Ir para o conteúdo POSCOM Ir para o menu POSCOM Ir para a busca no site POSCOM Ir para o rodapé POSCOM
  • International
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

Jornalismo sob pressão global, aponta relatório do Worlds of Journalism Study



Por: Camille Moraes e Sabrina Fagundes

O terceiro relatório global do Worlds of Journalism Study (WJS3) revela um cenário de pressão crescente sobre jornalistas em todo o mundo. O estudo, considerado o maior levantamento internacional sobre a profissão, mostra que a prática jornalística enfrenta riscos intensificados, precarização e hostilidade política, especialmente no Sul Global. A pesquisa foi conduzida entre 2021 e 2025 e entrevistou mais de 32 mil jornalistas em 75 países, tendo contato com o envolvimento de mais de 300 pesquisadores.

Reconhecido internacionalmente por sua abrangência geográfica, o WJS é um estudo longitudinal que monitora, desde 2011, as transformações da profissão e oferece um panorama comparativo que permite entender padrões globais e especificidades regionais. O WJS3 buscou compreender como jornalistas de diferentes países percebem os riscos associados ao trabalho, como avaliam sua liberdade editorial e de que forma conciliam princípios profissionais (como objetividade, transparência e funções sociais do jornalismo) diante de rupturas tecnológicas, políticas e culturais.

Violência física, simbólica e digital em alta

O WJS3 identifica três grandes dimensões de risco: violência física e material, ataques simbólicos e psicológicos e ameaças digitais, como vigilância e perseguição online. Em muitos países, essas formas de violência se sobrepõem e moldam o cotidiano das redações. Na América Latina, os efeitos são especialmente graves. México, Brasil e Colômbia estão entre os países com mais jornalistas assassinados na última década, combinando violência política, criminal e digital.

Os dados do WJS mostram que os jornalistas consideram sua profissão como perigosa. Além das ameaças físicas e da violência direta, outros tipos de risco são relevantes: ataques digitais, perseguição online, discurso de ódio e vigilância. Essas formas de violência ameaçam a integridade dos jornalistas, mas também limitam a liberdade de imprensa e o direito à informação da sociedade.

Como consequência direta, mais da metade dos jornalistas entrevistados admite evitar certos temas, fontes ou posicionamentos por medo de retaliações. A autocensura aparece tanto em regimes autoritários quanto em democracias, onde campanhas de desinformação e linchamentos virtuais também geram medo e retração.

Como jornalistas entendem seu papel social

A noção de “papéis profissionais” considera valores institucionais, atitudes e crenças que os jornalistas adotam como resultado de sua socialização ocupacional e busca explicar os modos como os jornalistas percebem a si mesmos, sua identidade, valores e ideais profissionais.

O relatório analisa como os profissionais definem sua função na sociedade, agrupando essas concepções em quatro perfis: Fiscalizador: vigia o poder, revela problemas sociais e oferece informações políticas para o debate público. Colaborativo: tende a apoiar políticas governamentais e reforçar a imagem de líderes e instituições. Intervencionista: defende mudanças sociais, busca influenciar a agenda pública e participa ativamente do debate social. Adaptativo: foca em entretenimento, orientação prática e formatos voltados ao engajamento de audiências.

O peso de cada perfil varia conforme o regime político. Em contextos autoritários, predomina o papel colaborativo; em democracias consolidadas, o fiscalizador. Países como Brasil, Índia e Filipinas apresentam uma combinação dos três primeiros, com crescimento do intervencionismo social.

Para a professora Laura Storch, uma das autoras do capítulo sobre papéis profissionais no relatório global, compreender essas percepções é fundamental:

“Entender como os jornalistas se veem é entender como justificam suas escolhas diante do público. No Brasil, isso é ainda mais importante por estarmos em um ambiente marcado por desigualdades estruturais, polarização e expectativas sociais contraditórias.”

No Brasil, os jornalistas priorizam papéis de serviço público, especialmente “combater a desinformação” (94,7% consideram esse papel muito ou extremamente importante), “revelar problemas sociais” (92,8%) e “fornecer informações políticas” (86%). As funções de vigilância do poder (84,7%) e de análise (85%) também são altamente valorizadas, assim como a promoção da paz (83,4%). Em contraste, papéis centrados no entretenimento (44,4%) ou alinhados a elites políticas (17,8%) aparecem com importância significativamente menor.

Saiba mais sobre o cenário brasileiro em: https://www.ufsm.br/cursos/pos-graduacao/santa-maria/poscom/2025/11/22/relatorio-do-terceiro-worlds-of-journalism-revela-cenario-do-jornalismo-brasileiro-marcado-por-desigualdades-regionais-e-concentracao-dos-grandes-meios-de-comunicacao

Entre o ideal democrático e seus limites

O WJS3 mostra que, apesar das pressões e ameaças, o jornalismo continua desempenhando papel central em sociedades democráticas. Mas esse papel é exercido “entre o ideal e o limite”: profissionais comprometidos com o interesse público trabalham sob forte desgaste emocional, precarização e instabilidade. Como sintetiza Laura Storch:

“Observar o jornalismo globalmente permite enxergar tanto vulnerabilidades quanto resistências. O Brasil tem um papel central nesse panorama: sendo o maior país da América Latina, nossas experiências revelam como os jornalistas atuam em contextos de tensão democrática, desigualdade e transformação tecnológica.”

O relatório conclui que fortalecer o jornalismo não é apenas uma pauta da categoria, mas uma questão essencial para a vitalidade democrática.

Saiba mais sobre a pesquisa emhttps://www.ufsm.br/cursos/pos-graduacao/santa-maria/poscom/2025/11/22/docente-do-poscom-integra-pesquisa-global-sobre-condicoes-de-trabalho-do-jornalismo-no-mundo

Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-513-4572

Notícia vinculada a

Publicações Relacionadas

Publicações Recentes