
Reportagem e redação: Marina Brignol De Lllano Einhardt e Marina Ferreira dos Santos
Criado em 2010 dentro da Associação Santamariense de Esportes Náuticos (ASENA), o projeto Remar Rosa nasceu com o propósito de promover a reabilitação física e emocional de mulheres que enfrentaram o câncer de mama. A iniciativa surgiu do compromisso da Associação em incentivar a prática de esportes náuticos em Santa Maria e região, ampliando o acesso a atividades que contribuem para o bem-estar e a integração social. Desde sua fundação, a ASENA tem atuado em frentes voltadas ao desenvolvimento humano por meio do esporte, e o Remar Rosa representa uma dessas ações voltadas à inclusão e à superação.
A Associação mantém, atualmente, três programas principais: o Projeto Social Remar, o Projeto Remar Olímpico e o Projeto Remar Rosa. Esse último foi criado para atender mulheres interessadas em remar na embarcação Dragon Boat, modalidade que alia exercício físico e cooperação coletiva. O Dragon Boat é um esporte náutico praticado em uma embarcação de madeira com design de dragão, tradicionalmente composta por 20 remadores, um timoneiro e um batedor de tambor. A atividade tem origens milenares, na China, onde era celebrada durante o Dragon Boat Festival, e hoje é reconhecida em diversos países como uma prática de esporte, recreação e reabilitação, especialmente voltada a sobreviventes de câncer de mama.
Implementação e desafios
O Remar Rosa foi elaborado e submetido à Confederação Brasileira de Canoagem, que avaliou e aprovou o projeto, permitindo a aquisição da primeira canoa Dragon Boat e o início oficial das atividades em Santa Maria. O processo envolveu etapas de planejamento, captação de recursos e estruturação do grupo, o que consolidou a iniciativa dentro da ASENA e garantiu que as participantes tivessem o suporte técnico e físico necessários para iniciar a prática de forma segura.

Os encontros ocorrem todos os sábados, das 8h às 10h, na Barragem do DNOS, onde as remadoras se reúnem para os treinos. Cada aula conta com aquecimento corporal, prática da técnica de remada, alongamento e momentos de relaxamento muscular. As atividades são orientadas por dois professores de educação física, que também remam junto às integrantes, reforçando o espírito de união e a troca constante entre instrutores e alunas.
Reabilitação e acolhimento
A prática do Dragon Boat promove benefícios físicos e emocionais perceptíveis desde as primeiras semanas. Muitas mulheres chegam ao grupo com limitações de movimento decorrentes do tratamento do câncer e, ao longo das remadas, percebem avanços significativos na mobilidade, força e resistência muscular. Ao mesmo tempo, o ambiente coletivo e solidário do projeto contribui para o fortalecimento da autoestima, para a socialização e para a criação de laços de apoio mútuo.
O trabalho em equipe é essencial para o funcionamento da embarcação, já que cada participante precisa sincronizar seus movimentos com os demais remadores para garantir o equilíbrio e a velocidade da canoa. Essa dinâmica simboliza o próprio processo de superação das integrantes, que encontram no ritmo das remadas uma forma de enfrentar desafios e de redescobrir o prazer em compartilhar experiências com outras mulheres que vivenciam histórias semelhantes. “Na parte emocional é muito mais desafiador pois muitas acham que não vão conseguir alcançar o objetivo, mas logo após algumas atitudes do grupo que estão sempre apoiando com palavras de incentivo e carinho”, relata Cristina Bittencourt.
Prevenção e impacto social
Além da reabilitação, o Remar Rosa também atua na prevenção e educação sobre o câncer de mama, reforçando a importância da prática esportiva como fator de proteção à saúde. A atividade física regular contribui para o equilíbrio hormonal, o controle do peso e o fortalecimento do sistema imunológico, reduzindo riscos associados à doença. O grupo é composto por mulheres de diferentes idades, entre 25 e 62 anos, que encontram no convívio uma oportunidade de aprendizado coletivo, troca de vivências e construção de um ambiente de acolhimento e confiança. Para quem quiser participar, a taxa de associação é de R$50 por mês.

O projeto também se envolve em ações comunitárias e solidárias. As participantes integram a tradicional Ação de Natal da ASENA, que arrecada brinquedos e doces para crianças do bairro Campestre do Menino Deus. Além disso, o grupo organiza brechós, chás e rifas para arrecadar recursos e auxiliar integrantes que enfrentam dificuldades financeiras durante o tratamento. Essas iniciativas reforçam o caráter social do projeto e fortalecem a presença da associação junto à comunidade.
Próximos passos
No final de novembro, a equipe participou do Campeonato Gaúcho, com etapa em Santa Maria. Com o crescimento das atividades e o engajamento das participantes, a ASENA planeja ampliar a estrutura do projeto nos próximos anos. Está prevista a chegada de uma nova canoa em 2026, o que permitirá o aumento do número de vagas e o fortalecimento do grupo para participar de competições estaduais e nacionais. A meta é seguir expandindo o alcance do Remar Rosa, mantendo o foco no esporte como ferramenta de reabilitação, prevenção e transformação pessoal. “É ter força e vontade de poder proporcionar uma melhor qualidade de vida ao grupo. Desafio é nunca desistir, lutar sempre para que o projeto seja cada vez mais forte.”, afirma Cristina Bittencourt.