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Geoparque: tese de doutorado em geografia integra patrimônio natural e cultural da Quarta Colônia em propostas de roteiros geoturísticos



A Quarta Colônia é muito conhecida pelo seu patrimônio cultural, herança de imigrantes europeus que lá construíram sua história. E porque não valorizar ainda mais esse tesouro em uma estratégia de integração com as riquezas naturais da região? Foi o que pensou o professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Geografia, Dilson Cecchin. Em sua tese de doutorado, orientada pelo professor Adriano Severo Figueiró, Cecchin trabalha em uma triagem dos pontos de interesse patrimonial da Quarta Colônia para a elaboração de roteiros geoturísticos que integram patrimônio natural e cultural.

O trabalho será defendido em agosto desse ano e está em sintonia com a proposta de implementação do Geoparque Quarta Colônia. “Como estava surgindo o projeto do Geoparque, achei que era o momento de trazer o meu conhecimento sobre patrimônio em um trabalho que desse algum retorno para a região. Quem vai a um geoparque, da mesma forma que poderá ver uma cachoeira, uma gruta, ou qualquer elemento natural, também pode visitar locais de interesse do ponto de vista cultural”, conta Cecchin.

Em sua pesquisa de mestrado, Cecchin já havia trabalhado com o patrimônio cultural da Quarta Colônia analisando o desenho dos antigos sobrados históricos. Agora o pesquisador foi a campo para reavaliar os pontos mapeados pelo Levantamento de Edificações de Interesse Histórico da Quarta Colônia, feito em 2009 pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo em parceria com o Consórcio de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia (Condesus). A partir daí foi possível criar um mapa do patrimônio cultural que considera os locais com maior interesse patrimonial. Os roteiros geoturísticos estão sendo pensados a partir do cruzamento deste mapa com um segundo: o mapa do patrimônio natural, elaborado a partir de uma dissertação defendida em 2016 pela agora doutoranda Djulia Ziemann, que elencou 24 geossítios (local com valor geológico ou palentológico) com potencial para visitação na região.

Os pontos mais representativos e de maior valor turístico desses roteiros estarão sinalizados em uma maquete da quarta Colônia, um dos produtos resultantes da tese. Com quase nove metros quadrados a maquete está em processo de construção há mais de um ano pelo maquetista e estudante de Arquitetura José Dalcin e está sendo montada no Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (CAPPA), em São João do Polêsine. A partir do mês de agosto quem visitar o local poderá ver, em pequena escala, o relevo, os cursos hídricos e as estradas de acesso de toda a Quarta Colônia em uma estrutura de sessenta centímetros de altura que facilita a visualização até mesmo para crianças menores. E a maquete ainda tem uma pegada sustentável: toda a base foi construída com madeira reaproveitada de uma reforma realizada na UFSM.

Ainda está nos planos a ideia de expandir o trabalho para um aplicativo que congregue informações e a localização de cada ponto dos roteiros turísticos, o que está sendo planejado em parceria com a doutoranda Julia Ziemann e os professores André Soares e Enio Giotto. E não para por aí: com grande gosto pelas artes, o professor tem se dedicado à pintura de aquarelas com as paisagens da Quarta Colônia que serão apresentadas em forma de cartão postal e poderão ser reproduzidas como geoprodutos, ou seja, produtos que fazem alusão ao patrimônio natural e cultural da região. Entre os cenários pintados estão os casarios e sobrados que são seu objeto de pesquisa há bastante tempo. 

Essas edificações são exemplares da arquitetura vernacular da época e guardam semelhanças com traços de construções alemãs e italianas, países de origem dos primeiros imigrantes a chegarem na Quarta Colônia. De acordo com Cecchin, elas são um grande símbolo de sucesso desses imigrantes em suas propriedades que, sem muitas condições, vieram tentar a vida em terras brasileiras. Seja pela extração de matéria-prima ou pela otimização do relevo e da força hídrica como auxílio nas técnicas primitivas de construção, a geodiversidade do local foi uma das peças fundamentais para que os sobrados pudessem ser levantados, o que dá a eles um interessante potencial geoturístico aliado ao fato de serem uma marca da colonização.

De acordo com o professor, muitas dessas edificações, que estão dispersas pelo território, não são preservadas e estão se perdendo em função das intempéries e da falta de manutenção. Para Cecchin a estratégia de integração com o patrimônio natural em um Geoparque é uma possibilidade de valorização desse importante bem material e histórico. “O Geoparque tem a força necessária para unir as comunidades com o objetivo do desenvolvimento turístico e pode beneficiar muito a região”, acrescenta o pesquisador.

 

Geoparque Quarta Colônia

Os geoparques são territórios reconhecidos pela Unesco por apresentarem relevância geológica mundial e estratégias de desenvolvimento territorial sustentável. Atualmente, existem 127 Geoparques Mundiais da Unesco em 35 países, e apenas 1 no Brasil. A Quarta Colônia apresenta uma condição ímpar dentro do Brasil para a criação de um Geoparque. Isso se dá pela beleza natural das suas paisagens, da abundância de água de seus rios e de suas cascatas, da raridade dos fósseis ali encontrados – que testemunham as mudanças ambientais do planeta nos últimos 250 milhões de anos – e pela cultura preservada dos seus imigrantes.

Desde 2018 a Pró-Reitoria de Extensão da UFSM abriga um projeto institucional que tem o objetivo de auxiliar no processo de implementação de dois geoparques: o Geoparque Quarta Colônia e o Geoparque Caçapava. A intenção é coordenar uma estratégia de geoparque visando novas alternativas para a economia regional, de forma sustentável, por meio da conservação do patrimônio natural e cultural, da educação para o meio ambiente e do incentivo ao turismo local, através da apropriação do conhecimento acadêmico, das atividades de extensão e da articulação junto ao poder público local, entidades e sociedade civil organizada.

 

Texto: Elise Souza – MTB 18.433

Bolsista de jornalismo NDI PRE

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