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PoliFeira é tema de tese de doutorado sobre direito a não agrointoxicação

Pesquisa evidencia o projeto como instrumento de efetivação do direito à alimentação adequada e de combate à agrointoxicação



Após anos como frequentadora assídua da feira, a advogada Francieli Izolani defendeu sua tese de doutorado sobre o direito à não agrointoxicação e à soberania alimentar tendo a PoliFeira do Agricultor, projeto de extensão da Universidade Federal de Santa Maria, como principal objeto de estudo.

A atual doutora, titulada pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, transformou o vínculo em uma pesquisa que investiga as potencialidades da PoliFeira como um exemplo aplicado da Teoria do Comunitarismo Responsivo no Brasil. O estudo ainda analisa como a iniciativa contribui para a concretização do direito à soberania alimentar, ao mesmo tempo em que amplia a renda dos agricultores e oferece alternativas ao uso de agrotóxicos.

Na entrevista abaixo, Francieli explica os principais achados do estudo e comenta sobre os desafios enfrentados no processo, entre outros pontos.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

POLIFEIRA DO AGRICULTOR – Como surgiu a ideia de fazer uma pesquisa sobre a PoliFeira?

FRANCIELI IZOLANI A ideia de pesquisar a PoliFeira surgiu da minha própria experiência como frequentadora. Eu me considero uma polifã, eu morei em Santa Maria até a metade deste ano, e acompanho a feira quase desde o início. Assim que ouvi falar da PoliFeira, comecei a frequentar e me encantei com o projeto.

Em 2019, quando iniciei o mestrado na UFSM, eu já tinha o desejo de transformar esse vínculo em pesquisa. Eu queria divulgar a PoliFeira e relacioná-la ao direito à alimentação, à sociobiodiversidade, à segurança e à soberania alimentar, temas que ultrapassam o campo jurídico, mas que dialogam com ele de forma muito profunda.

Sempre achei extraordinário ver um projeto de extensão unir universidade e comunidade, exatamente como se espera do ensino público. Foi dessa combinação entre vivência pessoal e interesse acadêmico que nasceu a vontade de estudar a feira de forma mais aprofundada.

POLIFEIRA DO AGRICULTOR – E como foi o processo da realização da tua pesquisa?

FRANCIELI – Quando cheguei ao mestrado, eu tinha muita vontade de fazer uma pesquisa de campo sobre a PoliFeira. Mas, com a pandemia, tudo ficou mais difícil e precisei mudar os rumos: na dissertação, acabei mencionando a PoliFeira apenas de forma mais documental, sem conseguir aprofundar. Então, quando comecei o doutorado, já decidi que agora a pesquisa de campo iria acontecer. Conversei com o professor Gustavo e com o Cristiano, que apoiaram totalmente a ideia, e como eu já tinha um contato direto com os agricultores, tudo se encaixou.

A coleta de dados aconteceu nos dias e turnos em que a Polifeira funcionava, na Roraima e no campus, ao lado do Planetário durante cerca de três ou quatro semanas. Mesmo assim, ainda tivemos outro desafio: as enchentes. Muitos agricultores perderam tudo, então foi um momento complicado. Minha vontade era também ir até os locais de plantio para entender mais profundamente o processo deles, mas isso não foi possível por causa dos estragos. No final da pesquisa, o seu André que é um dos agricultores que encabeçou o movimento junto com o professor Gustavo até me convidou para ir à propriedade dele, porque ele já estava retomando o plantio. Mas essa etapa acabou não entrando na pesquisa como eu havia planejado.

POLIFEIRA DO AGRICULTOR – O que é a teoria do comunitarismo responsivo e como você usou ela na sua pesquisa?

FRANCIELI – A teoria do comunitarismo responsivo foi a base da minha hipótese: eu queria entender se a Polifeira poderia ser um exemplo prático dessa teoria no Brasil. Essa perspectiva, desenvolvida pelo Amitai Etzioni, propõe que a comunidade, o Estado e a economia atuem juntos para resolver problemas sociais e ambientais  e que a comunidade tenha um papel central, porque quando ela assume suas responsabilidades, as coisas avançam muito mais do que quando esperamos ações isoladas do Estado ou do mercado.

Na minha pesquisa, eu apliquei essa teoria entendendo a universidade como representante do eixo estatal, a Polifeira como a expressão da comunidade e os consumidores e produtores como parte da dinâmica econômica. Assim, busquei mostrar como esses três elementos se articulam de forma sinérgica, equilibrando interesses econômicos com questões sociais e ambientais. A Polifeira ilustra bem isso: é um espaço onde há lucro porque vivemos numa economia capitalista, mas ele aparece como consequência, não como finalidade principal, permitindo que outras dimensões também tenham prioridade.

POLIFEIRA DO AGRICULTOR – Como a PoliFeira se encaixa como um agente promotor da Soberania Alimentar?

FRANCIELI – A soberania alimentar vai além da segurança alimentar, porque não trata só de garantir comida saudável e sem agrotóxicos, mas de permitir que o próprio povo escolha como produzir e consumir seus alimentos. E, no Brasil, isso é complexo, porque seguimos uma lógica de “Sul Global”, como diz Boaventura de Sousa Santos, em que o país não decide o que plantar: produzimos principalmente commodities, como a soja, ditadas pelo mercado externo. Então, hoje, a soberania alimentar praticamente não existe e não vai ser uma simples mudança de legislação que vai resolver isso.

Por isso, as ações locais ganham tanta importância. A partir de autores como Aníbal Quijano, defendo que a transformação precisa vir do território, das comunidades. A PoliFeira é exatamente esse tipo de reação local: um espaço onde agricultores e consumidores criam relações que rompem, mesmo que parcialmente, com a lógica colonial de produção. Ela mostra que é possível construir caminhos próprios, fortalecendo práticas sustentáveis, escolhas autônomas e vínculos diretos. Se iniciativas como a PoliFeira se multiplicarem, podemos começar a avançar, pouco a pouco, em direção à soberania alimentar no Brasil.

POLIFEIRA DO AGRICULTOR – E quais foram os principais resultados da pesquisa?

FRANCIELI – Os principais resultados confirmaram a minha hipótese inicial: a PoliFeira realmente se encaixa como um exemplo concreto de aplicação da teoria do comunitarismo responsivo no Brasil. Ao analisar as entrevistas e organizar tudo nos três eixos da teoria, Estado, comunidade e economia, ficou evidente que a feira representa um movimento emancipatório local, capaz de romper com o padrão colonial que sempre pautou a produção agroalimentar brasileira. Também ficou claro que a PoliFeira promove, na prática, valores ligados à soberania alimentar, mostrando que é possível produzir e abastecer o mercado interno sem colocar o lucro acima da saúde coletiva e do meio ambiente.

POLIFEIRA DO AGRICULTOR – E agora com a tese já defendida e aprovada qual é o futuro desta pesquisa?

FRANCIELI – Meu próximo passo é transformar esse trabalho em um livro. Eu já estou em processo de publicação: escolhi uma editora com projeto social, que destina parte das vendas para a educação infantil, justamente para manter coerência com os valores que defendo. Acredito que em dezembro o e-book já esteja disponível, e, assim que tiver a versão finalizada, pretendo divulgar amplamente para que a pesquisa chegue a mais comunidades, estados e regiões, inspirando outras iniciativas semelhantes à PoliFeira.

Onde encontrar a PoliFeira:

  • Terça-feira, das 7h às 12h30 – Avenida Roraima (entre a faixa nova e faixa velha)
  • Quarta-feira, das 7h às 13h30 – Prédio 26 A – CCS (próximo ao estacionamento do HUSM)
  • Quinta-feira, das 12h às 18h – Largo do Planetário
  • Domingo – Campus Sede UFSM

Texto: João Victor Souza, estudante de Jornalismo e bolsista de comunicação da PoliFeira do Agricultor
Fotos: Francieli Izolani 

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