
Uma feira inspirada em uma das pioneiras da agroecologia e que promove a cultura em diferentes dimensões. Assim pode ser descrita a Feira Ana Primavesi, a primeira iniciativa do tipo totalmente orgânica em Santa Maria. Criada em 2017, a mostra ocorre todas às quartas-feiras, das 9h às 13h, embaixo da Ponte Seca, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
O nome do projeto é inspirado em Ana Maria Primavesi, engenheiro agrônoma e pesquisadora austríaca radicada no Brasil, responsável por impulsionar os estudos sobre agroecologia no país. “A feira toca no âmago da minha pessoa, porque ela é de fundamental importância, até para as relações sociais e de amizade”, conta Priscila de Aguiar, 52 anos. Proprietária do sítio Casa das Luas, ela participa da Ana Primavesi desde sua idealização, quando foi bolsista da Pró-Reitoria de Extensão (PRE).
A iniciativa foi um dos empreendimentos impulsionados pela Incubadora Social (IS) da UFSM, entre 2016 e 2021. Na época, o projeto nasceu a partir de uma demanda de agricultores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e de técnicos da Emater RS/Ascar.
Hoje, seis agricultores e cinco parceiros participam da Ana Primavesi, que além de um espaço para comercialização de alimentos orgânicos, consolida-se como um lugar onde a extensão se materializa na prática. Através da feira, a comunidade externa se faz presente na Universidade e tem a oportunidade de trocar saberes e estabelecer relações sociais.
“Comecei como agricultor e hoje estou com uma banca que se chama ‘bolicho’, que revende alimentos orgânicos da indústria”, explica Rafael Dalla Costa, 48 anos. Formado como engenheiro agrônomo pela UFSM, ele experimentou a agroecologia na produção há cerca de dez anos. Desde então, passou a adotar os princípios desse modelo como filosofia de vida.
Rafael pontua que o objetivo da agroecologia está em se aproximar do que a natureza faz, ou seja, produzir com equilíbrio e sem substâncias químicas, como agrotóxicos e outros venenos. “Você faz o manejo e somente exporta o que você produz dentro da propriedade, não importa insumos”, complementa.
Um dos aspectos considerados nesse modelo é a sazonalidade das próprias plantas e culturas agrícolas. Segundo Rafael, levar essa compreensão para as pessoas é um dos aspectos mais desafiadores da feira. “Existe um estigma de que orgânico é mais caro. Às vezes não é, tem alimentos que sim, outros não, porque a gente segue a sazonalidade da produção”, pontua o engenheiro agrônomo.

Produtores
Produtor agroecológico em Dona Francisca, região da Quarta Colônia, Paulo Germano Busch, 45 anos, encontrou na feira um espaço para preservar os ensinamentos que cultiva desde a infância. Desde os anos 1980, a família de Paulo trabalha com princípios da agricultura orgânica e, em 2013, obteve a certificação oficial. Além de frutas, em especial cítricos, a família produz arroz agroecológico.
“É um movimento mais calmo, mas uma clientela mais fixa e que dá prioridade a esses produtos”, comenta o agricultor, sobre o movimento da Feira Ana Primavesi. De acordo com Paulo, o fato de ter relações com os clientes que fazem “toda a feira” no local é um diferencial que ajuda a sustentar financeiramente o modelo agroecológico.
Natural de São Paulo, Priscila veio para o Rio Grande do Sul em 2011. No sítio Casa das Luas, ela trabalha uma produção diversificada, o que inclui plantio de temperos, hortaliças e fruticultura. “A propriedade também recebe as pessoas para ecoturismo. Então, ciclistas, trilheiros e outras pessoas passam por lá”, acrescenta a produtora, que integra a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e tem mestrado em Geografia.

Brechó e livros
Junto com a comercialização de produtos agroecológicos, a Ana Primavesi estimula a economia circular. Priscila é uma das responsáveis por isso, ao promover um brechó para troca de roupas. Para ela, esse trabalho já é uma tradição que vem da adolescência e também envolve o contato com outras feiras em diferentes cidades.
A cultura e a literatura também estão presentes na feira, por meio de iniciativa do Setor de Atenção Integral ao Estudante (Satie), da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE). A cada 15 dias, diversos livros são disponibilizados para troca solidária, como parte do projeto “Livro Fora da Estante”.
“A ideia é criar esse espaço para democratizar o acesso à literatura para os estudantes e também para a comunidade”, explica Andreia Maria Zanoello, assistente social da Satie. A iniciativa também possui ligação com o Clube de Leitura que acontece todas as sextas-feiras, das 10h até às 12h, na sala de convivência da Biblioteca Central da UFSM.
“A gente discute sobre um conto, preferencialmente brasileiro, socializando ideias e opiniões. Fazemos pinturas e também temos um momento de lazer”, destaca Polyana Floriano, bolsista da Satie e estudante de licenciatura em Letras – Português. Segundo Andreia, essa troca de opiniões sobre literatura acaba por acontecer também na feira, com participação dos agricultores e do público.

Texto: Micael dos Santos Olegário, bolsista da Subdivisão de Divulgação e Editoração (SDE/PRE).
Revisão: Catharina Viegas de Carvalho, bolsista da Subdivisão de Divulgação e Editoração (SDE/PRE).