Por João Fortunato (Jornalista, Mestre em Comunicação e Cultura Midiática e especialista em Gestão de Crises e Media Training)
Mais um caso de racismo em uma escola de elite de São Paulo. A vítima é uma criança preta, bolsista, matriculada em uma das instituições mais tradicionais da capital. Neste momento, ela segue internada — primeiro em um hospital público, agora em um particular, com os custos cobertos pela própria escola. A polícia, acionada desde o início, não descarta a possibilidade de tentativa de suicídio. Já se sabe que a criança era alvo constante de bullying praticado por colegas.
Infelizmente, não é um caso isolado. Está longe de ser o primeiro, o segundo ou o terceiro. São episódios recorrentes, e alguns deles já terminaram em tragédia — com o suicídio de uma das vítimas. Diante desses fatos, as respostas institucionais seguem um roteiro repetido, previsível e ineficaz: “A escola não tinha conhecimento”, “Estamos prestando apoio à família”, “Estamos apurando os fatos e punindo os responsáveis”, “Faremos palestras sobre racismo”. Ações necessárias, sim — mas que, quando chegam depois da tragédia, servem apenas como contenção de danos e tentativa de proteger a imagem da instituição.
Na gestão de crises, a prevenção é o eixo central. Não por formalismo, mas por estratégia. Detectar riscos antes que virem tragédias é essencial para preservar vidas, reputações e a integridade das instituições. A crença de que “aqui isso nunca aconteceu” é uma armadilha perigosa. É confiar na sorte, torcendo para que o azar nunca chegue. Essa postura ainda é comum — mas não deveria mais existir.
Todas as escolas, com ou sem bolsistas, com ou sem alunos pretos, LGBTQIA+ ou com deficiência, devem implementar — desde o início do ano letivo — programas permanentes de educação para a diversidade e inclusão. É fundamental cultivar, desde cedo, valores como empatia, respeito e tolerância. E, se possível, incluir também as famílias. Muitas crianças já chegam à escola com visões de mundo moldadas por seus lares, onde preconceitos muitas vezes se reproduzem sem questionamento.
A urgência é clara. Já passou da hora de acabar com a complacência diante de racismo, bullying, homofobia e xenofobia nas instituições de ensino — públicas e privadas. A resposta precisa ser firme, preventiva, contínua. E isso inclui, também, um olhar atento sobre o uso das redes sociais, que frequentemente funcionam como amplificadores da violência escolar. Escolas e famílias precisam orientar alunos e filhos sobre os riscos e responsabilidades nesse ambiente.
Mas essa não é uma tarefa exclusiva das escolas. Cabe ao poder público — municipal, estadual e federal — assumir a liderança. É preciso criar e implementar programas robustos, permanentes e articulados, com o apoio das entidades civis ligadas à educação. O Ministério da Justiça pode coordenar esse esforço, com participação ativa dos Ministérios da Educação, dos Direitos Humanos e da Igualdade Racial.
Nada mudará sem vontade política real e pressão social consistente — especialmente vinda de líderes de opinião, pessoas reconhecidas e respeitadas, capazes de influenciar decisões e mobilizar a sociedade. A inércia que ainda predomina é cúmplice do sofrimento e da dor que se repetem. E isso precisa, urgentemente, ter fim.
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