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Contar histórias com dados: o que o data storytelling tem pra nos mostrar?

por Nicole Pasch



Histórias são parte da nossa vida. Estamos envoltos e marcados por diversas delas no decorrer da nossa jornada enquanto seres humanos. Ok, já sabemos que as histórias são parte do nosso início, meio e fim,  mas e os dados? O que eles têm a ver com essa discussão?

As tecnologias digitais, o grande volume de dados disponíveis e a dataficação de muitos aspectos da vida estão invadindo as redações e trazendo novas formas de fazer jornalismo. Uma delas é o jornalismo de dados, que modifica as tradicionais práticas profissionais nas redações. Percebe-se a mudança na transição da escrita como principal elemento narrativo para a codificação e visualização como elementos centrais da narrativa jornalística digital. Neste campo marcado por bases de dados e inovação, as histórias de dados ou a narrativa com dados são termos que vêm adquirindo popularidade. Podemos contá-las de diferentes formas, como: nas histórias enriquecidas por dados, histórias que usam dados para investigar ou ainda histórias que explicam um dado. Ambas envolvem números, palavras, infográficos, e o design como um todo. 

Com a emergência do jornalismo de dados, há também um uso crescente da visualização de dados nas redações. As visualizações de dados estão no centro das histórias de dados, no que concerne à representação visual dos dados brutos. Normalmente, elas desempenham um papel significativo nas histórias de dados, contanto com elementos interativos, como permitir que os usuários interajam diretamente com um gráfico, o que  facilita a compreensão e interpretação (embora também seja possível serem “estáticas”, numa base textual e numérica). Para exemplificar, o jornalismo de dados pode ser entendido como um processo, tendo a capacidade de revelar a história contida nos dados, e como um produto, que seria a representação visual da visualização de dados, permitindo que os seus leitores vejam a história.

Exemplos de visualizações de dados em veículos brasileiros, ambas finalistas ou vencedoras
no Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados na categoria Visualização. 

O data storytelling, comum em (grandes) reportagens com dados, envolve todo processo tradicional do fazer jornalístico, incluindo processos específicos – que vão desde a coleta de dados, sua limpeza e organização, até o design de uma visualização interativa. O objetivo ao contar histórias pode ser comparado ao da visualização, que visa a comunicação de informações em um formato eficiente, no sentido cognitivo e psicológico, para o entendimento do público. Porém, para se ter uma boa visualização de dados, é necessário se ter uma boa narrativa. Mesmo que no formato de dados, as pessoas ainda buscam por padrões encontrados nas estruturas narrativas tradicionais e anteriormente reconhecidas. Uma história com dados deve seguir a caracterização rigorosa da narrativa para ser legitimada por quem lê. Por exemplo, não podemos considerar as visualizações interativas de exploração livre e sem orientação, nem os gráficos publicados em sites sem explicações escritas e anotações que ajudem o leitor a capturar a mensagem como uma verdadeira narrativa de dados.

Ao considerar a efervescência do jornalismo de dados, tem-se um aumento no interesse de investigação pelo assunto e suas especificidades. Uma pesquisa no Google Acadêmico, pelo termo “data storytelling” , resultou em 316 documentos em abril do ano de 2017 (Heravi; Ojo, 2018). Já em outubro de 2023, aproximadamente 2.360.000 resultados foram encontrados. Muitos desses estudos, como no artigo “Padrões em Data Storytelling premiados: tipos de história, habilitação de ferramentas e competências”, desenvolvido pela pesquisadora em jornalismo de dados, Bahareh Heravi, na Escola de Estudos de Informação e Comunicação, da University College Dublin e do professor Adegboyega Ojo, do Centro de Análise de Dados, da University of Galway, estão voltados para desenvolver uma estrutura conceitual que seja capaz de caracterizar os critérios de um “bom” data storytelling, ou seja, buscar os elementos que levam a uma narrativa ideal no jornalismo de dados, bem como as competências e ferramentas necessárias para desenvolver essas histórias de dados de alta qualidade. 

“Lutando contra doenças infecciosas no século 20: o impacto das vacinas” – Exemplo
de uma das narrativas de dados premiadas e analisadas na pesquisa.

Os dados que estão no coração deste tipo de storytelling podem ser capturados diretamente, a partir de um objetivo, através bases já constituídas e de alguma forma de medição, como observação, pesquisas, experimentos de laboratório e de campo ou manutenção de registros (como no preenchimento de formulários ou escrita de um diário). Ou adquiridos através de subprodutos de sua função principal, como na exaustão de dados, em que os rastros digitais de atividades online são deixados “para trás” pelos usuários e utilizados em demais situações, aquelas que não com objetivo específico.

Também se busca essa caracterização a partir do ponto de vista das redações, dos praticantes no ato de construir tais narrativas, nesse caso, dos jornalistas. No artigo “Histórias de dados: Repensando a narrativa jornalística no contexto do jornalismo de dados” (Engebretsen; Kennedy; Weber, 2018), os jornalistas foram entrevistados e contribuíram para identificação de sete características-chave: 1) Dados: o centro da narrativa com dados, 2) Função comunicativa: a arte de mostrar, 3) Relação texto-visual, 4) Importância do design visual, 5) Estrutura: tendendo para o Martini Glass, 6) Interatividade: encontre sua história e 7) Meta-história: tornando o processo transparente. Pesquisas como essa contribuem para pensarmos as mudanças nas práticas narrativas do jornalismo.

Estudiosos na comunicação também estão se preocupando com especificidades do jornalismo de dados, no que concerne ao desenvolvimento de ferramentas de visualização, como na dissertação de mestrado da Puc-RIO, do ano de 2022, na qual a autora Marisa do Carmo Silva, desenvolveu uma ferramenta de apoio à construção de Data Stories, o VisMaker 1, com objetivo de facilitar a exploração e consequente compreensão, de conjuntos de dados por meio de visualizações de dados. A ferramenta apresenta os tipos de dados e permite ao leitor mapeá-los em variáveis visuais, ajudando os usuários a reconhecer quais visualizações estão de acordo com seus interesses e saber o que exatamente elas significam ou permitem responder.

Dessa forma, as práticas contemporâneas e futuras de jornalismo de dados exigem uma equipe com habilidades de computação, programação, de análise de dados e de visualização de dados, além das atribuições tradicionais do jornalista. Nas leituras sobre o assunto, coloca-se como necessidade que todos os locais que ensinam jornalismo expandam os seus currículos para fornecer conhecimento sobre os dados e as práticas computacionais. A chefe de Dados e Pesquisa do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos – a organização por trás do Panamá Papers – declarou em entrevista que as universidades têm que começar a adicionar jornalismo de dados ao currículo, caso contrário estarão falhando com os seus alunos. Em suma, as narrativas jornalísticas se modificam ao passar do tempo e os estudos na área buscam acompanhar esses avanços. O que mais as histórias com dados têm para nos dizer? 

Referências: 

Adegboyega Ojo & Bahareh Heravi (2018) Patterns in Award Winning Data

Storytelling, Digital Journalism, 6:6, 693-718, DOI: 10.1080/21670811.2017.1403291

Weber, Wibke; Engebretsen, Martin; Kennedy, Helen (2018). “Data stories. Rethinking journalistic storytelling in the context of data journalism”. Studies in communication sciences, v. 18, n. 1, pp. 191-206. https://doi.org/10.24434/j.scoms.2018.01.013

Barbosa, Simone Diniz Junqueira. StoryMaker: uma ferramenta de apoio à criação de data stories. Diss. PUC-Rio, 2022. 

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