Reportagem e redação: Prisley Zuse e Amanda Teixeira
Fundado na década de 1980, o Grupo Pregando Peça se tornou uma das referências culturais de Santa Maria ao unir teatro de bonecos, educação ambiental e inclusão social. Criado pela atriz, diretora e produtora cultural Luciane Caldeira Vilanova, o grupo nasceu a partir da formação dela em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Por meio de um convênio com o Serviço Social da Indústria (Sesi), foi criado um curso de iniciação teatral voltado à comunidade santa-mariense, iniciativa que marcou o início da trajetória do Pregando Peça. Desde então, o grupo tem a proposta de divertir e conscientizar o público sobre a importância do meio ambiente, da cultura e da criatividade.
A partir dessa montagem, o grupo passou a investir no teatro infantil, com peças como “Cada palhaço com seu galho” e “Menina também é gente”, além de algumas produções voltadas ao público adulto. Entre elas, destacou-se o espetáculo “A alface”, um de seus maiores sucessos, apresentado em diversos festivais de teatro do Brasil e que foi muito premiado. Já em 1991, o grupo encenou “Os sobreviventes”, sob a direção do encenador José Itaqui, ampliando ainda mais sua trajetória artística.
A partir de 1993, o Grupo Pregando Peça passou a se dedicar à pesquisa da linguagem do teatro de bonecos, estreando seu primeiro espetáculo nessa vertente: “O Macaco Simão”. O sucesso da montagem marcou o início de uma nova fase na trajetória do grupo, que passou a investir de forma contínua nesse tipo de expressão teatral. Desde então, produziu diversos espetáculos, entre eles “O Príncipe e o Dragão”, “Romeu e Julieta em Busca do Arco-Íris”, “A Banda do Ser e Afim” e “Macaco Simão e o Mistério do Rio”, consolidando-se como uma referência na arte do teatro de bonecos em Santa Maria e no estado.
Desde o início dos anos 1990, o Pregando Peça manteve um forte compromisso com a circulação de seus espetáculos, levando o teatro a diferentes públicos e cidades. Nesse período, parte do grupo decidiu se dedicar integralmente à arte, consolidando o teatro como profissão. “Desde então, vivemos do teatro e seguimos firmes nesse propósito”, destaca o ator, diretor e produtor cultural do grupo, Sérgio André.
Segundo ele, o Pregando Peça é um grupo privilegiado por ter trabalhado por mais de 20 anos em parceria com o Sesi, o que garantiu estabilidade e continuidade ao projeto artístico. Posteriormente, o grupo passou a atuar por meio de projetos culturais via Lei de Incentivo à Cultura, mantendo até hoje um trabalho voltado a escolas e, ao mesmo tempo, realizando temporadas em teatros, entre eles o Instituto Goethe, o Teatro do Sesc, o Museu do Trabalho e o Teatro São Pedro, todos em Porto Alegre.
Hoje, o Grupo Pregando Peça conta com uma equipe de cerca de doze integrantes, entre atores, diretores, produtores culturais e músicos, que colaboram nas diferentes etapas de criação e montagem dos espetáculos. A cada nova produção, o grupo busca abrir espaço para novos artistas, não apenas de Santa Maria, mas também de outras cidades do estado. Além das atividades teatrais, o Pregando Peça desenvolve projetos voltados à literatura, ampliando seu campo de atuação no cenário cultural.
Bonecos que falam de cidadania
Mais do que encenar, o Pregando Peça transforma o palco em uma sala de aula aberta. Seus espetáculos e oficinas abordam temas como reciclagem, respeito à natureza, cidadania e convivência social. Entre as iniciativas, está o projeto “ECO, o Planeta Boneco”, que levou a peça “O Macaco Simão” a 50 cidades gaúchas, com cerca de 100 apresentações e oficinas de confecção de bonecos. Estima-se que mais de 40 mil pessoas tenham sido alcançadas apenas nessa ação. Outro destaque é o espetáculo “A Princesa que Contava Histórias”, que circula por escolas e espaços culturais estimulando a leitura e o encantamento pela narrativa.
Oficinas e presença digital
Além dos palcos, o Pregando Peça também ocupa o ambiente virtual. No site e nas redes sociais, o grupo divulga oficinas gratuitas como o projeto “Fazendo Bonecos com o Pregando Peça”, que ensina técnicas de construção de personagens com materiais recicláveis.
A proposta é incentivar a expressão artística e a sustentabilidade desde cedo. Muitas dessas atividades são financiadas por editais culturais, como o Pró-Cultura RS, com apoio de empresas locais. No Instagram e YouTube, o coletivo compartilha vídeos educativos, bastidores de apresentações e mensagens que reforçam o caráter social do trabalho.
Quatro décadas de histórias e resistência
Com mais de 40 anos de atuação, o Pregando Peça é exemplo de resistência cultural. Em meio a desafios como falta de recursos e editais, o grupo mantém o compromisso com a formação de público e o acesso à cultura fora dos grandes centros. As apresentações, muitas vezes realizadas em escolas públicas e comunidades do interior, se tornam momentos de aprendizado coletivo, tanto para o público quanto para os artistas.
“Eu acredito que o principal desafio do grupo e, na verdade, eu considero o principal desafio dos artistas nessa trajetória toda, é conseguir viver exclusivamente da arte, especialmente fora do eixo Rio-São Paulo, onde o mercado é muito maior, não só para o teatro, mas também para o cinema e a televisão”, avalia Sérgio André. Ainda, na avaliação dele, a permanência do grupo por quatro décadas, fiel ao compromisso de disseminar arte e cultura, representa uma conquista diante das dificuldades do meio artístico.
Arte que educa
O trabalho do Pregando Peça mostra que arte e cidadania podem caminhar juntas. Por meio de histórias, oficinas e bonecos, o grupo aproxima a comunidade da cultura e da reflexão ambiental, provando que o teatro pode ser um espaço de encantamento e transformação. Saiba mais sobre o grupo em: www.pregandopeca.com.br ou pelo Instagram do projeto.: @pregandopeca