Reportagem: Amanda Teixeira
Quando pensamos em acessibilidade, as imagens que vem primeiro à mente são de rampas de acesso, vagas em estacionamentos e calçadas apropriadas. Porém, a inclusão vai além do espaço físico: também está nas imagens, nos sons, nas palavras e em toda forma de comunicação que circula diariamente. No Brasil, há mais de 14 milhões de pessoas com deficiência, o que representa 7,3% da população com dois anos ou mais, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conforme os dados divulgados, a maior parte deste número possui dificuldades para enxergar, totalizando mais de 7 milhões de brasileiros, mas as necessidades são variadas e individuais. Então, como garantir que todos tenham acesso pleno à informação?
A jornalista formada pela UFSM, Júlia Vasques, abordou a temática como central em seu Trabalho de Conclusão de Curso, no qual estudou a acessibilidade comunicacional em podcasts de jornalismo diários. Seu objetivo foi entender quais produtos oferecem ferramentas para pessoas com deficiência visual e auditiva, em episódios publicados na plataforma Spotify. Segundo ela, a falta de recursos está relacionada com a rotina de trabalho diário: “Eu acho que o pensamento da acessibilidade comunicacional e da acessibilidade em geral vem muito de um ponto de empatia, que a gente perde na sociedade capitalista quando a gente pensa em produção máxima”.
A escolha do tema não foi por acaso. Durante a graduação, Júlia cursou uma disciplina voltada para acessibilidade e percebeu a dimensão da exclusão causada pela falta de recursos básicos, como legendas, descrição de imagens ou linguagem simples. Para ela, a maior barreira que precisa ser superada é o estigma de que este é um trabalho desnecessário na área. “A gente tem um potencial muito grande de aplicar a acessibilidade dentro de coisas que a gente já faz. A gente já faz uma notícia na internet, então por que não usar uma linguagem clara? Por que não fazer a descrição dessa imagem? A gente publica reels e o Instagram faz legenda automática, por que que a gente não põe essas legendas?”
A acessibilidade comunicacional já está prevista na Lei Brasileira de Inclusão, que garante recursos como Libras, legendas, audiodescrição e formatos digitais acessíveis. Porém, a falta de conscientização sobre o assunto pode ser uma dificuldade para colocar a legislação em prática: “a gente tem um pouco dessa conscientização na escola, mas eu acho que tem que ser muito maior pra um dia a gente poder ter isso implementado dentro da comunicação”, afirma a jornalista. Mais do que cumprir uma lei, trata-se de reconfigurar prioridades: colocar a inclusão no centro da produção jornalística, digital e social, garantindo que todos tenham acesso às informações, independente do formato.
Série de reportagens
Ao longo dessa série de reportagens, exploramos como diferentes recursos e iniciativas estão abrindo caminhos para que mais pessoas possam ter acesso pleno à cultura, à saúde e ao conhecimento. Na primeira matéria, conhecemos a audiodescrição, ferramenta essencial para que pessoas cegas ou com baixa visão possam transformar imagens em palavras. Depois, acompanhamos a trajetória de uma DJ com deficiência auditiva que encontrou na música uma nova forma de se expressar e exploramos um projeto do PET odontologia que divulga informações sobre saúde bucal em Libras. Por fim, falamos sobre um projeto do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM) que desenvolve Sistemas Eletroeletrônicos voltados à Tecnologia Assistiva.
Acesse a série:
- Batidas que falam por si
- Para todos verem
- Saúde bucal sem barreiras
- Inovação e Acessibilidade em Tecnologias Assistivas de Baixo Custo