Setembro amarelo é o mês de combate ao suicidio no Brasil. Durante esse período, são promovidas diversas ações em prol da valorização da vida e do debate de distúrbios mentais no cotidiano. Entretanto, com quase dois anos vivendo em meio ao caos que tornou-se a pandemia, é preciso considerar não só os distúrbios mentais que atingem a população, mas também a qualidade da saúde mental da sociedade e como isso leva ao desenvolvimento dessas patologias.
A professora no Colégio Politécnico e doutoranda em serviço social PUC/RS, especializada em saúde mental, Nadianna Marques, acredita que é essencial criar um espaço de diálogo sobre saúde mental. Nadianna promoveu, no Colégio Politécnico e na UFSM, rodas de conversa sobre o tema, buscando agendá-lo como parte do dia-a-dia dentro dos ambientes educacionais. Ela ressalta o quanto a sanidade mental é distorcida em estar sempre bem ou parecer sempre bem, convertendo-se em uma positividade tóxica. “Tristeza e angústia fazem parte da nossa vida, reprimi-los é o que agrava a saúde mental”.
Outro fator que sobrecarrega a sanidade das pessoas, principalmente dos jovens, é o uso excessivo de redes sociais, onde a todo o tempo são comparados corpos e estilos de vida. Nesse sentido, Marques ressalta que ver o mundo pelas lentes das redes sociais distorce a realidade, pressionando os indivíduos a estabelecerem metas inalcançáveis. “As mídias sociais permitem projetar estilos de vida que estão muito mais permeados pelo consumo e não relacionados a uma forma genuína de bem estar”.
Além disso, a pandemia impactou muito na qualidade da saúde mental da sociedade, sobretudo, para as pessoas que perderam alguém para o Covid-19. Os rituais de luto, tão importantes para superar a perda de alguém especial, não foram permitidos para essas pessoas.”Na realidade, durante a pandemia, já era para ter tido investimento em políticas públicas com o foco em saúde mental para a população. Para um pós-pandemia, eu não consigo vislumbrar um avanço sem investimento na política de saúde mental”, salienta Marques. No entanto, no pós-pandemia, é preciso pensar em como tratamos essas pessoas e como esse luto será mais extenso e exigirá de todos uma maior resiliência. “Viemos de um processo, anterior a pandemia, muito individualista, a sociedade já estava muito adoecida. Agora devemos olhar para as nossas relações no viés de 4 princípios: ética, respeito, empatia, escuta autêntica”.
Ideias para promover bem-estar mental
Com apoio de profissionais da saúde, oferecemos algumas ideias que podem ser postas em prática pelo nosso bem-estar e das pessoas do nosso convívio.
É momento de ser gentil: lembre-se sempre que, no período que atravessamos, estaremos mais sensíveis e há muitas pessoas passando pelo processo de perda e luto
Reprimir a tristeza e a angústia agrava o adoecimento: Acolha sua própria tristeza e respeite o sofrimento das pessoas ao seu redor
Não force positividade: querer estar bem o tempo todo ou esperar isso das pessoas agrava o adoecimento e pode ser uma prática tóxica
Ofereça uma escuta autêntica aos que estão ao seu redor: esse gesto empático de atenção verdadeira é comprovadamente positivo para o bem-estar mental
Cautela com redes sociais: Se for preciso, afaste-se das redes sociais e de perfis específicos. A comparação de estilos de vida, corpos e padrões de consumo agrava o adoecimento
Texto: Clarisse Amaral / Assessoria de Comunicação do Colégio Politécnico