O Fórum Regional Permanente de Extensão ocorreu na tarde desta quinta-feira (16) no auditório Wilson Aita, localizado no Centro de Tecnologia (CT) da UFSM. O evento contava, inicialmente, com 234 inscritos, no entanto, o número se superou e, ao todo, quase 300 pessoas marcaram presença no evento.

O discurso de abertura do fórum foi realizado pelo Pró-Reitor de Extensão, Flavi Ferreira Lisboa. Logo após, a técnica em assuntos educacionais e servidora da Coordenadoria de Articulação e Fomento da Extensão (CAFE), Giséli Bastos, explicou o Censo da Extensão, realizado com dados do ano de 2024.
Durante sua fala, o Pró-Reitor de Extensão prestou agradecimentos a todas as equipes da Pró-Reitoria de Extensão (PRE) e também reforçou a intenção do Fórum Regional de Extensão. “O fórum é um espaço de diálogo e troca de experiências, reconhecendo a importância das comunidades e instituições que caminham conosco para a realização da extensão” relata o pró-reitor.

Após a abertura, teve início a programação de apresentações. Os resultados do Censo da Extensão foram apresentados pela servidora Giséli Bastos. Em seguida, a exposição de cinco projetos desenvolvidos pela extensão e, por fim, o debate e a votação sobre melhorias para a extensão.
Apresentação do Censo
O Censo Piloto da Extensão Universitária foi uma iniciativa conduzida pela PRE com o objetivo de mapear e avaliar o impacto das ações extensionistas realizadas em 2024. O estudo buscou compreender como a extensão tem contribuído para a formação dos estudantes e para a transformação social das comunidades envolvidas.
Segundo Giséli Duarte Bastos, técnica em Assuntos Educacionais da PRE e uma das responsáveis pelo levantamento, o Censo surgiu da necessidade de sistematizar dados que permitam um panorama mais preciso sobre o alcance e os efeitos das ações extensionistas. “A justificativa para a realização do Censo é justamente a ausência de informações organizadas que nos permitam compreender o impacto da extensão, tanto na formação dos estudantes quanto na transformação social das comunidades”, explicou a servidora.
Para a execução do Censo, foram selecionados 20 estudantes de graduação e pós-graduação da UFSM para atuarem como recenseadores. Eles visitaram entidades parceiras das ações de extensão fomentadas pela Pró-Reitoria em 2024. Coordenadores e estudantes vinculados às ações responderam a formulários eletrônicos.
As entidades localizadas em outros municípios foram contatadas por meio de reuniões virtuais, garantindo representatividade de diferentes regiões do Rio Grande do Sul. No total, o levantamento abrangeu 294 ações de extensão, das quais participaram ativamente do processo de coleta de dados 142 entidades, 72 estudantes e 68 coordenadores. “Escolhemos ações iniciadas em 2024 para garantir que já houvesse pelo menos um ano de contato com a comunidade, possibilitando uma avaliação mais completa dos resultados”, explicou Giséli.

Os dados sobre os perfis dos extensionistas revelaram um forte protagonismo feminino: a maioria dos estudantes e coordenadores das ações são mulheres. Entre os estudantes, predominam jovens de 21 a 25 anos, majoritariamente de graduação. Já entre os coordenadores, o perfil mais comum é de docentes acima de 40 anos.
Grande parte das ações ocorre em escolas, confirmando a relevância da parceria entre a universidade e o setor educacional. As respostas das entidades indicam envolvimento frequente e colaborativo com as equipes extensionistas, reforçando a presença ativa da UFSM nas comunidades.
Já a respeito sobre os impactos na comunidade, os resultados mostram que mais de 80% dos coordenadores percebem alto impacto das ações junto às comunidades. Entre os principais efeitos identificados estão: fortalecimento de vínculos, sentimento de pertencimento e mudanças subjetivas relacionadas a hábitos de saúde, meio ambiente e comportamento social. Em alguns casos, as ações contribuíram diretamente para o desenvolvimento econômico local, estimulando a autonomia e a geração de renda nas comunidades atendidas.
Na formação estudantil, os impactos também se mostraram expressivos. Do total, 93,1% dos participantes afirmaram que a extensão contribuiu muito para seu aprendizado, 83,3% relataram que desenvolveram habilidades e competências que não seriam adquiridas apenas com o ensino e a pesquisa, e 79% disseram que a experiência influenciou seus planos de carreira. As competências mais desenvolvidas foram organização e planejamento, pensamento crítico, empatia e trabalho em equipe.
“Descobri uma paixão por uma área da minha futura profissão que nunca havia cogitado seguir”, relatou uma estudante. “A experiência foi transformadora e humanizadora, mostrando a importância de sair da bolha acadêmica”, destacou outro participante do estudo.
Entre os desafios mais citados pelos participantes estão a falta de recursos financeiros e materiais, as dificuldades de transporte, deslocamento e gestão do tempo para conciliar atividades acadêmicas e extensionistas. Coordenadores também apontam entraves como excesso de burocracia, baixa participação estudantil e limitações de infraestrutura. As comunidades, por sua vez, sugeriram maior comunicação e devolutiva por parte da Universidade, além da necessidade de ações mais duradouras e contínuas. “A comunidade não quer apenas ser sujeito das ações, mas acompanhar os resultados e construir junto com a Universidade”, resumiu Giséli.
Com base nas análises do Censo, a PRE elencou uma série de compromissos e diretrizes futuras para fortalecer o papel da extensão na UFSM:
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- Instituir a realização periódica de novos censos ou instrumentos equivalentes;
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- Aprimorar os instrumentos de coleta e avaliação de dados;
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- Ampliar a visibilidade das ações extensionistas e a comunicação com a sociedade;
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- Promover formações continuadas para docentes, estudantes e entidades parceiras;
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- Facilitar o acesso aos editais e desburocratizar processos institucionais;
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- Criar um banco público de demandas das entidades, conectando-as com cursos e projetos da universidade.
O relatório também propõe mecanismos de devolutiva pública dos resultados das ações e maior transparência institucional, reforçando o compromisso social da Universidade.
Para Giséli, o Censo Piloto reafirma a potência da extensão como espaço de diálogo e transformação mútua. “O Censo revela uma universidade viva, plural e presente, que transforma e se deixa transformar. É na extensão que a UFSM encontra o sentido público da sua existência”, concluiu.
Logo após a apresentação do Censo da Extensão, o pró-reitor Flavi Lisboa anunciou o início da roda de projetos, momento dedicado à apresentação de cinco iniciativas de destaque vinculadas à PRE.
Projeto “Melhoria das condições acústicas em salas de aula de escolas públicas de Santa Maria, RS”
Criado em 2018 e coordenado pela professora Viviane Mello, o projeto de extensão “Melhoria das condições acústicas em salas de aula das escolas públicas de Santa Maria, RS” tem transformado o ambiente escolar de oito instituições de ensino de Santa Maria. O objetivo da ação é a adequação acústica, a melhoria do aprendizado, a sensibilização de docentes e o fortalecimento da relação da UFSM com a comunidade escolar. “A poluição sonora é a segunda maior poluente do planeta. Primeiro é a poluição do ar, depois vem a poluição do ruído e a água está em terceiro lugar. Os transportes têm provocado esses ruídos e a gente leva também essa discussão para as escolas”, destaca a coordenadora
Professora Viviane Mello, Graciele e Wellington.A ação é realizada por estudantes e professores da UFSM, em parceria com escolas e empresas que auxiliam na implementação das melhorias. Segundo Viviane, o projeto em si é muito técnico, pois eles vão às escolas e fazem avaliações arquitetônicas do espaço, medições acústicas, projetos de melhoria e entregam esse material para a direção da escola. Assim, eles mostram o que é preciso mudar nas estruturas daquelas salas. A professora também conta que o projeto recentemente firmou novas parcerias e já planeja a continuidade das ações para o próximo ano. Além disso, está em andamento a produção de um livro que reunirá a história das escolas envolvidas, suas características e o diagnóstico acústico realizado antes e depois das intervenções, registrando os resultados e aprendizados do trabalho.
A vice-diretora da escola Escola Municipal de Ensino Fundamental Renato Nocchi Zimmermann, Graciele, esteve presente no evento e destacou o impacto positivo do projeto. “Para nós é muito significativo, pois estamos em uma região marcada pelo preconceito e por certa resistência, vista muitas vezes como área de risco. Então, quando recebemos seis projetos de extensão da UFSM atuando aqui, sentimos que somos vistos, que a Universidade reconhece o nosso potencial”, afirmou.
Antes da intervenção da equipe, a escola enfrentava sérios problemas de ruído. Segundo Graciele, as salas de educação infantil e dos anos iniciais eram separadas apenas por uma divisória, o que tornava o ambiente extremamente barulhento e dificultava o aprendizado. “Quando o projeto chegou e ofereceu uma solução, ficamos maravilhados — era exatamente o que precisávamos”, completou.
O bolsista Wellington, estudante participante do projeto, relatou o quanto a experiência tem contribuído para sua formação acadêmica e pessoal. “A extensão existe para dar um propósito ao curso, abrir novos horizontes e ampliar o conhecimento. Ela me fez sair dos muros da universidade e enxergar o mundo lá fora. Entendi que muitas vezes o problema não é apenas acústico, mas estrutural. Ver as dificuldades dos professores nos fez refletir sobre o papel da universidade em oferecer soluções reais”, afirmou.
Projeto “Café com Letras — educação e direitos humanos”
O Café com Letras é uma ação de extensão vinculada ao Observatório de Direitos Humanos da UFSM, no âmbito do projeto Educação e Direitos Humanos. Realizado em parceria com a Associação de Materiais Recicláveis (Asmar), o projeto promove encontros semanais com trabalhadoras e trabalhadores da cooperativa, buscando fortalecer a alfabetização, a autonomia e o protagonismo social da comunidade.

Em novembro do ano passado, Margarete Vidal, uma das coordenadoras da Associação de Materiais Recicláveis, procurou o Observatório de Direitos Humanos da UFSM para iniciar uma parceria voltada à educação dos trabalhadores da cooperativa. O objetivo era simples: retomar o processo de alfabetização de pessoas que, por diferentes motivos, não haviam concluído seus estudos.
Com o semestre acadêmico já em andamento e poucos estudantes disponíveis, a professora e coordenadora do projeto, Jane Schumacher, foi até o território da Nova Santa Marta, onde conheceu um grupo de trabalhadores interessados em voltar a estudar. “Eles nos relataram os motivos pelos quais haviam deixado a escola e nós pensamos em como poderíamos ajudar. Eram pessoas que trabalhavam o dia inteiro com materiais recicláveis e, ainda assim, demonstravam grande vontade de aprender”, contou a professora.
O grupo encontrou uma solução para conciliar trabalho e estudo: as aulas aconteceriam no intervalo do café, período de 30 a 45 minutos diários. Assim nasceu o Café com Letras, um espaço de aprendizado, diálogo e fortalecimento comunitário, que completará um ano de atividades em dezembro. “Começamos com oito pessoas, nenhuma delas com o processo de alfabetização concluído. Aos poucos, mais trabalhadores foram se envolvendo e as conversas ultrapassaram o tema da leitura e da escrita. Passamos a discutir questões da vida, do trabalho e dos direitos de cada um”, relata Jane Schumacher.
Segundo Margarete, o desejo de iniciar as aulas surgiu da observação das dificuldades enfrentadas por colegas que não sabiam ler ou escrever. “Temos uma colega, a Adriana, que começou a namorar e precisava que alguém lesse as mensagens do celular para ela. Foi aí que percebemos o quanto era urgente aprender. Hoje, ela já escreve e manda mensagens sozinha”, comemora.
As aulas começaram oficialmente em 11 de dezembro de 2024, e desde então o grupo não parou mais. Um dos alunos mais marcantes é o senhor Márcio, de 50 anos, que pegou num lápis pela primeira vez durante o projeto. “Agora ele é quem ajuda os colegas nas atividades. É gratificante ver o quanto todos cresceram”, diz a coordenadora da Asmar.
A participante Bionda da Silva Stefano da Costa, trabalhadora da ASMAR e integrante do grupo Café com Letras, destacou o apoio recebido da professora: “Eu quis fazer a prova do Encceja, e ela me ajudou em todo o processo, até no dia da prova. Agora quero continuar estudando e seguir com os meus sonhos”, afirmou.
Além dos avanços individuais, a associação obteve conquistas coletivas, como doações da Receita Federal e da Polícia Civil, reforçando a importância do fortalecimento comunitário. “O projeto vai muito além de ensinar a ler e escrever. Ele garante direitos, amplia oportunidades e transforma vidas”, conclui a coordenadora do projeto.
Projeto “Coletivo Fluir”
O Coletivo Fluir, coordenado pela professora Fabiana Bridi, reúne 17 professores pesquisadores e envolve diretamente quatro escolas públicas de Santa Maria, impactando cerca de 500 crianças, famílias e professores. O projeto surgiu em meio às enchentes de maio de 2024, quando professoras do Centro de Educação, em parceria com o curso de Psicologia, iniciaram ações emergenciais em abrigos da cidade.

A professora Fabiana recorda que o grupo se deslocou até os abrigos para acompanhar a situação das crianças desalojadas e, a partir dessa experiência, surgiu a necessidade de continuidade. “O projeto nasceu de uma demanda social. Começou como uma ação emergencial e, com o tempo, se transformou em projeto de extensão, reunindo docentes de diferentes departamentos, atuando nas escolas e na formação de estudantes da graduação e da pós-graduação”, explica Fabiana.
Com o passar dos meses, o grupo consolidou-se como um coletivo intersetorial, atuando de forma sistemática nas escolas e criando o conceito de “territórios educativos”. O Território 1 trabalha diretamente com as crianças, suas famílias e a comunidade escolar; o Território 2 tem como foco a formação dos professores e demais profissionais da escola; e o Território 3 é voltado à formação de gestores e à reflexão sobre políticas públicas de educação.
A atuação é constante: quinzenalmente, a equipe visita as escolas e realiza atividades com crianças e professores, e, nas semanas intermediárias, reúne-se no Centro de Educação para planejar as próximas ações. “Cada encontro é resultado de um processo de escuta, partilha e planejamento coletivo”, explicam as integrantes do projeto.
A professora Márcia Cardona conta que participou do Fluir como doutoranda e, posteriormente, como professora da rede municipal. Segundo ela, muitas práticas desenvolvidas pelo coletivo foram incorporadas ao cotidiano pedagógico das escolas. “Hoje percebemos que as ideias pensadas no coletivo já estão inseridas nas práticas das professoras. Isso mostra o quanto o projeto fortaleceu o protagonismo docente e a defesa das infâncias”, destacou.
Daiana, cozinheira da EMEF Montanha Russa, também integra o Coletivo Andarilho, uma vertente do Fluir que estende as ações para além da escola, alcançando a comunidade. “A periferia precisa conhecer a UFSM e entender que esse espaço também é nosso”, afirmou, emocionada.
Projeto “Ações de educação popular em saúde acerca do HIV/Aids e doenças transmissíveis: enfoque na população chave e prioritária de Santa Maria/RS”
Coordenado pela professora Laís Caetano e desenvolvido em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Santa Maria, o projeto “Ações de educação popular em saúde acerca do HIV/Aids e doenças transmissíveis: enfoque na população chave e prioritária de Santa Maria/RS” atua na promoção da saúde, prevenção e desmistificação de preconceitos relacionados às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).

A enfermeira Márcia de Lima, especialista em gestão pública e servidora da Secretária de Saúde, parceira do projeto, destaca a ousadia e a abrangência da iniciativa. “A Laís é muito modesta ao falar da magnitude desse trabalho. Eles foram audaciosos, porque não se limitaram a uma comunidade específica — objetivaram o município inteiro. Quando chegaram na gestão e propuseram criar uma identidade para o serviço e alcançar a população de um jeito diferente, enfrentaram um grande desafio. E não baixaram a cabeça: superaram juntos”, afirmou.
Durante a pandemia de Covid-19, o grupo encontrou novas formas de se aproximar da comunidade. A criação de uma identidade visual e a presença digital, por meio de um perfil no Instagram, ampliou o alcance das ações e deu visibilidade nacional ao projeto. “A partir da potencialização das testagens rápidas aqui no município, passamos a existir. Pensamos em como chegar em populações vulneráveis, no trailer Testa Santa Maria também, e tudo partiu da extensão”, relatou Márcia.
O trailer “Testa Santa Maria” é uma iniciativa que surgiu a partir das provocações dos alunos extensionistas. O veículo realiza testagens rápidas para ISTs e ações educativas em espaços públicos, escolas, praças e até presídios, levando informação e acolhimento a populações em situação de vulnerabilidade. “Tudo começou com a sementinha da extensão. Os alunos nos desafiaram a pensar em como chegar à ponta, aos pacientes, de um jeito que fosse leve, acessível e impactante. E conseguimos”, contou Márcia.
O estudante Igor, acadêmico do 6º semestre do curso de Enfermagem, reforça o papel transformador da experiência extensionista. “Esse projeto é essencial para nós, acadêmicos, porque conseguimos levar conhecimento e, ao mesmo tempo, aprender com as pessoas. Trabalhamos com populações em situação de rua e enfrentamos o estigma diretamente, levando informações corretas sobre prevenção, tratamento e acesso ao cuidado”, relatou.
A bolsista Luana, também do 6º semestre do curso de Enfermagem, destaca a importância de abordar a temática dentro e fora da universidade. “Falar sobre HIV e outras ISTs ainda é um tabu, até dentro da sala de aula. O projeto nos motiva a quebrar esses preconceitos e mostrar que é possível viver com saúde e dignidade. Isso nos forma não apenas como profissionais, mas como cidadãos”, afirmou.
Ao longo dos anos, o projeto cresceu e consolidou uma articulação política e comunitária significativa. Em sua quarta edição, já participou de eventos nacionais e recebeu reconhecimento em diversas cidades brasileiras. Em 2025, a iniciativa ganhou reforço com uma emenda parlamentar da deputada Daiana Santos, que destinou um veículo para ampliar o alcance do trabalho no município. “Começamos com um sonho lá em 2019 e hoje temos um projeto de grande dimensão, com forte engajamento social e político. A extensão segue sendo o caminho para aproximar a saúde das pessoas e ouvir o que elas realmente precisam”, concluiu a professora Laís.
Projeto “Flores para todos”
O Flores para Todos é uma ação de extensão da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) que promove o cultivo de flores em pequenas propriedades rurais, oferecendo capacitação técnica, assessoria em comercialização e fortalecimento da agricultura familiar. Em São Vicente do Sul, o projeto conta com o apoio do PhenoGlad e com a dedicação dos produtores locais, como a equipe das Flores do Ibirokai, que transforma desafios em cores e esperança.
O projeto nasceu em um contexto desafiador, após enchentes e crises no setor agropecuário. “Nos últimos anos tivemos muitas dificuldades no campo, e o projeto surgiu como uma alternativa para nós. Criamos uma marca que carrega o nome da nossa localidade, Ibirokai, e tudo foi pensado para valorizar o território e a nossa história”, explica Francisco Lima, produtor integrante do projeto.
Francisco conheceu o projeto no início deste ano e, em março, realizou a primeira produção de flores na pequena propriedade de sua família, localizada na localidade de Ibirokai, interior de São Vicente do Sul. A iniciativa surgiu com o apoio e a assessoria técnica da equipe do PhenoGlad e do próprio projeto, ambos ligados à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
“Somos muito gratos pela oportunidade de conhecer o projeto. Nunca tínhamos produzido flores antes. A equipe tem uma expertise fantástica, e isso nos deu segurança para começar”, conta o produtor. “Queríamos diversificar nossa produção, fugir da monocultura e da exploração animal, e o projeto nos deu essa baita oportunidade de aprender novas cultivares e gerar mais uma fonte de renda para a propriedade.”
Atualmente, o projeto está cultivando estátices, a segunda espécie produzida na propriedade. A primeira etapa foi marcada pelos girassóis, que se tornaram símbolo do projeto. “O girassol tem um significado muito forte para nós. Ele representa luz, força e renovação. Acreditamos que, além de alimento para o corpo, o mundo também precisa de alimento para a alma. Produzir flores é isso: alimentar o espírito, inspirar e fazer sorrir”, reflete Francisco.
O trabalho vem crescendo e ganhando visibilidade na região. “As flores têm sido muito bem aceitas. Nosso objetivo é ser fornecedor, mas, se o público final quiser comprar, claro que vendemos. O mais importante é o propósito: produzir beleza, espalhar alegria e manter o campo vivo”, afirma.
A estudante de Agronegócio Luana Medeiros, bolsista FIEX orientada pelo professor Nereu Augusto Streck, também participa do projeto e acompanha de perto a produção. “Sou responsável pela parte de marketing das redes sociais e também atuo em campo, junto aos produtores. O Projeto Flores para Todos trabalha com cinco espécies: girassol, dálias, ornithogalum, gladíolos e estátices”, explica.
Para Luana, a experiência na extensão tem sido uma das mais significativas da formação. “A gente vê de perto a realidade do produtor, as dificuldades e os aprendizados. É uma vivência incrível, que nos ensina tanto quanto ensina a eles. A extensão transforma, e ver as flores brotando é ver também o resultado desse trabalho conjunto”.
Roda de conversa sobre extensão universitária
Durante a roda de conversa sobre extensão universitária, professores, estudantes e representantes da comunidade compartilharam experiências e reflexões sobre o papel da universidade na transformação social. O debate reforçou a importância da escuta ativa e da presença constante nos territórios como pilares da atuação extensionista.
Moradora da Nova Santa Marta, uma das participantes emocionou o público ao destacar a importância da presença da universidade em territórios mais afastados do centro. “Muitas vezes dizem que é longe demais. Eu venho de lá todos os dias e sei bem das dificuldades. A Nova Santa Marta é uma comunidade cheia de vida, de talentos e histórias para compartilhar. Quando a universidade chega até nós, ela não leva apenas conhecimento, ela traz reconhecimento, escuta e esperança. É dessa presença, dessa troca verdadeira, que a gente mais precisa”, relatou.
Docentes da área da saúde ressaltaram que a extensão deve ser compreendida como prática transformadora e contínua, que vai além da coleta de dados e se consolida como troca de saberes e experiências. “A extensão é fundamental nesse princípio: é a partir dela que construímos ensino com respeito e impacto. Colocar o pé no território é trabalhar com a comunidade — não apenas usá-la como campo de pesquisa”, afirmou uma professora.

O Pró-Reitor de Extensão, Flavi Ferreira Lisboa, também trouxe contribuições sobre como ampliar os espaços de escuta e envolvimento social. Para ele, é essencial que técnicos e docentes participem de forma ativa da vida comunitária, mesmo fora de projetos formais. “Existem associações de bairro, entidades locais e espaços de diálogo. Precisamos estar presentes nesses ambientes para ouvir e aprender. A universidade ainda é pouco vista nesses lugares — e isso precisa mudar”, observou.
A fala do professor Flavi complementou o debate ao destacar a importância da visibilidade das ações universitárias. Segundo ele, a universidade realiza diversas atividades de impacto, mas, muitas vezes, deixa de comunicá-las amplamente. “A universidade faz muito, mas não conta o que faz. E é por isso que as pessoas perguntam: ‘o que a universidade faz?’. Precisamos mostrar nossas ações, mostrar que estamos aqui para as comunidades. A universidade é pública, e o que fazemos é para todos”, enfatizou.
Ao final do encontro, os participantes convergiram na ideia de que a extensão universitária é o elo que humaniza o conhecimento, aproximando ensino, pesquisa e sociedade. A partir da escuta e da vivência nos territórios, a UFSM reafirma seu compromisso com uma formação crítica, solidária e transformadora.

Texto: Maria Lúcia Homrich Gotuzzo e Laura Waechter Severo, bolsistas da Subdivisão de Divulgação e Editoração (PRE/UFSM).
Revisão: Catharina Viegas de Carvalho e Valéria Luzardo, bolsistas da Subdivisão de Divulgação e Editoração (PRE/UFSM).