da resistência antinazista, abrigou famílias judias em casa e sabotou equipamentos de guerra alemães. Entre as ações executadas pelo pai de Melis, estão afundar um navio alemão no litoral holandês. Sua casa foi destruída por um ataque aéreo, e a família e os refugiados judeus precisaram se esconder em um abrigo subterrâneo que seria ilhado por uma enchente, até serem resgatados por tropas americanas.
O último a falar foi Bernard Kats, de 81 anos. Ele é judeu holandês, e seu pai foi levado a um campo de concentração, onde foi morto. Ele e a irmã precisaram trocar de identidade e se refugiar em casas de famílias que abrigavam judeus. Passaram por sete lares diferentes até o fim da guerra.
Para o aluno do CTISM Horvath, os três sobreviventes “eram pessoas idosas, mas não eram pessoas velhas”, pois o modo como relatavam “mostrava que eles tinham uma cabeça muito mais jovem que pessoas que hoje tem 20, 30 anos”.
Ele se surpreendeu também com a coragem dos homens porque “continuam relembrando o trauma por um bem maior, que é o de mostrar para as pessoas o quanto é ruim quando alguém com ideias totalitárias assume o poder”.
Sobre a história de Stanton, a aluna Vitória Pizzutti (433) diz: “quase chorei durante a história toda dele”. “Eu me senti muito péssima naquele momento”, afirma. “Eu só não consigo entender porque fizeram isso”.
Pietro Ritter Alves (431) destaca que, devido ao sofrimento pelo qual passaram, as vítimas do Holocausto “não vão concordar com certas ações”, referindo-se a políticas totalitárias. Ele afirma ainda que ouvir os sobreviventes “traz toda uma reflexão mais impactante” com relação ao ensino na sala de aula.
Com a experiência na Federação Israelita, Horvath conta que ganhou “uma vontade a mais de lutar contra preconceitos, exclusão e a violência”. “Tu sai pensando: como pode ter ainda tanta violência?”, diz.
“Foi um genocídio que aconteceu a menos de um século e que mesmo assim as pessoas esquecem. Então é muito importante esse ato de lembrar”, completa Horvath.
Vitória cita as pichações racistas na UFSM e o crescimento de movimentos neonazistas. “É muito sem noção que as pessoas façam isso”, diz a aluna. “É muito egoísmo […] simplesmente ficar indiferente a isso, simplesmente querer matar a pessoa pelo que ela é”.
“Depois que a pessoa ouve isso, ela não pode dizer que ela não sabe”, então “não pode justificar um ato assim”, afirma Vitória. Na visão dela, a experiência de ouvir os sobreviventes “traz bastante empatia, se colocar no lugar do outro”. “Como cidadã, como pessoa, eu pude melhorar”, completa.
por Rossano Villagrán Dias
fotos Diego Carrilho