Por Grupo de Pesquisa Cuidar_Com – Crise, comunicação e cultura do cuidado (PPGCOM/PUCRS)
Um ano após o maior desastre vivido no Rio Grande do Sul, são muitos os diagnósticos acerca daquilo que não foi ou poderia ter sido feito de diferente nos mais de 30 dias da inundação que afetou mais de 2 milhões de pessoas no Estado. No entanto, entre tantas áreas do conhecimento convocadas ao debate público, há um aspecto pouco abordado – para não dizer totalmente desconsiderado: a comunicação.
Não aquela comunicação que apenas transmite, divulga, alerta. Mas aquela que escuta, dialoga e prioriza o outro nas suas diferentes formas de interpretar informações, perceber riscos e agir diante de um perigo iminente.
Em maio de 2024 todas as práticas comunicacionais do poder público foram testadas. Especialmente na comunicação do risco, se mostraram insuficientes. Onde estamos falhando? Talvez na ausência ou insuficiência de uma dimensão humana cada vez mais urgente e necessária na sociedade: o cuidado.
Para além da crítica, é hora de propor um novo olhar para essa questão. É preciso encarar a comunicação em toda a sua transversalidade, como fator sistêmico e estratégico na elaboração de políticas públicas voltadas à prevenção e contenção de desastres.
Como fazer? Considerando a comunicação enquanto ciência. Aliando teoria e prática para promover o diálogo e a construção comunitária de estratégias que façam sentido para as pessoas, na medida em que as orientem sobre os riscos e as ensinem como se proteger levando em conta as suas realidades.
Esse é o objetivo do Cuidar_Com, grupo multidisciplinar de pesquisadores da PUCRS que compreende a comunicação a partir da perspectiva da cultura do cuidado, como sinônimo de atenção e compreensão das necessidades e contextos envolvidos em cenários de riscos e momentos de crise.
Acreditando na autonomia e capacidade do ser humano de se adaptar para enfrentar as adversidades, o propósito do Grupo é uma comunicação cocriada com as comunidades, que se viabilize pela ideia de corresponsabilidade e cuidado coletivo.
Comunicação é estratégia, é metodologia que materializa o cuidado e que define a efetividade da ação preventiva e de mitigação de danos.
Entretanto, enquanto não figurar nos comitês científicos, ocupando uma cadeira e não apenas registrando os fatos para a posterior divulgação, as outras áreas do conhecimento continuarão amargando as consequências de não conseguirem mobilizar a sociedade para os verdadeiros riscos a serem enfrentados.
Diante dos eventos socioambientais cada vez mais frequentes, muitos deles provocados pelas mudanças climáticas, comunicar de forma instrumental e reativa, no sentido mais unilateral da palavra informar, é seguir contando corpos de vítimas fatais e calculando prejuízos materiais irrecuperáveis. Comunicação é muito mais do que isso, e precisa de cuidado.
*Grupo de pesquisa do PPGCOM/PUCRS, cadastrado no CNPq e voltado para produção de conhecimento científico sobre as organizações no contexto de riscos e crises visibilizadas no ambiente digital. Foco na análise da presença ou ausência de marcadores do cuidado nos diálogos e nas estratégias comunicacionais. Contato: cuidarcompesquisa@gmail.com
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