Por Rosângela Florczak (Professora da PUCRS. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Cuidar_Com – Comunicação, Crise e Cultura do Cuidado)
O mês de novembro começou, no Sul do Brasil, com uma sucessão de alertas dos serviços meteorológicos e dos órgãos de proteção e defesa civil. Um ciclone estava a caminho e prometia alto poder de destruição. Repercutidos por governos estaduais e municipais, esses comunicados traziam consigo um elemento central que caracteriza esse tipo de situação: a mais profunda incerteza.
Em um processo forçado de letramento para desastres, a população já não duvida de que o evento ocorrerá, mas se vê diante de uma infinidade de dúvidas que permeiam as conversas cotidianas e, por consequência, a construção de estratégias individuais e coletivas de gestão dos riscos.
Assim como os cidadãos, as organizações públicas, privadas e comunitárias também enfrentam a dúvida. No século da automação, da inteligência artificial e das soluções tecnológicas sofisticadas, a natureza nos coloca novamente em nosso devido lugar, revelando o quanto ainda somos incapazes de precisar informações vitais para nossa proteção: quando, onde e com que intensidade?
Os comportamentos diante da incerteza se diversificam. Há o medo e o pânico que paralisam, especialmente entre aqueles que já viveram desastres recentes, mas há também lideranças que começam, ainda que lentamente, a vencer a incredulidade. Persistem os que fazem piadas com os alertas ou preferem apostar no otimismo, mas cresce o número dos que planejam múltiplos cenários e respostas possíveis.
No âmbito governamental, prefeitos e governadores parecem ter aprendido com os eventos de 2023 e 2024 e agora se posicionam como porta-vozes legitimadores dos órgãos de defesa e proteção. Nas empresas, planos de contingência começam a ser ativados, e nas comunidades cresce a consciência de que será preciso ir além das ações do poder público para enfrentar o desespero que se renova a cada novo episódio.
Entre a inundação de 2023, no Vale do Taquari (RS), o desastre de 2024 que atingiu mais de 90% do Rio Grande do Sul e o tornado que devastou Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná no dia 7 de novembro de 2025, muitos outros eventos menores ocorreram em poucos anos. Corpos e histórias vêm sendo recolhidos entre os destroços, testemunhando nossa vulnerabilidade. Ninguém sabe quando nem onde ocorrerão os próximos desastres, mas todos sabemos que continuarão acontecendo. É hora de encarar esse novo comum e preparar as pessoas para viver nele.
____
Artigos assinados expressam a opinião de seus autores.